Mudanças travam empréstimos
Os microempresários goianos estão tendo dificuldade para levantar crédito no Banco do Povo – programa de geração de emprego e renda do governo estadual. Desde janeiro, os recursos não são liberados por conta da atualização do sistema operacional e mudanças da política de gestão das linhas de crédito.
O número exato de interessados à espera de recursos no Estado não é divulgado oficialmente. Estima-se, porém, que pelo menos 5 mil solicitaram financiamentos de R$ 500,00 a R$ 10 mil, entre março a junho deste ano, nos 211 postos do Banco do Povo em Goiás, conforme a média de outros anos.
Entre eles está o comerciante Reginaldo Correia da Silva, de 43 anos, de Minaçu, no Norte Goiano. Ele aguarda desde janeiro a liberação de R$ 10 mil para ampliar sua loja de variedades. “O investimento fica parado, esperando a liberação desse crédito.”
Reginaldo justifica sua espera pelo crédito do Banco do Povo pela vantagem do programa em relação ao mercado. “O juro, de 0,25% ao mês, é o menor do mercado. Por isso fico esperando. Vou todo dia na agência aqui de Minaçu e eles informam que o recurso existe, mas que não podem liberar ainda.”
A atual taxa de juros está em prática desde maio deste ano. Antes, era de 0,6% ao ano. A mudança foi anunciada pela Secretaria de Gestão e Planejamento de Goiás (Segplan-GO), durante o lançamento do Credi-Pai Financiamento Popular. Mas, desde o lançamento, a nova taxa ainda não foi aplicada.
Além das alterações dos juros, o governo também prolongou o prazo de 18 para 36 meses e a quantia máxima para empréstimo, de R$ 4 mil para R$ 10 mil. Microempresários das maiores cidades do Estado dizem que o programa está desarticulado, principalmente no interior, e ainda faltam funcionários.
“Eles não informam o que está ocorrendo. Mas suspeito que não haja recursos para fazer os empréstimos”, avalia o microempresário de Goianésia, José Ribeiro da Silva, de 38 anos, que pretende pegar um empréstimo de R$ 5 mil para comprar mais equipamentos para sua lanchonete.
Temporária
O superintendente do Banco do Povo, Osmar Antônio de Moura, reconhece a suspensão temporária de recursos pelo Banco do Povo e anuncia a normalização da liberação das linhas de créditos a partir da segunda quinzena deste mês. “Estamos trabalhando para isso”, garante.
Segundo ele, o fundo de financiamento do programa, criado no fim do ano passado, está em processo de regulamentação. Além disso, 274 agentes de crédito estão sendo capacitados e um novo sistema de controle e acompanhamento, implantado.
“O fundo está sendo reestruturado em todo o Estado, por isso não estamos liberando créditos. Os microempreendedores estão sendo avisados sobre a situação e ninguém será prejudicado por isso. Todos os que procuram estão sendo cadastrados. A nova orientação virá para melhorar o serviço”, diz Osmar de Moura.
Mesmo sem liberar o crédito nos seis primeiros meses do ano, o superintendente diz que a estimativa de atender 12 mil contratos, com a liberação de R$ 20 milhões, em 2013, será mantida. “Vamos atender todos aqueles que nos procuraram neste período.”
Em 2012, o Banco do Povo emprestou R$ 12 milhões para 5 mil microempreededores em Goiás. Desde 1999, quando foi criado, foram repassados R$ 176,3 milhões, para 99,1 mil contratos, gerando 129.146 empregos.
Avaliação
O economista Sandro Monsueto, coordenador do Curso de Economia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador do mercado de trabalho, explica que um dos principais pontos positivos do programa de crédito é a menor burocracia para o acesso aos recursos.
Segundo ele, o programa tem um grande efeito multiplicador. O professor explica que essas pessoas que são empregadas nesses negócios, vão consumir mais, principalmente no comércio e serviço de seus bairros. Esses recursos acabam voltando para o próprio microempreendedor que gerou os empregos, pois seus produtos ou serviços também passam a ser mais demandados no mercado.
Mas Sandro Monsueto lembra que o programa de microcrédito ainda precisa investir mais na parte de acompanhamento do negócio, para ajudar a garantir o sucesso do microempreendedor, que geralmente não tem experiência em administração da empresa. “Precisamos de mais programas de educação financeira e gestão do negócio, pois a pessoa não pode confundir o dinheiro da empresa com o de suas finanças pessoais”, alerta o economista.