Carta curinga no PT
Na reta final do prazo de filiações de pré-candidatos às eleições do próximo ano, que termina em 5 de outubro, o cenário em Goiás mostra que os partidos de modo geral não se empenharam em buscar nomes que representam renovação e com perfil que se encaixe nas reivindicações dos eleitores, especialmente aquelas levantadas durante as manifestações populares em todo o País, que tiveram seu ápice em junho.
Fora uns poucos nomes para a disputa proporcional, as siglas se mantêm focadas nos seus velhos personagens, mostrando não ter sido sensíveis às cobranças da população por renovação.
Nesse cenário, faz sentido o PT destacar a filiação do reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Edward Madureira, que entra no partido para disputar cadeira na Câmara dos Deputados, mas é considerado peça importante na mesa de negociações para a definição da chapa majoritária no ano que vem.
O PT, que tem feito articulações discretas e movimentações nos bastidores, enquanto o PMDB expõe suas divisões, vê em Edward uma alternativa para apresentar lá na frente, no período de definição das candidaturas. Os petistas e o próprio reitor ressaltam que hoje o objetivo não é esse, mas seu nome é considerado, por representantes de todas as tendências do PT, uma espécie de curinga para a corrida eleitoral.
Já há alguns meses, os petistas viram no cenário de incerteza da principal sigla da oposição, o PMDB, uma oportunidade de se colocar no jogo como protagonista e, a partir disso, pisou no acelerador na busca de estratégias para se fortalecer. A falta de consenso no partido aliado incentivou as articulações petistas.
As conversas com Edward foram nesse contexto. E se antes o partido tinha dois nomes apontados como cotados para a disputa ao governo, dos prefeitos Antônio Gomide (Anápolis) e de Paulo Garcia (Goiânia), agora são três. E o terceiro chega, embora sem experiência política, com aspectos considerados positivos, como menos arestas e um perfil mais próximo da atual conjuntura política.
Chega também para ser alternativa diante das dificuldades que os outros dois enfrentam. O segundo mandato de Paulo Garcia ainda patina e o tempo é curto para que a gestão se destaque a ponto de o prefeito ter força para uma disputa ao governo. Já Antônio Gomide mantém grande aprovação popular e uma gestão bem avaliada, mas enfrenta resistências dentro do PMDB, especialmente por parte de Iris Rezende. Ele se queixa de pouco empenho de Gomide na sua campanha em 2010 em Anápolis, onde perdeu para Marconi Perillo, apesar da boa popularidade do prefeito petista.
Edward, que teve uma gestão de destaque na UFG e tem liderança nacional na área de educação, entra para reforçar o partido no jogo. As lideranças da sigla ressaltavam no evento na semana passada que não são nomes “apenas para falar que tem”, mas com envergadura e perfis de peso para a disputa.
É exatamente na questão dos perfis que o PT quer trabalhar para convencer a oposição, em uma articulação que hoje parece utópica, já que é muito improvável que PMDB abra mão da candidatura ao governo. É bom lembrar que o partido de Iris teve chapa pura em três eleições majoritárias seguidas, abrindo mão de uma vaga ao Senado apenas em 2010, quando avançou a aliança com os petistas que havia se consolidado na capital.
O PT acha que pode se beneficiar do clima de cobrança popular por renovação. Considera que uma candidatura competitiva do partido quebraria a desgastada polarização entre PMDB e PSDB e ainda representaria uma resposta mais adequada às ruas por conta dos perfis oferecidos pela sigla em comparação com as opções do PMDB. Especialmente em um cenário de crescimento do empresário Júnior do Friboi dentro do PMDB, petistas consideram que o partido teria argumentos e apoio popular para se inserir na disputa ao governo.
Edward chegou com discurso de defesa de projetos, afirmando que não é hora de discutir nomes, e levantando as bandeiras de ética, responsabilidade com recursos públicos e, por óbvio, da educação. No evento de estreia na política, mostrou força enchendo o auditório Costa Lima, da Assembleia Legislativa, com professores e servidores da UFG, muitos vindos em caravanas do interior, além de representantes de todos os partidos da oposição.
Bem ao seu estilo moderado, conciliador e discreto, apenas riu diante da meia dúzia de cartazes que diziam “Edward governador” durante o evento de filiação. Nega planos de alçar voos mais altos. Mas é considerado, sim, uma carta na manga do partido no jogo para 2014.
Fuente: O Popular