“Entro na política para ajudar a melhorar o PT e a sociedade”

Maior conquista do Partido dos Trabalhadores para 2014, o reitor da Universidade Federal defende o governo Dilma e sua reeleição e diz que chega à sigla “para somar”
Fernando Leite/Jornal Opção

Ele foi, sem dúvida, a maior novidade em ter­mos de filiação que a corrida eleitoral causou em Goiás. Depois de dois mandatos bem-sucedidos à frente da Universi­dade Federal de Goiás (UFG), o reitor Edward Madureira Brasil as­sinou a ficha do Partido dos Traba­lha­dores e será um dos trunfos do partido para as eleições do próximo ano. Entraria como um dos puxa­do­res de voto à Câmara dos Deputa­dos, mas muitos analistas avaliam que ele teria condições para pensar mais alto, na disputa ao Senado ou mesmo na sucessão de Marconi Perillo (PSDB) no governo do Estado.

Com o comedimento que lhe é característico, o professor Edward — ele não abandonou a sala de aula nem ao se tornar reitor — se coloca como alguém que chega ao PT “para trabalhar e para somar”. Parece discurso de jogador de futebol ao ser contratado, mas uma coisa é certa: o reitor e agora petista gosta de trabalhar em grupo e não se deixará levar pela tentação de ser candidato de si próprio, um mal que costuma afetar políticos afeitos em demasia ao poder. Ele leva em consideração o fato de o PT passar por um desgaste ético, mas observa: “Não sei se conseguiríamos separar um partido que estivesse livre, isento de questões relativas à corrupção. Não vejo nenhum partido que esteja imune a pessoas oportunistas e que fazem mau uso dos recursos públicos.”

Com gestão aprovada por pra­ti­camente 100% da comunidade univer­sitária — a ponto de não ter tido concorrente à reeleição e com o mesmo tendo ocorrido na cam­panha de seu auxiliar, o pró-reitor de Administração e Finanças da UFG e reitor eleito, Orlando Amaral —, Edward ressalta que entre as próximas conquistas da universidade está o novo bloco do Hospital das Clínicas, com 600 novos leitos, e o primeiro curso de doutorado com nível de excelência internacional (nota 6), na avaliação da Coorde­nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Nesta entrevista ao Jornal Opção, o reitor defende a estrutura multicampus que a UFG adota e percebe um grave gargalo na educação brasileira, uma lacuna “terrível” no ensino médio. “É um pro­blema na­cional: menos da metade dos jovens chegam ao ensino médio e, dessa meta­de, outra metade se perde durante esse per­curso”, diz.

Elder Dias — O sr. é saudado como uma boa novidade para a política goiana e um grande nome para as próximas eleições. Como pode ser avaliada essa receptividade?
Meses atrás, a receptividade à minha ainda possível entrada na política foi muito positiva. Diversas agremiações partidárias e diversos grupos dialogaram sobre isso. Uma coisa comum nessas manifestações foi essa avaliação positiva em relação a meu nome. Talvez isso se deva muito à forma com que procuramos trabalhar na Universidade Federal de Goiás, com um diálogo muito franco e aberto com todos os políticos, bem como com todos os segmentos da sociedade, procurando fazer uma administração bastante transparente e integradora. Tentamos fazer com que as pessoas se sentissem parte de um processo em construção. Em uma universidade não poderia ser diferente, porque é uma instituição suprapartidária e precisa interagir com todos. Então, creio que esse bom relacionamento no meio político, no meio empresarial, no meio dos movimentos sociais, tudo isso que a gente procurou construir talvez reflita nessa receptividade. Chego à política para somar e para dialogar com todos.

Elder Dias — Por que o PT?
Deixei isso de forma muito evidenciada em meu discurso de filiação. A razão maior de ir para o PT é para preservar um valor que estimo muito: a coerência com a trajetória. Apesar de toda essa construção, com todos os partidos, alguma visibilidade que tive durante esse período é muito por fruto de uma política de educação superior implantada pelo governo Lula e mantida pelo governo Dilma. Todos podem perceber o avanço, tanto no aspecto físico como na questão dos quadros, da universidade federal, sua inserção no dia a dia da sociedade. Tudo isso foi por causa de políticas trabalhadas com o governo federal. Algumas delas eu até ajudei, como dirigente da Andifes [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, entidade da qual Edward foi vice-presidente por dois mandatos], a formular de alguma forma, dando certa contribuição ao aprimoramento de políticas para o setor. Por isso tudo, soaria muito estranho se eu estivesse em uma agremiação partidária que não fosse perfeitamente alinhada com o governo federal e com todo o trabalho feito pelos ministros Fernando Haddad e, agora, Aloizio Merca­dante [ambos da Educação].

 

Cezar Santos — O PT é dividido em alas e facções. O sr. está próximo da Articulação, do prefeito de Goiâ­nia, Paulo Garcia? Há essa preferência?
Não é bem assim. Ingressei no partido, mas ainda não defini internamente nenhuma tendência para estar junto visando a campanha de 2014. Claro que tenho uma ligação muito próxima ao prefeito Paulo Garcia, que é professor da UFG e com quem fiz algumas ações conjuntas, entre a universidade e a administração municipal. Da mesma forma, tenho livre trânsito com o grupo de que fazem parte a deputada federal Marina Sant’Anna, o ex-prefeito Pedro Wilson e o subsecretário de Relações Interinsti­tu­cionais da União, Olavo Noleto [os três são da tendência Movimento Cerrado], bem como em relação ao deputado federal Rubens Otoni e do prefeito de Anápolis, Antônio Gomide [ambos do movimento PT Pra Vencer], e ainda o do deputado estadual Mauro Rubem [da Tendên­cia Marxista]. Quero primeiro conhecer o partido. Logo depois que eu deixar a Reitoria da UFG, vou me dedicar a isso, de forma rápida, para pensar na definição de uma tendência da qual eu me aproxime de forma efetiva.

Elder Dias — O sr. conhece o PT, mesmo sem ser filiado, há muito tempo e sabe que é um partido que tem tradição de discussões internas. O sr. acredita que a escolha de uma tendência possa influenciar decisivamente em uma postulação que o sr. tenha para 2014?
Apesar de conviver com pessoas do PT há muito tempo, desde que eu era diretor da Escola de Agro­nomia da UFG e de forma mais intensa depois que eu assumi a Reitoria — o deputado federal Rubens Otoni, por exemplo, foi uma pessoa que me orientou muito em meus primeiros passos dentro do Congresso Nacio­nal em busca de recursos para a universidade —, posso dizer que conheço muito pouco o partido por dentro, nessa questão da forma de organização. Acredito que isso seja algo que deva se reproduzir em todos os partidos, embora não com essas nomenclaturas e essas características que tem o PT. A universidade é um ambiente em que o debate é exercitado à exaustão todo o tempo e penso que isso sempre ajuda a formar consensos e opiniões que fazem avançar. Ainda não tomei nenhuma decisão a nenhuma tendência e posso, também no campo das hipóteses, dizer que essa decisão pode até mesmo de não seguir nenhuma tendência até a eleição, a partir do que eu avaliar, já que não há imposição ou obrigação no PT de ser vinculado a alguma tendência para se candidatar.

Frederico Vitor — O eleitor goiano parece saturado e algumas pesquisas indicam que ele quer o “novo” para governá-lo. O sr. estaria pronto para uma eventual candidatura ao governo de Goiás pelo PT?
Creio que essa seja uma especulação que às vezes começa com uma brincadeira de alguns amigos ou de uma avaliação do quadro feita por algumas pessoas que enxergam essa possibilidade com meu nome. Mas quero deixar bem claro para todos que eu entrei no PT para trabalhar e para somar. Como eu disse na minha filiação, o objetivo principal é buscar a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Acredito que os avanços que tivemos no Brasil nesses dez anos de governo do PT vão para muito além das questões da educação. Basta citar o fato de que 40 milhões de pessoas saíram da linha de pobreza. É um dado que não precisa de muito mais do que ele próprio para entender o porquê de minha filiação. Meu compromisso, portanto, é com esse projeto. Estando no PT, uma candidatura vai depender de muitos fatos que vão transcorrer até essa definição. Estarei pronto para ajudar o partido naquilo que o partido determinar. Inclusive para não ser candidato a nenhum cargo, se assim o PT entender que será melhor. Coloco-me à disposição e absolutamente alinhado com aquilo que for discutido. Logicamente, quero participar dessa discussão e contribuir com ela. Sobre eu me sentir preparado ou não, é difícil dizer, é um ambiente completamente novo para mim. Sempre acredito que o que faz a diferença é a equipe que se coloca para executar. O papel do líder, do governante, é importantíssimo no sentido de ditar os rumos. Sobre a execução, qualquer dirigente — seja na universidade, na prefeitura, no governo, ou na Presidência da República — sabe que o que faz o governo andar são as competências que estão em cada pasta.

Frederico Vitor — Mas o sr. concorda com essa visão de que o eleitor goiano quer uma experiência nova, com alguém que tenha novos projetos?
Acho que isso é do eleitor brasileiro. As ruas de junho mostraram uma insatisfação com a classe política e com as instituições. Isso é positivo, pois mostra que o eleitor está vivo e atento, que as pessoas estão clamando por mudanças nos serviços públicos, na mobilidade urbana, na saúde e na educação e contra a corrupção, que foram os grandes temas das manifestações. Há espaço, sim, para nomes novos. Mas a definição desse espaço passa pela estrutura partidária e por uma história e conjuntura que independem de vontade pessoal. Acredito muito em projetos coletivos, não em projetos individuais.

Cezar Santos — O sr. é a mais importante filiação recente ao PT em todo o Brasil e leva um conceito prático de ética a um partido que se desviou da ética. Sua cúpula — ex-pre­sidente da sigla, ex-tesoureiro, ex-secretário, ex-ministro — foi condenada por corrupção e a sigla está envolvida em outras denúncias, entre as quais a última é de aparelhamento do programa Minha Casa Minha Vi­da, para favorecer filiados. O sr. está disposto a ajudar a fazer a crítica interna do partido?
Certamente. A partir do conhecimento e da prática, como citei em meu discurso de filiação. A melhor forma de construir um novo padrão de comportamento é pelo exemplo e pelo exercício do diálogo à exaustão. É preciso conhecer mais de perto esses problemas, mas trabalhar com os princípios que sempre pautaram minha vida profissional, tendo como guias a ética, a transparência, o diálogo, ferramentas fundamentais para estruturar qualquer projeto. Quero ouvir cada vez mais as pessoas para então a gente poder avançar. Jamais me desviarei dessa trajetória que me trouxe até aqui. Tenho 50 anos de idade, experiência na iniciativa privada e também na universidade. Espero contribuir com a sociedade e, é claro, contribuir como puder com meu partido.

Cezar Santos — O sr. fala também no sentido de contribuir com a depuração interna do partido?
O partido certamente, neste momento, faz essa reflexão e avalia o cenário. O que nos entristece é esse estágio da política brasileira. Não dá para pensar em um estado democrático de direito sem partidos fortes. Não podemos cair na tentação de que dá para fazer democracia sem partido político. Não sei se conseguiríamos separar um partido que estivesse livre, isento de questões relativas à corrupção. O que é preciso é trazer para a política os conceitos de responsabilidade com a coisa pública. Não vejo nenhum partido que esteja imune a pessoas oportunistas e que fazem mau uso dos recursos públicos. Vejo que é possível trazer bons quadros para a política, gente comprometida com esses valores que eu coloquei. Entro na política exatamente para dar minha contribuição.

Marcos Nunes Carreiro — O sr. disse que está à disposição do PT para que o partido precisar. Mas também há um projeto político pessoal. Qual seria seu caminho natural dentro da política?
Meu projeto é contribuir com a sociedade. Para falar um pouco do passado, nunca fiz projeto nenhum projeto para chegar a ser reitor da UFG. Isso não fez parte de uma estratégia pensada, pré-concebida. Aconteceu tudo naturalmente. Em um determinado momento, fui convidado a ser coordenador de Estágio da Escola de Agronomia; depois, me convidaram para ser o coordenador do Curso de Agro­no­mia; então, um grupo de professor achou que eu deveria me candidatar a diretor da unidade; e fui diretor da Escola de Agronomia durante dois mandatos. Ao longo desses dois mandatos, grupos da universidade acharam, por sua vez, que eu deveria ser candidato a reitor. Então, fui reitor por duas vezes. Então, não entro para o partido com qualquer projeto específico de cargo. Entro para ajudar, para somar, porque, da mesma forma que aconteceu nas oportunidades anteriores, que citei de forma muito rápida, percebi, tanto dentro da universidade como também fora dela, um estímulo muito grande para que eu me apresentasse à cena política goiana. Chego nessa perspectiva de contribuir, seja ocupando algum cargo, seja militando no partido, seja concorrendo a algum mandato. Não tenho nenhum projeto político para amanhã ser isso ou aquilo. O que tenho é obrigação e responsabilidade de corresponder a essa expectativa que foi depositada em mim. Quero colocar isto a serviço: um pouco de minha experiência, a credibilidade em que as pessoas apostam e meu trabalho, acima de tudo. Eu gosto mesmo é de trabalhar. (risos)

Elder Dias — O sr. diz que vai contribuir com sua opinião dentro do PT. Nesse sentido, o sr. acha que seu partido deve lançar candidato próprio ao governo do Estado no ano que vem?
Sou um filiado muito recente, de poucos dias atrás, e por ainda ser reitor da UFG — e serei até o final do ano —, não participei de nenhuma reunião do partido para poder ter opinião formada. Não quero emitir opinião dissonante do pensamento maior, respeito a hierarquia em todos os momentos. E nessa questão de candidatura há fatores que extrapolam o Estado de Goiás, imagino que é uma estratégia nacional de negociação entre os partidos da base do governo federal, e as peças vão ser colocadas no tabuleiro. A decisão de ter candidato próprio ou não depende não só do comando local do partido. É uma aliança que tem o objetivo maior de reeleição da presidente Dilma. Existem nomes no partido para disputar, mas também tem um acordo que vem da Prefeitura de Goiânia desde a eleição de 2012 que tem de ser colocado na mesa.

“Se não der certo na política, continuo professor”

Foto: Fernando Leite

Elder Dias — As pessoas manifestam de várias formas que a política é suja, que político não presta, que os partidos não representa a sociedade, coisas assim. O sr. tem uma reputação de pessoa séria, correta. O sr. não teme ser “contaminado” pela política?
É natural que as pessoas pensem isso porque a imagem do político é ruim no geral. Eu acompanho o Congresso Nacional um pouco mais de perto em função dos interesses das universidades, e percebo que há muitas pessoas sérias e trabalhadoras. Em geral, as pessoas trabalham muito também na política, ao contrário do que está no senso comum, de que a política é uma atividade fácil. Infelizmente, o que mais aparece sempre é o lado negativo, os escândalos. E não vai aqui nenhuma crítica à imprensa, acho que é papel da mídia denunciar, assim como é papel da Justiça julgar e condenar quem comete erros. A nossa democracia é muito jovem e não está consolidada, por isso os partidos não estão tão definidos como em outros lugares do mundo. É aceitável pela juventude de nossa democracia que tenhamos 30 e poucos partidos. Mas acredito que isso vai mudar, precisa mudar. A reforma política deve vir e vamos caminhar para ter partidos que representem ideologias e projetos para o País. Não tenho nenhum mede de me contaminar, por que acho que a pessoa tem sua essência, seu caráter, sua formação e seus princípios, e até ambição pessoal. Muitas vezes a pessoa entra na política, vê oportunidades e é corrompida por dois fatores: ambição pelo poder e ambição pelo dinheiro. Eu não tenho ambição de ter poder por ter poder. Entendo que o poder é poder para servir as pessoas. Ambição econômica também não faz parte. Cos­tu­mo dizer que não vim ao mundo para juntar dinheiro, porque não fui eu que espalhei o dinheiro. Quero continuar tendo a vida modesta que tenho, não tenho grandes ambições financeiras. Não entro na política com nenhum desses objetivos, entro para servir a sociedade. A agremiação partidária é importante e a gente se aproxima daquela que combina mais com os ideais de país que a gente tem, de uma sociedade mais justa, com distribuição de renda mais equilibrada e que as pessoas tenham condições de crescer.

Elder Dias — O sr. não teme se decepcionar com a política?
Claro, claro que sim. Não co­nhe­ço a política por dentro e algumas pessoas que já passaram por ela e se desencantaram me alertam para essa possibilidade. Mas eu considero que não tenho o direito de não ten­tar. Vou tentar com todas as mi­nhas forças e com tudo o que eu pu­der levar de valores, de princípios e de trabalho, principalmente. Se não der certo, continuo sendo professor da UFG, continuo na A­gro­no­mia com minhas aulas, que, aliás, não deixei mesmo sendo reitor. Mas tenho a impressão de que é possível fazer algo na política, sim.

Marcos Nunes Carreiro — O sr. disse que o importante é que os partidos sejam fortes, mas que a juventude da democracia brasileira ainda permite que tenhamos 32 partidos. A grande quantidade de partidos não enfraquece o sistema, ou seja, não é ruim para o País ter essa quantidade exacerbada de partidos?
Os partidos, muitas vezes, atendem a interesses de grupos e não estão centrados nas grandes questões nacionais. Então, as diferenças ideológicas entre eles são imperceptíveis. As alianças são feitas, em grande parte das vezes, para negociar tempo de TV ou outros fatores que não um projeto de País. Mas não tenho dúvida que isso é uma questão de tempo. O País vai amadurecer e chegaremos a um Estado democrático em que teremos meia dúzia onde as pessoas se identifiquem melhor nas diferentes siglas.

Marcos Nunes Carreiro — Ainda existem bandeiras ideológicas nos partidos brasileiros?
Com certeza vivemos uma crise no que concerne às ideologias. O mundo inteiro passa por uma modificação no que diz respeito a essas questões. Porém, há alguns pontos claros. Uns partidos advogam, por exemplo, um Esta­do mínimo com políticas neoliberais marcantes. Já outros defendem um Estado de tamanho razoável para termos um equilíbrio, o que é, a meu ver, mais correto. Não podemos deixar o mercado regular tudo. A crise de 2008 nos mostrou isso.

Cezar Santos — O sr. já é político, mas ainda é reitor. Em sua gestão a UFG teve um avanço muito grande, principalmente na estrutura física. O que será entregue ainda na sua gestão ou logo na sequência?
Tem muita coisa andando. Mas o que não vai fechar na minha gestão e que é estruturante para a u­niversidade, ou até para o próprio Estado, é a maior obra da UFG, o Hospital das Clínicas. A obra está licitada, tem empresa trabalhando no 12º andar — são 20 andares no total. É um bloco de internação para 600 leitos, onde teremos novos centros cirúrgicos, as unidades de terapia intensiva serão ampliadas e muito mais. A alta complexidade vai ser cada vez mais uma rotina na universidade. Já estamos nos credenciado para fa­zer transplante de fígado e assim por diante. Isso é algo pelo qual lu­tei desde o primeiro dia de meu man­dato e que vamos deixar em exe­­cução para ser inaugurado no máximo em um ano e meio ou dois anos. É uma obra emblemática.

Ainda no meu mandato, estou fazendo um esforço muito grande para implantar o novo estatuto da universidade. A UFG já era multicampus antes de a gente entrar, mas era uma coisa incipiente. Agora é multicampus em sua integridade. Só que o marco regulatório interno não acompanhou isso, razão pela qual estamos há dois anos trabalhando no novo estatuto. A discussão já está nos conselhos. Acredito que o nosso novo conceito de universidade multicampus deverá ser modelo para outras universidades do País. Abrindo um parêntese, o sistema federal na sua gênese sempre foi constituído por universidades com um único campus. Agora quase todas são multicampus, mas nenhuma ainda é assim na essência. Isso não quer dizer que seja a solução melhor e definitiva, mas a gente dá um passo em algo que vai representar um avanço muito grande na questão da divisão de poder na universidade, com representação maior no interior e em vários outros aspectos.

A universidade é um processo contínuo e é inegável que tivemos avanços nestes oito anos, mas ainda temos muitos problemas de infraestrutura. Temos uma universidade que ficou 46 anos precisando de reformas e adequações e não conseguimos suprir tudo. Temos muitos prédios novos, uma estrutura nova e uma estrutura antiga que vem sendo recuperada. Talvez cheguemos ao fim do ano com 60% dessa estrutura antiga recuperada, ainda faltando 40%, o professor Orlando Amaral [reitor eleito] tem um grande desafio, além das novas necessidades. Quando se aumenta a capacidade de intervenção da universidade, as demandas se multiplicam na mesma velocidade. O próximo reitor terá um grande trabalho pela frente. Então, temos algumas dezenas de obras não terminadas, em curso, já licitadas, que certamente vão ficar prontas no ano que vem. Mas algumas serão entregues ainda em 2013. Acho que a grande expectativa nossa agora é concluir o processo do programa Reuni. Os cursos estão em análise pelo Enade e temos uma avaliação muito positiva de todos eles. Ou seja, com todas as dificuldades com licitações, problemas com as empresas, problemas de planejamento nosso — porque sempre ficam lacunas no planejamento —, com tudo isso, a universidade fez três coisas importantes: se expandiu, o que é fundamental porque uma universidade pequena não tem como atender a demanda extraordinária; fez o processo de inclusão; e avançou na qualidade em todos os aspectos.

Isso não quer dizer que a UFG é perfeita. Temos problemas em prédios aqui e ali, mas avançamos. E a expectativa a respeito do programa de pós-graduação é de que tenhamos os primeiros cursos de nível internacional na avaliação da Capes. Acredito que tenhamos cinco programas com indicador de nota 6 nessa avaliação, o que significa “curso de excelência”. Isso será para nós uma trajetória inacreditável, pois o primeiro doutorado da UFG começou em 1993. Eu fui aluno do primeiro doutorado da universidade [na Escola de Agro­nomia]. E agora, em 2013, já estamos com 28 programas e teremos o primeiro doutorado de excelência. Ou seja, o que outras universidade gastaram 40 anos para conseguir, nós alcançaremos em 20.

Reitor petista Edward Madureira Brasil fala aos editores Euler de França Belém, Elder Dias e Cezar Santos e aos repórteres Frederico Vitor e Marcos Nunes Carreiro: “Marconi ajudou muito a UFG”

Elder Dias — Após oito anos à frente da UFG, qual seria o maior gargalo da universidade na visão do sr.?
Do ponto de vista interno, a UFG tem uma tradição em que a oferta de disciplinas é feita de forma muito individualizada. Por exemplo, uma disciplina de Introdução à Sociologia, que poderia atender a 15 cursos, é formada nos moldes de determinado curso. E isso leva a uma má utilização do corpo docente, pois, às vezes, temos duas turmas reduzidas tendo aula de disciplinas semelhantes, sendo que poderíamos juntar essas salas e liberar um professor para dar aula em outro local da universidade. Sabemos que há disciplinas realmente específicas, mas acredito que há espaço para avançar nessa questão. Da mesma forma, são os projetos pedagógicos da universidade, que tem cargas horárias a extrapolar todas as diretrizes curriculares da instituição. E isso ocupa muito tanto professores quanto alunos. Agora, a ameaça maior da universidade — e não só da UFG, pois essa questão depende apenas do governo — é o baixo quantitativo de técnicos administrativos na universidade. Hoje, não temos muitos problemas com o número de docentes, mas no que diz respeito aos técnicos, temos dificuldades. Mas o grande gargalo mesmo é a questão da autonomia universitária. A Andifes [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior] se reuniu em Natal e finalizamos uma proposta de Lei Orgânica para as universidades federais com o compromisso do ministro Aloizio Mercadante [da Edu­cação] de colocar essa proposta em votação no Congresso Nacional ainda esse ano. A autonomia universitária é essencial para que as instituições possam fazer muito mais, pois as amarras do serviço público atrasam muitas questões. Nós estamos prontos para dar um passo à frente e sermos, realmente, um agente de Estado.

Elder Dias — Qual o sr. considera a melhor qualidade do professor Orlando Afonso do Valle Amaral, que assumirá agora a UFG depois de seu reitorado de oito anos?
Ele tem várias qualidades. Primeiro, é uma pessoa de conduta ética exemplar. Uma pessoa leal e comprometida com a UFG. Tem uma experiência administrativa fabulosa, com quase oito anos de administração. Ele é uma pessoa acessível e de muita competência e com abertura ao dialogo, o que é fundamental.

Euler de França Belém — Um professor da UFG me falou que de 1983 até agora, Marconi Perillo foi o governador que deu mais contribuições para a universidade. Isso procede?
O governo auxiliou de maneira efetiva a universidade, sobretudo durante os mandatos da professora Milca [1998-2006]. Isso é inegável. Era um momento em que havia, por parte do governo federal, um desgoverno total com a universidade, que vivia uma situação complicada. O governador Marconi Perillo, na época, trouxe iluminação ao Campus Samambaia, procedeu ao pagamento dos professores da cidade de Jataí, cujo campus era vinculado a uma fundação, além de obras no campus de Catalão e diversas ações que realmente foram importantes para a UFG.

Euler de França Belém — E a construção do centro de tratamento de esgoto?
Foi uma obra com a participação do governo do Estado, no segundo governo de Marconi Perillo.

Euler de França Belém — Esse mesmo professor me disse que na gestão de Marconi Perillo apenas 12% dos professores do Estado tinham curso superior. E hoje, são 100% de curso superior. O sr. acha que foi importante para o Estado essa política do governador?
Sem dúvida. Qualificar o trabalhador da educação, seja ele o educador ou o trabalhador de suporte administrativo, em qualquer instituição de ensino é importante, tanto na educação básica quanta na superior.

Euler de França Belém — Como o sr. avalia o desempenho do governo de Goiás na educação?
Eu não consigo avaliar com detalhe e profundidade, mesmo porque não é uma matéria que eu me aprofunde nela o tempo todo. Percebemos movimentações, in­quie­tações e descontentamento dos professores. Vimos uma greve grande no ano passado. Temos na verdade uma crise na educação brasileira como um todo. Temos uma taxa de escolaridade no Brasil muito baixa em qualquer nível, menos na fundamental, pois estamos pertos da universalização. Estamos com 97% de matrícula no ensino fundamental. Temos uma lacuna na educação infantil, e outra lacuna, terrível, no ensino médio. E este é um problema nacional: menos da metade dos jovens chegam ao ensino médio e, dessa metade, outra metade se perde durante esse percurso. É preciso pensar na educação brasileira de forma que haja expectativa até chegar a universidade. Até o reflexo disso recebemos na universidade. Recebemos alunos nas universidades com formação deficiente, mesmo na federal onde a disputa de vaga é muito maior. Acredito que isso passa pela condição de trabalho do docente, que, em função da baixa remuneração, tem de ter dois ou três empregos e não cria vínculo na escola em que trabalha. Isso faz com que a qualidade da educação seja ruim. As condições da escola estão aquém do que deveriam ser. Mas isso não se resolve em um passo de mágica. Tem aí uma questão de financiamento para educação. A carreira do docente é fundamental. Mas, não podemos simplificar a carreira simplesmente porque o governo tem de pagar o piso e porque essa carreira tem de ser atrativa. O governo tem contas a pagar e tem de fazer contas. Pelos números a que eu já tive acesso é quase impossível para qualquer governante dar uma carreira atrativa para os docentes. Então, não consigo avaliar nenhum governo. O Brasil conseguiu universalizar a educação, mas se esqueceu de como financiar isso, algo nada barato. Acho que o gargalo na educação brasileira é o ensino médio, que é justamente atribuição dos Estados. É um processo que vai levar tempo de ser corrigido e precisa de dinheiro novo.

Euler de França Belém — Haveria a possibilidade de a Universidade Estadual de Goiás (UEG) tornar-se federal?
Hoje não. Depois da Constitui­ção de 1988, não há como absorver quadros e recomeçar todo o trabalho. Acho que o sistema federal tem um papel na educação brasileira que não deve ser o detentor da matrícula. Tem que ter o papel de referencial.

Euler de França Belém — A sua gestão tem recuperado a estrutura da UFG, mas o Hospital das Clínicas ainda está em péssimas condições, com paredes descascando e rachaduras. O atendimento é bom, mas as condições de aparelhagem ainda deixam a desejar. O que ainda falta para se fazer?
O Hospital das Clínicas é uma unidade com mais de 50 anos idade. É um hospital que seguidamente vem passando por reformas para que suas condições sejam melhoradas. Isso é por etapas. Por exemplo, temos uma clínica cirúrgica hoje que não deve nada a nenhuma outra clínica da região em questão de qualidade de aparelhos e atendimentos. Se você entrar no pronto-socorro, você terá uma situação ruim, pois ele é improvisado. Para termos condições boas é preciso inaugurar o novo bloco. Terminamos a licitação e tudo já está em obras. Vamos inaugurar um novo bloco de internação com 600 leitos. Teremos o hospital mais moderno e equipado do Centro-Oeste dentro de no máximo dois anos. Enquanto isso, não podemos fechar um hospital que faz grande número de atendimentos a população. O grande diferencial do hospital, sem dúvida nenhuma, é o atendimento, as pessoas e os profissionais. Muitas pessoas, na maioria das vezes, preferem ficar internadas no HC, mesmo em condições físicas não muito boas, porque, em compensação, têm certeza de que serão medicadas corretamente. Têm improvisações? Sim, mas há mais de um milhão de atendimentos por ano.

Euler de França Belém — Goiânia, por ser uma metrópole, não precisaria ter dois ou três grandes hospitais municipais?
O que tem acontecido na saúde brasileira é uma centralização excessiva dos equipamentos da saúde e um fechamento sucessivo dos locais de atendimento no interior. E isso provoca um fluxo maior para a capital e o HC é um local onde desaguam todas essas questões. Para os prefeitos, é mais fácil ter uma ambulância e mandar os pacientes para Goiânia. Acho que deveríamos inverter essa lógica. Estou usando a saúde como exemplo porque conversamos sobre saúde. Mas precisamos inverter essa lógica de desenvolvimento do Estado e do País como um todo, em várias áreas. Mas, enfim, precisamos ter bons hospitais no interior para que os pacientes de lá não venham sobrecarregar toda a rede da capital. Se olharmos os prontuários do HC, perceberemos que uma parte significativa de pacientes é de outros Estados da federação.

Frederico Vitor — Ao abrir a Assembleia Geral do ONU, a presidente Dilma Rousseff criticou duramente o governo americano, por causa da espionagem. O sr. acha que ela saiu fortalecida do âmbito internacional por um discurso tão ousado?
O Brasil precisa se afirmar no ce­nário internacional em todos os aspectos. Como diria o presidente Lu­la, não somos o País que facilita as coisas para as grandes nações nem o que as dificulta para as pequenas. Temos uma característica: não somos imperialistas, mas também não podemos ser omissos com esse tipo de ação. Por isso, acredito que a presidente saiu fortalecida dessa situação.

Source: Jornal Opção