Concorrência cai 60% em 7 anos

A baixa concorrência dos cursos de licenciatura oferecidos pela Universidade Federal de Goiás (UFG) é um retrato do desinteresse crescente dos estudantes pela carreira de professor. Em 2006, a concorrência média de todos os cursos da categoria oscilou entre 5,52 e 4,86 candidatos por vaga nos vestibulares de julho e novembro, respectivamente. Neste ano, a média caiu mais de 60%, registrando 2,08 e 1,96 candidatos por vaga em cada um dos certames. Os baixos salários, a ausência de planos de carreira e a sobrecarga de trabalho no dia a dia são alguns dos motivos que desestimulam os vestibulandos.

A situação é uma das principais preocupações do Ministério da Educação, hoje, pois não acontece somente em Goiás, mas em todo o País. O governo federal adotou a postura de não fechar nenhum dos cursos, por mais que a concorrência seja irrisória, chegando, em alguns casos, a menos de um por vaga. A ideia é assegurar o máximo possível a formação de professores e garantir a entrada de novos profissionais no mercado. Áreas como Química, Física e Matemática estão cada vez mais carentes.

Segundo o coordenador de Licenciatura da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da UFG, professor Francisco Luiz de Marchi Neto, as dificuldades dos cursos de exatas diminuem ainda mais o que se convém chamar de custo-benefício. “Só formam aqueles que gostam mesmo”, diz. No Campus de Jataí, no Sudoeste goiano, por exemplo, os três cursos obtiveram número de inscritos menor que a quantidade de vagas ofertadas - Matemática e Química com 0,65 candidato por vaga e Física, 0,95. Em Catalão, Física atingiu apenas 0,68. “Todos que comparecerem serão aprovados”, brinca o professor.

A universidade, sabendo desse contexto, adota medidas especiais para tentar facilitar a escolha dos estudantes. O Espaço das Profissões, realizado todos os anos, é uma delas. Trata-se de um evento feito sempre antes das inscrições para o vestibular, com o intuito de informar, especialmente os alunos de Ensino Médio, sobre o que cada profissão realiza. “Muitos acabam escolhendo errado. São muito imaturos”, explica Francisco. Além disso, a UFG oferta bolsas de incentivo, como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), ligado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), para tentar segurar o aluno até o final do curso.

Fora a baixa procura pela licenciatura, a realidade é marcada ainda pela evasão crescente, que se dá em dois momentos. Existe tanto a evasão durante os estudos como depois de formado. Entre 2006 e 2012, a desistência, em cursos presenciais e de ensino à longa distância, mais que dobrou, aumentando de 7% para 17,61%. Não bastasse isso, ocorre ainda, em larga escala, a migração de profissionais formados em licenciaturas para áreas alternativas, uma vez que o mercado profissional não é atrativo. Está cada vez mais comum encontrar professores estudando em cursinhos preparatórios para concursos públicos, que optaram pelo mercado informal ou em outras ocupações diferentes.

A licenciatura tende a permanecer na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Educação, conforme avalia o professor Francisco, enquanto a política de valorização do profissional não mudar. Ele cita ainda a condição estrutural das escolas como um agravante, que prejudica ainda mais qualquer idealismo profissional. As salas de aula estão cheia, com 40, 50 alunos cada, o que sobrecarrega o profissional, que muitas vezes precisa trabalhar em mais de uma escola para conseguir uma renda melhor no mês.

Vagas

Só na UFG, entre 2006 e 2012, a quantidade de vagas ofertadas em cursos de licenciatura aumentou de 1.781 para 2.484. Um dos motivos para tal, além da criação de novos cursos, foi a adoção do Reuni, programa de reestruturação e ampliação adotado em 2009, que criou novas turmas e acresceu mais vagas em alguns cursos. No período de 2008 a 2012, foram criadas exatas 438 novas vagas de licenciatura na Universidade.

Vale citar, ainda, que nos últimos anos as faculdades e centros universitários se proliferaram no interior do Estado, o que aumentou, consequentemente, a oferta de cursos e de opções para o estudante. Os cursos de licenciatura, por exemplo, passaram a não ser exclusividade somente da UFG. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) e o Instituto Federal Goiano (IFGoiano), bem como a Universidade Estadual de Goiás (UEG) e a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), são exemplos de instituições que ofertam cursos dessa categoria.

Desafio é maior na formação

A coordenação de Licenciatura da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG) elaborou um mapa da situação envolvendo os cursos de licenciatura e o perfil do estudante que opta por eles revela uma situação preocupante. Segundo os dados, cerca de 50% não tem o hábito da leitura contínua, lendo no máximo três livros por ano, apenas 42% escolheram o curso por acreditar na aptidão própria e só 20% conhece um pouco de inglês. O desafio hoje, segundo o coordenador da área, professor Francisco Luiz de Marchi Neto, é lapidar esses estudantes durante o curso e evitar que eles se tornem maus profissionais e maus professores.

No vestibular de 2012, as notas obtidas pelos vestibulandos na primeira etapa do vestibular serviram de parâmetro para avaliar o grau de preparo e informação com que eles chegam à universidade. Numa prova com 90 questões, a nota máxima obtida entre todos os concorrentes em cursos de licenciatura foi 33 e a menor, 14, ou seja, a maior pontuação registrada não atingiu sequer os 40% da prova.

A partir disso, a UFG adotou o esquema de monitorias no decorrer do curso para, além de custear o esforço de alunos que passaram a se responsabilizar por tal função, estimular os demais e orientá-los de forma que não desistam dos cursos nos primeiros semestres.