Consumo de sódio está acima do ideal
O contador aposentado Vlademir Silva, 72 anos, não acredita que o sal provoque hipertensão. Ele descobriu a doença há dez anos, quando foi fazer o exame para a renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). “O sal entra de vilão nessa história, mas o sal não provoca a hipertensão. Ele é um veneno para o hipertenso.” O “veneno” consumido pelos goianos está numa quantidade 200% acima do ideal.
Ao descobrir a doença, Silva procurou um cardiologista. Ele conta que passou a utilizar um medicamento para controlar a pressão, que ficou em torno de 15 por 12. Depois de um tempo, foi a outro especialista e mudou de remédio. Hoje, leva uma vida normal e tem a pressão estabilizada em 12 por 8, como a maioria da população. Mas, ele já chegou a registrar 22. “Não senti nada. Constatei que estava alta fazendo a medição caseira. Fui para o hospital dirigindo. Não sei o que é uma crise como as pessoas contam.”
Segundo o aposentado, ele não teve grandes mudanças de hábitos depois que descobriu a hipertensão. Ele continua tomando cerveja e come petiscos, inclusive salsicha, alimento que possui alta concentração de sódio. “Eu já praticava atividade física. O que mudou é a assiduidade. Faço uma hora de exercício aeróbico todos os dias e ainda ando de bicicleta. Acho que pelo exercício físico consegui ter estabilidade na pressão.” A mãe de Silva era hipertensa. Ele orienta os filhos para sempre realizarem o acompanhamento, já que é grande a chance de eles desenvolverem a doença.
A nutricionista Estelamaris Mônego, professora da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que o sódio é usado também como conservante pelas empresas e não só para agregar sabor aos alimentos. “É absurda a quantidade de sódio nesses alimentos e a redução não vai interferir em nada no sabor. Por uma questão cultural, o consumidor quer sentir um sabor forte nos alimentos, mesmo que seja artificial, e isso também ocorre em relação ao açúcar e à gordura”, comenta.
Como o objetivo das indústrias é vender, argumenta, elas acabam optando por atender essa preferência dos consumidores de sentir um sabor acentuado nos produtos. Mas, Estela acredita que os comerciantes estão começando a seguir um caminho mais saudável. Após o quarto pacto para redução de sódio nos alimentos, uma reunião com o Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitarias (Sindipão) foi realizada. Ela conta que um grupo de padarias da capital já aderiu à redução de sódio nos produtos. “Isso é possível, basta haver um grupo interessado”, diz.
Goiás: 13 gramas diariamente à mesa
O sal é conhecido por ser o inimigo número um das doenças cardiovasculares. Se consumido em excesso, pode culminar no desenvolvimento de pressão alta. Os goianos, segundo Estelamaris Mônego, consomem 13 gramas de sal por dia, enquanto a quantidade recomendada é de 5 gramas. Para ela, as pessoas precisam aprender a tirar o saleiro da mesa. “É um hábito cultural jogar sal em cima da comida, mesmo antes de provar o alimento para ver se é necessário acrescentar.”
Segundo a nutricionista, os goianos consomem sal em alimentos que não precisam deste tempero, como a manga e a cerveja. Ela ressalta que no Estado as pessoas têm o costume de consumir sal até mesmo puro, em pequenas quantidades depositadas na mão. “As pessoas precisam aprender a valorizar sobretudo o sabor do alimento. Então, acabamos sentindo o gosto só do sal e não do alimento. O sal deve ser usado apenas para dar uma pequena condimentada no alimento e não para tirar o gosto dele”, adverte a nutricionista.
Acordo
Firmado entre o Ministério da Saúde (MS) e a Associação Brasileira de Indústrias de Alimentação (Abia) o quarto pacto para a redução da quantidade de sódio em alimentos industrializados. Desta vez, fazem parte da lista os laticínios, os embutidos e as sopas prontas. As empresas devem reduzir gradualmente em quatro anos os índices da substância. A meta é de que os alimentos tenham até 68% menos sódio.
Com o novo pacto, sobe para 16 o número de categorias de alimentos que devem reduzir a quantidade de sódio. Os pactos começaram a ser firmados em 2011. De lá para cá, já entraram na lista pães do tipo bisnaga, massas para bolos, macarrão instantâneo, biscoitos, maionese, salgadinhos de milho, batata frita e caldos (leia mais à página 20).
O acordo prevê que a muçarela, por exemplo, tenha redução de 68% de sódio e o requeijão cremoso, 63%. O MS calcula que até 2020 devam ser retirados dos alimentos 28 mil toneladas de sódio, presente no sal de cozinha e em alimentos industrializados.
Fuente: jornal O Hoje