Clássicos revisitados
A Editora da UFG tem em seu acervo alguns tesouros, nem todos tão conhecidos, mas nem por isso menos valiosos. Ontem, o selo começou a resgatar livros que, por sua importância, não podem ficar fora de catálogo. O relançamento dos títulos Antologia do Conto Goiano, organizada pelas professoras Maria Zaíra Turchi, Vera Maria Tietzmann e Darcy França Denófrio, o volume de poesia Voo Cego, também de Darcy Denofrio, e o clássico A Ressurreição do Caçador de Gatos, de Carmo Bernardes, salda uma dívida com autores primordiais para a literatura do Estado e também com os leitores, que passaram um bom tempo sem ter acesso mais fácil a esses trabalhos. As reedições trazem capas novas e projeto gráfico revigorado, dando a opção para os interessados em adquirir um exemplar sem precisar contar com a sorte de encontrar um deles perdido em sebos.
A Ressurreição do Caçador de Gatos é uma obra que expressa o melhor de uma literatura regional que, por sua profundidade, torna-se universal. Escrito por Carmo Bernardes, um mestre do gênero, o livro é uma referência em vários sentidos. O volume é composto por 24 contos em que o universo do sertão goiano é retratado de forma única, com força e poesia, em que sabedoria e violência se mesclam para traduzir um imaginário peculiar. Ainda que a ambientação das narrativas pareça restrita geograficamente, as histórias extrapolam qualquer tipo de fronteira reducionista, de lugar ou gênero. Isso ficou patente quando o livro ganhou, em 1991, o prestigiado Prêmio Casa das Américas de Literatura, concedido em Havana, Cuba, honraria dada a grandes autores latino-americanos, como Gabriel García Márquez e Rubem Fonseca.
Já os dois volumes de Antologia do Conto Goiano é um estudo profundo sobre as histórias de tiro curto produzidas em Goiás. Carmo Bernardes também integra o elenco de estrelas de nossas letras com obras incluídas e comentadas nessa ampla perspectiva crítica comandada por três das mais respeitadas professoras da área no Estado. A primeira parte da obra fala do trabalho de 14 escritores, entre os quais estão Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Élis e José J. Veiga. Já a segunda metade abrange contos escritos entre os anos 1960 e 1990, com 47 histórias que percorrem correntes e movimentos mais contemporâneos, enfatizando influências mais recentes, novos experimentos narrativos e o retrato, via literatura, de uma urbanização mais intensa de Goiás.
Já o volume Voo Cego, de autoria da professora Darcy França Denofrio, é uma artesania poética, num trabalho esmirilado de construção de estrofes, jogo com os versos, sonoridades e sinais gráficos. Ao todo são 42 poemas em que a autora – também uma estudiosa da poesia, sendo autoridade na reflexão sobre obras de poetas como Cora Coralina – se lança em experimentações ousadas, em que palavras contrastantes dão efeitos e dimensões surpreendentes à obra. O livro foi lançado originalmente em 1980, ganhando na época o Prêmio Cora Coralina, concedido pela seção goiana da União Brasileira de Escritores. São três títulos que têm muita história para contar e que estavam, até ontem, quase que inacessíveis à maioria dos leitores. Mérito da Editora da UFG que se mexeu para corrigir essa distorção.