O inimigo é mascarado

É difícil encontrar no Brasil um negro que não tenha sido julgado pela cor ou que perdeu uma oportunidade por causa da ascendência

Janda Nayara 20 de novembro de 2013 (quarta-feira)

Racismo

Dia da Consciência Negra reforça importância do combate ao racismo

“Não foi racismo, foi um mal-entendido.” Esta é a resposta-padrão de quem é pego em cenas cotidianas de discriminação. Para estudiosos e ativistas, no Brasil o inimigo é mascarado, está em camadas profundas e o racista não se vê como tal. Difícil encontrar um negro que não passou por julgamento por causa da cor, seja ao ser atendido em uma loja ou ao brincar com o filho branco. A data de hoje é dedicada ao Dia Nacional da Consciência Negra.

Piadas e comentários racistas ainda são ouvidos por aí, como “tinha de ser negro”, “faça trabalho de branco”, “ela é negra, mas é bem bonita”, “é um negro de alma branca”. Para a presidente do Conselho Estadual de Igualdade Social, a historiadora Janira Sodré Miranda, o fato de as pessoas ainda relacionarem as características hereditárias ao caráter, condição financeira ou capacidade intelectual já seriam suficientes para demonstrar que o racismo não é velado. “Fomos condicionados pela operação sociorracial. Socializamos as crianças, sejam negras ou brancas, para não estranhar essas direcionalizações de que os negros ocupam sempre posições inferiores. Assim, quem não tem olho treinado não identifica estas situações”, lembrou.

Inferiorização

Para Dijaci David de Oliveira, professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), o preconceito existe e continuará. “O processo de inferiorização foi quebrado, mas fizemos muito pouco para revertê-lo. Além das políticas focais, é preciso pensar de forma ampla, que contribua para quebrar o preconceito”.

Oliveira explica que a sociedade foi condicionada a buscar o igual. “Muitos currículos aprovados vão parar no lixo quando o entrevistador verifica que a pessoa é negra. Nos cargos mais elevados, ainda é difícil encontrar pessoas negras”, afirma.

Para o professor, as políticas focais, como o sistema de cotas em universidades públicas vão minimizar alguns estereótipos. “Daqui a alguns anos teremos mais médicos, advogados, engenheiros, enfim, profissões mais elitizadas ocupadas por negros. Unido a políticas afirmativas, como mudança no sistema de ensino, campanhas e leis, será mais comum a presença da pessoa negra no mercado e isso romperá a visão de que os negros ocupam apenas determinadas funções”, analisou.

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