Otto se reinventa no Campus universitário

 

Cantor pernambucano é estrela desta noite no Música no Campus, onde fará um passeio pelos seus sucessos

segunda-feira, 18 de novembro de 2013 | Por: Alex Vieira

Adalto Alves

Em sua apresentação desta noite, Otto faz um passeio por canções interpretadas anteriormente por Odair José e canta inspirado em romance de Franz Kafka

Em sua apresentação desta noite, Otto faz um passeio por canções interpretadas anteriormente por Odair José e canta inspirado em romance de Franz Kafka

Otto começou a dar balãozinho nas convenções durante o batismo. Onde já se viu um pernambucano com nome de alemão? Crescido, ele sentou a mão nos tambores das bandas mais salientes do manguebit ou do mangue beat (a escolha é sua, freguês), Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. No apagar dos anos 1990, Otto iluminou as paradas com seu primeiro solo, Samba pra Burro, também o primeiro lançamento da gravadora Trama, que pretendia mudar o esquema vicioso da indústria fonográfica no Brasil.

Com produção de Apollo 9, o samba de Otto, melado na tecnologia de ponta, encontrou uma vaga entre o passado e o futuro. O produto sinalizou a transição para o digitalizado século 21. Pronto, ele já estava no trono do mercado. Como um caboclo que ninguém sabe, exatamente, como catalogar no terreiro da música pop. Na aurora do ano 2000, Samba pra Burro saiu numa versão Changez Tout, com as músicas reviradas por inúmeros DJs. Nos capítulos seguintes, Condom Black e Sem Gravidade, Otto exerceu o fascínio de aglutinar talentos a favor de seus estratagemas e de suas esquisitices.

Os intervalos limaram as farpas do exotismo. O que era surpresa foi digerido como uma gororoba de sabor forte, que não se pede todo dia no cardápio dos desejos. Um DVD gravado ao vivo pela MTV, com o popular apanhado e misturado de carreira, encerrou uma fase criativa em 2005. O segundo tempo da partida que está longe do fim teve início em 2009. Otto passou quatro anos afastado dos estúdios, mas não dos palcos. Não foi um período dedicado ao doce fazer nada que os italianos cultivam com charme mediterrâneo. Foram anos tatuados por algumas perdas e danos.

A separação da atriz Alessandra Negrini deixou traumas à mostra em revistas sensacionalistas. Os rompimentos com empresários e a gravadora Trama abriram um precipício diante do lançamento que ele estava planejando. A morte da mãe colocou um suspiro na garganta do cantor. As lapadas foram profundas o bastante para abalar sua confiança. De modo que os projetos ganharam uma lufada de incerteza a estibordo.

Mas, apoiado nos amigos Fernando Catatau (guitarra), Dengue (baixo) e Pupillo (bateria), ele conjurou os fantasmas para uma sessão de terapia. Catatau é da banda Cidadão Instigado. Dengue e Pupillo são da Nação Zumbi. Pupillo atuou como produtor. As ideias iniciais foram registradas num laptop, no programa Garage Band, que proporciona recursos de gravação e mixagem. O rascunho foi transformado em arte final em mais de um estúdio profissional.

O retorno de Otto foi batizado com a transcrição da primeira frase do romance A Metarmorfose, de Franz Kafka, Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos. Lirinha, Céu e Julieta Venegas colaboram na lavagem da roupa suja. Otto torce e retorce sentimentos para costurá-los e refazê-los com uma instrumentação básica, direta e entremeada por detalhes. É mais um filme alternativo que um arrasa-quarteirão. Sincero, dilacerante, surpreendente. Como em Seis Minutos, quando Otto quase perde as estribeiras ao afirmar: “Nasceram flores num canto de um quarto escuro/mas eu te juro, são flores de um longo inverno”.

Em The Moon 1111, que completa, até agora, a reinvenção do artista, Otto segue ruminando ressentimentos na faixa de abertura, Dia Claro. Em seguida, ele se joga numa pista radiante, menos nebulosa e mais ensolarada que a anterior. Com ironias finas e ferinas, como regravar A Noite Mais Linda do Mundo, de Odair José (“felicidade não existe/ o que existe na vida são momentos felizes”). A inspiração, dessa vez, é o filme Fahrenheit 451, de François Truffaut, baseado no livro de Ray Bradbury.

A história se passa num futuro em que livros são proibidos e queimados, o que remete ao passado de certos regimes políticos. No disco, o aspecto tenebroso é contrabalançado por influências do nigeriano Fela Kuti, que deixou o afrobeat como herança para vitalizar a alegria no mundo. As variações, no entanto, são menos intensas e mais dispersas que o núcleo de Certa Manhã.

Música no Campus com Otto
Quando: hoje
Onde: Centro de Cultura e Eventos da UFG (Campus Samambaia. Vila Itatiaia. Fone: 3521-1035)
Horário: 20 horas
Ingresso: R$ 20 (R$ 10 a meia)