Da floresta para sua casa

 

Silvicultores investem no plantio de florestas com a finalidade de preservação e para abastecimento da indústria moveleira no Estado

sexta-feira, 8 de novembro de 2013 | Por: Alex Vieira

Karine Rodrigues

 

Produtor de eucalipto Clayton Trindade (ao fundo) diz que produção de madeira em Goiás ainda precisa avançar muito

Produtor de eucalipto Clayton Trindade (ao fundo) diz que produção de madeira em Goiás ainda precisa avançar muito

Desde o início da colonização portuguesa, em terras recém-descobertas, a madeira tem importância fundamental na economia nacional, a ponto de receber o nome da árvore cuja madeira vermelha da cor de brasa, Brasil. Com o passar dos séculos, a madeira continua a ser uma moeda forte, e se for nativa e nobre é ainda mais valiosa. Em um momento cuja a palavra de ordem é preservar, quem planta florestas, seja com fins energéticos ou extrativistas, tem grandes chances de ser bem sucedido. Em Goiás, o mercado da madeira anda em passos curtos. Produtor de eucalipto há mais de uma década, Clayton Trindade diz que Estados como o Tocantins e Bahia estão muito mais avançados na produção de madeira que Goiás. “Lá os administradores viram que esse é um bom negócio e investiram. Goiás foi um dos primeiros Estados onde se começou a plantar florestas, mas hoje somos nós que precisamos avançar”, diz. A estimativa é de que em Goiás haja 180 mil hectares de florestas plantadas.

De acordo com informações do Sindicato das Indústrias de Móveis e Artefatos de Madeira no Estado de Goiás (Sindmóveis), o município maior produtor de madeira no Estado é Catalão. Em Goiás são produzidos por mês cinco mil metros cúbicos quantidade que não é suficiente para abastecer a indústria local e praticamente não produção de madeira de lei. Para suprir a demanda local, a madeira vem dos principais polos produtores no Brasil. O pinus e eucalipto chegam do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A madeira de lei vem do Mato Grosso, Pará, Roraima e Acre.

O presidente do Sindmóveis Pedro Silvério Pereira relata que no Estado há 2.300 empresas que fabricam móveis de madeira. Essas indústrias empregam 20 mil profissionais diretamente e cerca de 50 mil indiretos. Porém os móveis fabricados aqui são em séries curtas, vendidos apenas em Goiás e poucas vendem para outros Estados. Silvério diz que um dado preocupante é que 98% dos móveis revendidos nas redes varejistas são fabricados em fora de Goiás. “Por esse e outros motivos estamos trabalhando forte na implantação de quatro novos polos moveleiros em Goiás. No polo de Senador Canedo, dez indústrias estão funcionando a todo vapor”, explica.

Silvério destaca a importância de se investir no setor florestal para produção da matéria prima para a indústria moveleira. “Sem madeira fica complicado trazer indústrias para o Estado. Além de fomentar o desenvolvimento de uma cadeia, as florestas plantadas contribuem com a preservação das árvores nativas”, diz.

Obstáculo para desenvolvimento

Na tentativa de promover o desenvolvimento da cadeia, a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), por meio da Comissão de Silvicultura e em parcerias com UFG e Embrapa, trabalha na produção de um plano estadual de florestas plantadas. A assessora técnica da Comissão de Silvicultura, Jordana Gabriel Sara, diz que hoje Goiás não tem uma política específica que trate das florestas plantadas. “As perdas estimadas são de R$ 22 bilhões somente em Goiás, por restrição a compra de terra por parte de estrangeiros que poderiam entrar no foco da indústria madeireira goiana”, destaca.

Jordana diz que o valor da terra no Estado é muito alto, a burocracia para retirada do licenciamento é grande e a espera é de no mínimo 130 dias para conseguir o documento. Fato que inviabiliza principalmente a venda de madeira. A tributação da cadeia é complexa e excessiva, o produtor trabalha um terço do ano somente para pagar imposto. Faltam linhas de crédito específicas e as taxas de juros para quem pega dinheiro emprestado para capital de giro estão na faixa de 19% ao ano. A infraestrutura para o transporte da madeira e subprodutos é precária. “Nos Estados Unidos se gasta US$ 20 para levar uma tonelada de celulose ao porto. Aqui para levar a mesma tonelada são gastos US$90”, contabiliza a especialista.

Uma das saídas apontadas por Jordana Sara é a produção por meio da integração lavoura/pecuária/floresta (ILPF). Além de aumentar o rendimento da propriedade, porque em um só lugar é possível trabalhar em três atividades, o gasto é menor e não há perda de qualidade de nenhum produto se o manejo for bem aplicado. Um exemplo é disso é que em um hectare sem ILFP se produz em média oito arrobas de carne por ano. Utilizando a ILFP é possível produzir até 21 arrobas em um hectare e ainda tem a madeira pra vender. O produtor que utiliza o sistema de ILPF também pode pleitear a linha de crédito do Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC). “Se ele conseguir provar que faz a integração e recuperou uma área degradada consegue recursos cuja taxa de juro é de 3% ao ano”, explica. (KR)

Tecnologias para produzir mais

O empresário Canrobert Tormin era consultor do Sebrae quando começou a estudar a viabilidade de plantar madeiras nobres em Goiás e de espécies que não fossem nativas foi quando descobriu o mogno africano. As primeiras sementes foram adquiridas de produtores paraenses, que são pioneiros no plantio das árvores no Brasil. As primeiras cinco sementes chegaram ao País através da Embrapa Amazônia Oriental. Hoje, depois de sete anos atuando no setor de reflorestamento, à frente da empresa Mudas Nobres, ele diz que mercado brasileiro para o mogno africano – que é muito parecido com o mogno nacional –, ainda é pequeno por falta de oferta. “Agora é que as primeiras árvores alcançaram ponto de corte. E alerta que o potencial do mercado goiano e nacional é gigante para absorver essa e outros tipos de madeira”, diz.

O mogno africano atinge o ponto de corte a partir dos 15 anos. A árvore é de grande porte, a madeira de cor clara pode se utilizada, na fabricação de móveis de alto padrão. Canrobert explica que plantar árvores além de ser um negócio sustentável, tem alta rentabilidade e ainda diminui a pressão sobre o estoque nativo. Como forma de agregar valor à atividade, o empresário investe em pesquisa em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), testando clones e a utilização da irrigação.

Consagrado internacionalmente, o mogno africano é bem cotado no mercado internacional cujo valor do metro cúbico varia entre $580 a $690 euros. Em Goiânia, a muda do mogno custa R$ 5, mas conforme a quantidade adquirida, Canrobert diz que o preço é negociável. O custo de produção de 400 árvores em um hectare sai a R$ 6 mil por ano e R$ 20 mil durante os 15 anos. A rentabilidade varia conforme o tempo de corte, no primeiro corte com 10 anos o metro cúbico sai a R$ 1.500, se o corte for com 15 anos o metro cúbico sai a R$ 2.500. E o mais esperado durante a década e meia de plantio, o retorno estimado por hectare plantado pode ir de R$ 500 mil a R$ 600 mil. (KR)

Mercado goiano tem espaço para crescer

Da madeira produzida nas florestas se fabrica o MDF, MDP, aglomerados e compensados que compõem grande parte das peças de mobiliário produzidas atualmente. É do MDF que são fabricados os móveis planejados pela Ateliê Armários, empresa criada há sete anos. Segundo o proprietário, Marcus Quintanilha Santana, há quatros, ele passou a ter uma linha de produção dos móveis que planejava, antes disso o serviço era terceirizado. A empresa começou com três funcionários e hoje tem dez. Nestes quatro anos ele diz que o negócio cresceu mais de 100% e que o mercado goianiense é bastante promissor e tem espaço para crescer. “A indústria da construção civil está a pleno vapor e as pessoas precisam mobiliar suas casas, a classe média está consumindo mais este tipo de produto e as linhas de crédito Construcard e Móveiscard da Caixa facilitam a compra deste tipo de móvel”, complementam.

Embora as condições de crescimento estejam favoráveis, o empresário explica que o preço final do produto está mais caro, devido principalmente a mão de obra cada vez mais cara e escassa e ao aumento da matéria prima – que é reajustado de acordo com a inflação. Ainda assim ele diz que não tem do que reclamar, que a demanda é maior do que ele pode conseguir atender. “Eu trabalho muito com indicação, propaganda de cliente, cresço dentro dos meus limites e assim que tem dado certo”, conclui. (KR)