Baixa presença da mulher no Legislativo é ‘cultural’

O universo representativo das mulheres no Legislativo, em Goiás e no País, ainda é pequeno diante do número de parlamentares homens nas esferas municipal, estadual e federal. O Senado abriga 81 senadores, e apenas nove são mulheres. Goiás tem uma senadora, três deputadas federais, três estaduais e quatro vereadoras. Na Câmara de Goiânia atuam 35 vereadores, e na Assembleia Legislativa, são 41 deputados. Somente na esfera estadual, as mulheres representam, na Câmara e na Assembleia, respectivamente, 11% e 7%.

O número considerado pouco expressivo de parlamentares mulheres no cenário atual leva à reflexão de que ainda existe um déficit democrático de gênero quando se avalia a participação da mulher na política institucional, percepção que agrega estudiosos da área das Ciências Sociais e Políticas. Mesmo dadas as especificidades dos estudos de cada área, a constatação de que as mulheres ainda são sub-representadas na arena política no Brasil e no mundo é convergente no resultado das pesquisas.

Embora analisem que a inserção da mulher na política tem crescido, mesmo que de forma tímida, ao longo dos últimos anos, muitos estudiosos consideram que a imagem da mulher diante da sociedade em geral ainda está relacionada à família e à comunidade, o que prejudica e torna mais lento o processo de ascensão feminina ao campo político que, culturalmente, foi construído e é enxergado como um campo masculino.
Socióloga e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Elizabeth Bicalho argumenta que as construções culturais são fortemente cristalizadas e difíceis de serem rompidas. Dessa forma, o papel atribuído à mulher pela sociedade perdura acima dos avanços e conquistas femininas na esfera política e em outros espaços.

“A educação da mulher sempre foi voltada para os cuidados com o lar, marido e filhos, com a comunidade. As conquistas que obteve ocorreram de forma demorada. Somente em 1932 teve direito ao voto, e outros direitos também essenciais vieram mais tarde, como à educação, a trabalhar, a ser remunerada”, detalha Elizabeth, para quem as relações de gêneros refletem em todos os campos, mas na política de forma mais intensa, por se tratar de uma esfera consolidada por homens. “A história nos mostra que a entrada da mulher na política se deu por meio do homem, com a figura da primeira-dama, em segundo plano, atrás das decisões do marido. Uma função que não poderia se destacar mais que o homem. Durante anos, o cenário foi enxergado como monarquia.”, completa.

Cientista política e professora da UFG, Denise Paiva observa que os papéis dos homens e das mulheres foram moldados de forma que enquanto o homem se dedica às associações ligadas à esfera pública e à política, a mulher se envolve com associações vinculadas à família e à comunidade.

Sendo assim, a mulher constrói redes que fortalecem laços pessoais e são importantes para a vida comunitária, enquanto o homem consolida redes mais heterogêneas e capazes de criar incentivos políticos, o que o torna mais habilitado à geração de recursos eleitorais, capital financeiro e conhecimento político.

Fonte: O Hoje