Um em cada seis jovens em Goiás não estuda nem trabalha
Uma parcela preocupante de jovens que deveriam contribuir de alguma forma para a economia e o futuro desenvolvimento do Estado parece estar em situação de dormência. Um em cada seis jovens de 15 a 29 anos que vivem em Goiás não frequenta a escola e não está no mercado de trabalho, aponta estudo com dados de 2012, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao todo, são quase 280 mil pessoas na chamada geração “nem-nem” – nem estuda nem trabalha.
Isto representa 17,5% do total de jovens nesta faixa etária no Estado. No País, eles passam dos 9,6 milhões de jovens (20%). São, em grande parte, mulheres, com escolaridade inferior ao que seria apropriado para a sua idade e que na maioria das vezes não está à procura de emprego. Diante deste perfil, a impressão é de que se trata de uma parcela com total desinteresse em seu próprio futuro.
Mas é preciso desmembrar com mais cuidado cada caso antes de qualquer conclusão. É o que explica a pesquisadora Cristiane Soares, do IBGE. Segundo ela, nem sempre os jovens fazem parte da situação “nem-nem” apenas porque querem. Entre a maioria, que é de mulheres, mais da metade possui ao menos um filho.
“Pode ser que, por trás disso, exista uma inexistência de infraestrutura de apoio, como a falta de creches onde elas possam deixar seus filhos para poderem trabalhar. A falta de qualificação destes jovens também é um empecilho para que estejam no mercado de trabalho”, afirma. Olhando para a história da goiana Jaqueline de Souza, de 25 anos, a situação fica mais próxima de uma realidade que não é incomum.
A jovem tem um filho de 3 anos e ambos moram com o pai dela, Waldir Ricardo de Souza, que é caseiro em uma chácara no Setor Jardim Primavera e é responsável pelo sustento da família. Jaqueline nunca trabalhou, mas estudou até o primeiro ano do Ensino Médio. Abandonou a escola após a morte da mãe e agora dedica seu tempo para cuidar da criança e da casa. A jovem tem pretensões para o futuro. Quer arrumar um emprego, mas só fará isso quando matricular o filho em uma escola.
Prejuízos
Além das questões sociais, existe também um fator comportamental que preocupa educadores, analistas de mercado e até mesmo empresários. Uma crescente parte das novas gerações se pauta cada vez mais pela lei do menor esforço. Não tem paciência para se dedicar à escola e a cursos de qualificação, mas também não aceita qualquer posto de trabalho e, por isso, está fora do mercado e da rede de ensino, analisa o professor de Economia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Sandro Monsueto.
Conforme o economista, o crescimento da geração “nem-nem” pode gerar prejuízos para o Estado e para o País como um todo a longo prazo. Primeiro, porque esta parcela está consumindo, mas, sem renda, não ajuda a pagar a conta, o que aumenta o risco de haver, no futuro, um grande problema previdenciário.
Mas a principal preocupação é que, sem se qualificar, estes jovens que não trabalham nem estudam ajudam a engrossar o déficit de mão de obra capacitada, que é hoje uma situação quase generalizada no comércio, na indústria, nas empresas prestadoras de serviço e até no campo, cada vez mais mecanizado. Sem qualificação, eles tendem a ocupar postos de níveis mais baixos ou alimentar o setor informal.
Além disso, elevam o custo Brasil, porque as empresas terão de investir muito mais para treinar esses empregados e, em contrapartida, pagar muito mais caro para disputar aqueles que são mais capacitados e raros.
Diferentemente dessa opinião, a cientista política Heloisa Dias Bezerra, que também é professora na UFG, diz que nesse momento a geração “nem-nem” não é um fator preocupante para o País. Isto porque o Brasil e, em especial, o Estado de Goiás apresentam uma baixíssima taxa de desemprego. “Não é uma questão significativa, porque representam muito pouco num universo de pleno emprego”, frisa.
Canguru
Nos últimos dez anos, também aumentou a proporção de pessoas de 25 a 34 anos que continuam a morar com os pais. De 2002 a 2012, essa parcela apelidada de geração canguru passou de 20% para 24% no Brasil (o IBGE não divulgou dados por Estado). Deste total, cerca de 60% eram homens e 40% mulheres.
Source: O Popular