Morre João Neder

O promotor de Justiça do Estado de Goiás, aposentado, João Neder, 80 anos de idade, morreu, ontem, em Goiânia, de falência múltipla dos órgãos, em decorrência de um câncer no fígado. O seu corpo foi velado durante o dia e sepultado às 19h, no Cemitério Jardim das Palmeiras, na Capital, sob forte comoção.

Nascido em Serrania, Minas Gerais, em 17 de junho de 1934, ele foi preso político à época da ditadura civil e militar. “Chegou a ser detido 22 vezes, respondeu a Inquéritos Policiais Militares (IPM’s)”, informa ao Diário da Manhã o seu filho Alex Neder, conceituado advogado no mercado do Direito em Goiás.

— Perseguido, ele enfrentou dificuldades.

Aprovado em 1º lugar em concurso público, João Neder chegou a ser considerado o melhor promotor do júri de sua época, conta Alex Neder. “Ele fez mais de 800 júris”, relata. Aposentado em 1984, dedicou-se, então, à advocacia. Nos últimos anos, com a mulher Beatriz Araújo Neder e o filho, mergulhou na profissão.

Ex-Difusora e articulista do Diário da Manhã, ele havia trabalhado no Cinco de Março, também fundado pelo jornalista Batista Custódio. Ao lado de Jávier Godinho, Telmo de Faria e Taufic Sebba. “Para mim, foi um grande privilégio ter tido um pai que viveu até os 80 anos de idade”, diz, emocionado, Alex Neder.

Saúde

João Neder teve um câncer detectado no cólon, em 2008. Ele submeteu-se a 100 sessões de Quimioterapia e 42 de Radioterapia. Depois, apareceu um câncer em seu fígado. O promotor de Justiça aposentado continuou o tratamento de saúde. “Um guerreiro que morreu altivo, com dignidade”, observa o filho advogado.

 

João Neder

DN: 17/06/1934

Natural de: Serrania (MG)

Idade: 80 anos

Formação: Direito

Registro: Promotor de Justiça aposentado e advogado

Observação: Era articulista do Diário da Manhã

Saiba Mais

Fundador da UFG

João Neder esteve empenhado em campanhas para convencer população do Estado, estudantes e autoridades políticas que a criação da UFG era necessária. Em 1960, ainda um estudante de Direito, Neder foi orador da Frente Pró-Universidade Federal, que logo depois culminou na criação da instituição. Mas não foi fácil.

Nesse ano, Neder atuava como membro de uma comissão formada por 40 pessoas, dentre elas, estudantes e professores de Engenharia, Direito, Farmácia e Odontologia, da antiga Escola do Brasil Central.

Agenda com JK

A comissão dos estudantes goianos conseguiu agendar encontro com o presidente JK, em Brasília, para o dia 6 de setembro, véspera do primeiro desfile da Pátria, na nova Capital. Após jantarem com o presidente, todos se reuniram na biblioteca do Palácio da Alvorada e debateram estratégias para criação da Universidade Federal de Goiás.

Naquela época, JK ficou receoso de entrar em conflito com o clero goiano, que já havia criado a Universidade Católica, em 1959. O receio se deu por conta da diluição das verbas entre duas instituições de grande porte. Mas poucos dias depois, JK determinou a criação da Universidade Federal de Goiás.

Reconhecimento da UFG

Meio século depois, já em 2011, João Neder concedeu entrevista para o site da UFG e não escondeu amarguras sobre a falta de reconhecimento da universidade, em relação ao trabalho que desempenhou na fundação e pelo que sofreu posteriormente.

Neder chegou a ocupar o cargo de vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) para lutar pela UFG, mas acabou marcado pelo Golpe de 1964. Ele respondeu a três inquéritos policiais militares e ficou seis anos sem poder trabalhar.

No entanto, no ano passado, o reconhecimento chegou. O promotor de Justiça aposentado, João Neder, recebeu a medalha de honra da Universidade Federal de Goiás (UFG), entregue pelo então reitor da UFG, Edward Madureira Brasil, no dia 29 de novembro de 2013.

Nota de pesar do governador Marconi Perillo

O governador Marconi Perillo lamenta a morte do promotor aposentado, jornalista e escritor João Neder, ocorrida ontem.

Nas palavras do governador, João Neder: “Era um homem público e de letras, extremamente preparado e dedicado ao seu ofício e à família.”

Ainda de acordo com o governador, João Neder era “um intelectual ativo, extremamente atualizado e atento às mudanças do mundo, contribuindo com análises ponderadas e precisas sobre os assuntos que escrevia, com destaque para os artigos publicados no Diário da Manhã”.