Senhor dos acordes

Respeitado no meio erudito europeu, Clovis Alessandri se apresenta hoje no Centro Cultural UFG

20 de agosto de 2014

Clovis Alessandri: pianista integra geração que elevou a capital goiana à condição de celeiro da música erudita

A música sempre fez parte da vida do pianista goianiense Clovis Alessandri. Em casa, aos 9 meses de idade, já com ouvidos amadurecidos para distinguir melodias, se acalmava quando ouvia música clássica na vitrola. Segundo filho de uma família de quatro irmãos, ele gosta de dizer que nunca deixou que nada se colocasse entre ele e a música. E seu maior prazer é compartilhá-la, como fará hoje, às 20 horas, no Centro Cultural UFG, durante o 2º Encontro Nacional de Piano realizado em Goiânia. A apresentação é o 68º Recital em Homenagem a Nhanhá do Couto, um dos maiores nomes do piano em Goiás, como ele também se tornou.

 

Aos 63 anos, integrante de uma geração que elevou a capital goiana à condição de celeiro da música erudita, Clovis tem a trajetória que simboliza a de outros talentos do piano que brotaram em solo goianiense e que, mesmo radicados fora do Brasil, ainda evidenciam o nome de Goiás. São nomes como o de Valéria Zanini e Eliane Rahal, duas de suas amigas, que seguiram caminhos semelhantes. Cresceram e despertaram para o piano em Goiânia sob as mãos de uma das grandes referências de piano do País, Belkiss Spenzieri Carneiro de Mendonça (1928-2005), neta de Nhanhá (1880-1945), e ganharam o mundo.

Não por acaso, Clovis Alessandri foi o escolhido neste ano para fazer a homenagem à pioneira(conheça a história no quadro). Nhanhá era mãe de Diana, primeira professora de piano do pianista. Diana, por sua vez, mãe de Belkiss, que posteriormente também faria parte da história do artista. Hoje radicado na cidade de Colônia, na Alemanha, onde vive desde 1975, Clovis parece lembrar com carinho dos primeiros passos na música. Por incrível que possa parecer, eles foram dados tardiamente. A primeira incursão ao piano, estimulado pelo encantamento com a irmã mais velha que tocava piano, a professora Raquel Teixeira, foi aos 6 anos.

Mas como toda criança, muitas vezes imprevistas em suas vontades, mesmo com todo o interesse, Clovis não deu muita bola para primeiras tentativas de aula. Ele voltaria para a sala de aula de música somente com 9 anos, quando muitos virtuoses já estão em processo avançado de aprendizado. A facilidade, no entanto, era tamanha, que logo Clovis se destacaria para galgar uma vaga no antigo Conservatório de Música, que já era durante sua adolescência o embrião do que viria a ser a atual Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) da UFG.

AMIZADES

Neste período foi que Clóvis estabeleceu amizades, boa parte na área musical, que levou consigo para a vida inteira. Por causa da família que ficou e de lembranças marcantes com amigos, como as escapulidas de ônibus até a cidade de Goiás para tomar banho de rio e ouvir Cora Coralina falar, ele faz questão de voltar ao Brasil sempre duas vezes por ano, durante o meio e o fim do ano. São momentos em que voltam à tona também recordações como viagens em grupo com os amigos até Brasília testemunhar sons gerados pelas mãos inspiradas do pianista Nelson Freire.

A década de 1960, toda vivida em Goiânia, foi um tempo de descobertas. Foi também a base de formação para o músico que em 1971 se mudaria para o Rio de Janeiro a fim de terminar os dois cursos superiores recém iniciados em Goiânia: Música e Direito. Da ciência das leis, no entanto, Clovis tem somente o diploma. Nunca atuou. A música mais uma vez se sobressaiu. Quando tinha os diplomas em mãos, deixou o Rio, já em clima tenso da ditadura militar (nunca perseguido, Clovis teve vários amigos que foram). O destino escolhido: a cidade alemã de Colônia, um dos centros mais importantes da música erudita da Europa, “a meca de todos os músicos e compositores importantes da época”.

Em solo alemão, Clovis estabeleceu uma trajetória meteórica. Brinca que teve “sorte logo de cara” ao ter oportunidade de lecionar na Escola de Música. Anos mais tarde também passaria a ensinar música no departamento de Música da Universidade de Colônia, onde está até hoje. Os convites para circular pelo mundo não tardariam. Em quase 40 anos, o artista construiu uma vida na cidade de cerca de 1 milhão de habitantes da qual não pretende se desvencilhar. Vai trabalhar a pé, sai à noite para os teatros sem ter de se preocupar com segurança. Mesmo sem nunca deixar de voltar, nos últimos tempos, após inúmeras repreendas dos amigos, ele desistiu de flanar pela cidade natal a pé.

Recital: 68ª Homenagem Nhanhá do Couto – 2º Encontro Nacional de Piano

Músico: Clovis Alessandro

Data: Hoje, às 20 horas

Local: Centro Cultural UFG (Praça Universitária, Setor Universitário)

Entrada franca

Fonte: O Popular

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