O piano de Clovis Alessandri
Veículo: Diário da Manhã
Data: 28/08/2014
O piano de Clovis Alesandri
Dizem que para avaliar o grau de civilização da humanidade basta analisar as produções artísticas do seu tempo. No que diz respeito ao estado de Goiás, Goiânia vive um período de crescimento cultural com jovens entusiastas frequentando escolas de música, dança e arte. Alguns alunos brilhantes são selecionados em concursos para frequentarem centros de estudo e trabalho tanto nos Estados Unidos como na Europa.
Na década de sessenta, surgiram artistas que iniciaram sua formação no nosso estado e, posteriormente, partiram em busca de novos conhecimentos para dar vazão ao seu talento. Nas artes plásticas, destaca-se Ana Maria Pacheco que, após graduar-se nesta capital, dirigiu-se à Inglaterra onde se radicou. Desenvolveu importante trabalho no campo das Artes Plásticas, alcançando reconhecimento de crítica e público.
Na área da música, três jovens se dirigiram ao Rio de Janeiro, para concluir o curso de graduação e, posteriormente, se especializaram em outros países estudando nas melhores Universidades com os mais respeitados professores. Lá se instalaram e seguiram com sucesso carreiras pianísticas. Clovis Figueiredo Alessandri reside na cidade de Colônia, na Alemanha, onde alia atividades pedagógicas na Universidade com as de concertista. Suas grandes amigas, Valéria Zanine e Eliane Rahal, tomaram caminhos similares; a primeira em Copenhague, na Dinamarca, e a segunda também em Bonn, na Alemanha.
Todos eles jamais se esqueceram de sua terra natal, nem dos seus primeiros professores. Além de cumprirem agenda de concertos em vários países do mundo, todos os anos retornam ao Brasil para se apresentarem em recitais e participarem de Master Class. Dessa forma, transmitem conhecimentos e experiências acumulados durante a trajetória de vida representada por anos dedicados ao estudo da música, aos alunos ávidos de aprenderem a grande arte.
Esses talentos passaram pelas mãos da Profª. Belkiss Spenzieri Carneiro de Mendonça, referência na área da música no País. Neta de Nhanhá do Couto proveniente da cidade de Ouro Preto, centro de músicos e compositores, para se instalar em Vila Boa, no início do século XX, onde transformou o panorama da música no Estado. Exímia pianista e professora exigente dedicou-se à divulgação da música. Porém, assim que percebeu os dotes da neta voltou os olhos à sua formação. Após o falecimento da avó, Belkiss empenhou-se em fundar o Conservatório de Música, atualmente EMAC, Escola de Música e Artes Cênicas, celeiro de artistas em Goiás.
Belkiss sempre comemorou o dia 20 de agosto, data do nascimento de Nhanhá do Couto, com um recital de piano. A tradição se instalou e permaneceu até os nossos dias. No ano passado, foi criado o Encontro Nacional de Piano, sob a Coordenação da Profª. Consuelo Quireze, que se incorporou ao evento para homenagear a memória da pianista que tanto contribuiu para o engrandecimento da música em Goiás.
Este ano, o convidado especial foi Clovis Figueiredo Alessandri. Com um relevante currículo, recebeu vários prêmios, entre eles o do Concurso Lorenzo Fernandez, Rio de Janeiro; a Medalha de Ouro no Illinois Music State Contest; o Troféu do TV Keyboard Award, Chicago, USA. Estudou com Arnaldo Estrela, Camargo Guarnieri, Magda Tagliaferro, Jeanne Marie Darré, Bruno Seidlhofer e Gyorgy Sandor.
Clovis escolheu um programa variado. Na primeira parte, tocou Chaminade e Bortkiewicz. Na segunda dedicou-se aos compositores espanhóis Albéniz, Manuel de Falla e Granados. Finalizou com os franceses Debussy e Ravel. Aplaudido entusiasticamente pelo público, voltou duas vezes ao palco para um bis interpretando duas peças do compositor argentino Piazzola. Foi uma noite memorável!
O ilustre pianista expressou sua emoção através da ampliação ou da aceleração do tempo, pela modificação do volume, pela qualidade do som e da articulação, o que significa encurtar e alongar notas, porém, mantendo a precisão rítmica. Deixou fluir a melodia sem perder a precisão do tempo objetivo. Utilizou com maestria o tempo rubato, permitindo que a melodia deslizasse livremente, inserindo modificações sutis no tempo, porém, mantendo sempre uma ligação com seu pulso interno. Artista de grande sensibilidade tirou do piano Steinway sonoridades únicas vindas do coração aliadas a uma técnica impecável.
Os espectadores, encantados, certamente deixaram a sala de concerto emocionados com a beleza dos sublimes momentos musicais proporcionados pelo piano de Covis Alessandri. A música tem o dom de elevar o espírito. Segundo Daniel Baremboim, “o som tem maior alcance que as palavras”.
(Alba Dayrell, membro da Academia Feminina de Letras e Artes (Aflag), da União Brasileira dos Escritores (UBE)e professora aposentada da UFG)
Categories: clipping