Um suicídio a cada 40 segundos
Data: 10 de setembro de 2014
Fonte/Veículo: Jornal Diário da Manhã
Hoje é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O Brasil é o oitavo país com maior número de casos. A equipe do Diário da Manhã entrevistou especialistas que explicam o problema universal

O suicídio é um problema de saúde pública com raras e acanhadas políticas de prevenção e pouca pesquisa científica. De acordo com um relatório da OMS, mais de 800.000 pessoas tiram a sua própria vida por ano no mundo, o que representa uma morte a cada 40 segundos. Essa é a segunda maior causa de morte em pessoas entre 15 e 29 anos. Da mesma forma, os idosos acima de 70 anos são aqueles que mais se tornam suicidas.
No mundo todo, as taxas de suicídio subiram 60% nos últimos 50 anos e esse aumento foi significativo nos países em desenvolvimento. A maioria dos casos ocorre na Ásia, que reúnem até 60% do total.
O Brasil é o oitavo país em número de suicídios. Em 2012, foram registradas 11.821 mortes, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. Mas esses números podem ser maiores, visto que muitas vezes estes casos são relatados como mortes acidentais.
Por causa do estigma, apenas 60 dos 194 países da OMS coletam dados sobre o fenômeno. Diante dessa realidade, a entidade vai lançar-se em campanha para ajudar governos a desenvolver programas de prevenção e reduzir a taxa em 10% até 2020. Hoje, apenas 28 países têm estratégias nacionais de prevenção.
O suicídio
Pensar em tirar a própria vida é mais comum do que se imagina. De acordo com o psiquiatra João Alberto, professor de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), todo mundo já pensou em se matar em situações difíceis ou não. Para ele, o pensamento em sua própria destruição surge quando a pessoa acredita que não há solução para seus problemas. Esse tipo de reflexão vem à mente em momentos de crise. A crise é identificada em meio à desorganização mental, estresse e sensação de incapacidade de solucionar os problemas da vida.
A psicóloga Elzir Nascimento define o suicídio como uma prova de alguém que não consegue enfrentar os seus problemas, acreditando que a morte seria a solução. Porém, em sua opinião, o suicídio na verdade é só continuação do problema. "As pessoas têm a visão que morrendo os problemas acabam, mas na verdade eu acredito que a morte não é o fim", conta.
Conforme os especialistas, o que provoca o desejo de morte muitas vezes está associado a um alto nível de depressão. Entretanto, o psiquiatra João Alberto esclarece que o suicídio é um fenômeno humano e que todos estão sujeitos. "Necessariamente o suicida não significa que tenha uma doença mental", pontua.
O especialista ainda explica, contudo, que mais de 90% dos casos de suicídio a pessoa já tinha alguma doença psiquiátrica e que muitos demonstram o desejo da morte. João Alberto destaca que não é incomum que pessoa com depressão e que não são tratadas adequadamente recorram a drogas e álcool para aliviar o sofrimento. E que o uso excessivo deste pode piorar o quadro depressivo ou impulsionar a 'coragem' de tirar a própria vida.
Como Identificar
Além dos sinais diretos que a pessoa emite quando tem a intenção de se matar – falar explicitamente que quer morrer, por exemplo – alguns sinais indiretos também podem ser percebidos. Começar a se despedir de parentes e amigos, apresentar muita irritabilidade, sentimento de culpa e choros frequentes. Também pode começar a colocar as coisas em ordem e ter uma aparente melhora de um quadro depressivo grave, de uma hora para outra.
De acordo com o psiquiatra, normalmente a família não identifica quando algum membro tem o desejo de morte. Distração, não acreditar na possibilidade ou mesmo não pensar no assunto caracteriza grande parte das famílias. "Mas a família consegue e pode perceber quando alguém não está bem e precisa de cuidados médicos", alerta João Alberto.
Tratamento
Para o psiquiatra existe um mito de que conversar sobre o assunto pode induzir alguém a tentar. Ele afirma que isso é falso, ninguém comete suicídio por ter conversado sobre o assunto. Muito pelo contrário, abordar, perguntar se a ideia de suicídio passa pela cabeça é importante porque pode dar espaço para que a pessoa seja tratada e que o suicídio não aconteça.
"Tem pessoas que demonstram isso fácil e outras não. A melhor maneira ao observar uma pessoa com depressão, não importa o grau que seja, é levar essa pessoa a um especialista para um diagnóstico do transtorno emocional", assegura João.
A psicóloga Elzir Nascimento destaca que a pessoa depressiva tem que se cuidar para não chegar ao ponto do pensamento sombrio. Para ela, prevenir o ato é explicar que a morte não é a solução dos problemas.
Família
A melhor forma de aliviar uma dor é aliviar a dor do outro. Quem afirma é Elzir Nascimento, para a especialista é uma forma de compensar, aliviar ou diminuir uma dor profunda como uma morte de um ente seria trabalhando para ajudar a aliviar a dor do próximo. "Tudo isso é fato comprovado por pesquisas e livros, ir ajudar um orfanato, um hospital ou até mesmo um asilo é a melhor forma de tranquilizar a mente depois de uma morte", ressalta.
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