Risco para saúde pública

Data: 21/09/2014

Fonte/Veículo: O popular

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Contaminação da água pode explicar sazonalidade de ocorrência de doenças como virose

 

A relação entre água e saúde pública é inquestionável. O Ministério da Saúde trabalha, inclusive, com um grupo chamado de Doenças Transmitidas por Água e Alimentos (DTAs), do qual fazem parte todas aquelas que ocorrem em maior e menor grau, a depender da qualidade da água que bebemos.

Se confirmada, a possibilidade de contaminação dos lençóis freáticos pelo chorume dos lixões é algo que pode ajudar a explicar a sazonalidade, por exemplo, das famosas viroses. “De repente, observamos períodos em que elas ocorrem em maior quantidade e ficamos sem entender o porquê disso. Essas doenças podem estar vindo pelo lixo, pela água”, acredita o engenheiro sanitarista e analista ambiental da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Osmar Mendes.

Gerente de Vigilância Sanitária e de Serviços de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES), João Ferreira de Morais, pondera que cada caso deve ser analisado separadamente, principalmente no que se refere aos lixões. Ele alerta, no entanto, que, para transmitir doenças, a água não precisa necessariamente ser ingerida. Em se tratando de água contaminada, basta o contato por meio de banho ou consumo de alimentos que tenham sido lavados com ela.

CISTERNAS

Engenheiro civil e vice-coordenador da equipe de professores da Universidade Federal de Goiás (UFG) que está elaborando o Plano Estadual de Resíduos Sólidos (PERS), Eraldo Henrique de Carvalho expressa preocupação com aqueles que consomem água retirada de cisternas e moram em propriedades rurais próximas aos lixões. “A água subterrânea pode chegar ao manancial, mas tem um caminho longo a percorrer. Já quem coleta diretamente da cisterna, não trata nada. Consome direto”.

PREFEITURAS

A quantidade expressiva de lixões em Goiás impressiona (em pelo menos 77,6% dos municípios). A lei ambiental condena a existência deles desde a década de 1980 e, mesmo assim, a prática persistiu e precisou um Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) para estipular prazos e metas obrigando as prefeituras a se organizarem. A saída, diante da falta de terrenos, dificuldades financeiras e conhecimento técnico, tem sido a criação de consórcios entre vários municípios.

O lixão de Terezópolis de Goiás, na região metropolitana de Goiânia, está localizado dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do João Leite e, portanto, sobre a bacia de captação do ribeirão. Segundo o prefeito Francisco Alves de Souza Júnior (PMDB), o lixão foi colocado no local há cerca de 15 anos, antes mesmo da construção da barragem. “É uma área pública, adquirida pelo município. Até então, não teve problema de contaminação da água. Nunca chegou a ter”, afirma.

Hoje, com a presença da barragem, o prefeito reconhece o risco da proximidade do lixão e diz que não dá para continuar assim. Francisco e os prefeitos de outros quatro municípios próximos (Nerópolis, Goianápolis, Ouro Verde e Campo Limpo) criaram um consórcio para viabilizar a construção de um aterro. A medida se fez interessante, porque, além de dividir os custos da obra, facilita para Terezópolis, cujo território está inteiramente dentro da APA e da bacia de captação do João Leite, o que contraria as regras de localização de um aterro.

GOIANÁPOLIS

O município de Goianápolis vive situação semelhante a de Terezópolis. O lixão do município está próximo à nascente de um afluente do Ribeirão Sozinha, responsável pelo abastecimento do município. O prefeito Jeová Leite Cardoso (PP) defende que o local está abaixo do ponto de captação da Saneago, o que não gera riscos de contaminação da água consumida pela população.

“Temos de parar de trabalhar de forma improvisada”

Coordenadora da equipe técnica da Universidade Federal de Goiás (UFG), a engenheira geóloga Simone Costa Pfeiffer diz que se o problema não for resolvido logo, a ameaça pode ser tornar realidade.

21 de setembro de 2014 (domingo)

Esses lixões localizados sobre bacias de captação podem contaminar a água?

Podem. Bacias de captação são locais inadequados. O problema é que como se tratam de lixões, o que já é totalmente irregular, as áreas são selecionadas sem critério algum. Muitas vezes são escolhidas por conveniência ou por facilidade de acesso, sem levar em consideração as consequências disso. É possível que haja algum tipo de comprometimento do solo e da água, mas, é claro, em maior e menor grau, dependendo de elementos como quantidade de resíduos, tipo de resíduos, distância do leito do rio e outros.

 

Já teve algum caso de contaminação comprovado?

Não que a gente saiba. Nesse primeiro momento do Plano Estadual de Resíduos Sólidos, cruzamos apenas as informações de localização dos lixões com as dos perímetros das bacias de captação. Um pouco mais para frente, vamos jogar nos mapas mais informações disponíveis, fazer o cruzamento dos dados e tentar mostrar, pelo menos de forma geral, onde estão as melhores e piores áreas, onde se pode e não construir aterros sanitários.

No caso dos lixões, qual é o risco?

Quando a gente fala em lixão, estamos nos referindo a um local sem controle algum, com mistura de resíduos de todas as origens e tipos possíveis. Dos mais perigosos aos mais inofensivos, como o lixo doméstico, que mesmo assim não deixa de causar impacto, já que possui matéria orgânica.

 

Sabemos que o problema dos lixões é antigo. Existem lixões em Goiás com mais de 20 anos de existência. À medida que o tempo passa, essa ameaça à água fica pior?

Sim, claro. Quanto mais demorar para resolver essa questão, pior vai ficar, porque o volume de resíduos vai aumentando. Temos de parar de trabalhar de uma forma improvisada e passar para algo mais técnico. 

Fuente: O popular

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