Desafios para o planeta

Aumentar a produção de alimentos ou salvar a biodiversidade? Pesquisadores dizem que é possível fazer os dois, desde que os esforços sejam globalizados

Estudo dos pesquisadores Rafael Loyola e José Alexandre Diniz Filho da Universidade Federal de Goiás (UFG), Ricardo Dobrovolski, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Miguel Araújo, da Universidade de Évora, em Portugal, e Gustavo Fonseca, do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), nos Estados Unidos, oferecem soluções para as dificuldades de aumentar a produção agrícola sem comprometer a biodiversidade. A proposta é de que as decisões de conservação e a articulação com as políticas agrícolas sejam feitas de forma globalizada.

De acordo com os pesquisadores, existe um discurso de que é impossível conservar o meio-ambiente e aumentar a produção de alimentos ao mesmo tempo. No entanto, eles lembram que a garantia de condições mínimas do ecossistema, como qualidade da água e da terra, é imprescindível para que exista produção agrícola. “Esse discurso de incompatibilidade não é verdade: é possível atender as duas demandas desde que haja planejamento para tal”, afirma o pesquisador Rafael Loyola.

O grupo de pesquisadores fez um levantamento de todos os mamíferos do mundo e analisaram quais áreas poderiam ser transformadas em reservas para proteger parte desses animais. Com esse mapeamento, eles perceberam que desde que a mesma biodiversidade de algumas áreas fosse mantida em outros lugares, essas áreas poderiam ser utilizadas para cultivo. Ou seja, as unidades de preservação não eram estáticas.

Os cientistas também calcularam quantas toneladas de alimentos por área, por ano, deixariam de ser produzidas se todas aquelas áreas se transformassem em reservas. Eles fizeram esse cálculo em uma escala global, por blocos (União Europeia, Mercosul, Nafta) e para cada país. A conclusão foi de que a perda de alimentos será menor caso seja feita em uma estratégia global.

O melhor mecanismo encontrado pelos pesquisadores para desenvolver essa estratégia seria a Convenção de Diversidade Biológica, estabelecida durante a ECO-92 e que reúne mais de 160 países. A proposta é que uma comissão seja estabelecida dentro da convenção para organizar esse meio de campo entre os países.

De acordo com os pesquisadores, essa comissão também organizaria um mecanismo de transferência, para repassar verbas do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) aos países que participassem do projeto. As verbas seriam utilizadas para financiar projetos que propusessem adequar a agricultura ao projeto global de conservação. “A utilização desse fundo seria para que os países que não protegem o meio-ambiente, não usem como desculpa a falta de recursos”, afirma Rafael Loyola.