Traços poéticos

Data: 11 de outubro de 2014

Fonte/veículo: O Popular

 

Diretor do curta Viagem na Chuva, o goiano Wesley Rodrigues se destaca no cenário da animação

 

 

O filme goiano Viagem na Chuva, de Wesley Rodrigues, teve a chance de ser exibido no Goiânia Mostra Curtas, festival de curtas-metragens que está sendo realizado até amanhã no Teatro Goiânia, em várias sessões. O filme está presente em três categorias: Curta Mostra Brasil, que oferece um painel da produção nacional e cuja última sessão será hoje à noite, Curta Mostra Goiás, dedicada à produção goiana, e também integra a Mostrinha, com títulos escolhidos para atender à garotada e que será exibida amanhã, a partir das 10h30.

O filme foi selecionado por vários festivais nacionais e internacionais e foi premiado no último Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás. A carreira de Viagem na Chuva está seguindo os belos passos de Faroeste: Uma Autêntico Western, sua animação anterior, premiada no Festival de Brasília de 2012 e no Anima Mundi – Festival Internacional de Animação.

PROJETO ANTIGO

Segundo o diretor Wesley Rodrigues, o projeto para a nova animação é bem antigo. “O Chuva surgiu na época que eu cursava Artes Visuais na UFG. Era meu trabalho de conclusão de curso. Desde o início minha intenção foi fazer uma animação poética e que pudesse me dar a oportunidade de explorar o potencial expressivo dos desenhos e das cores”, recorda o cineasta.

Logo que se formou ele foi convidado para trabalhar na Otto Desenhos, em Porto Alegre, estúdio do renomado Otto Guerra. “Fiz parte da equipe de animação de longa Até que a Sbornia nos Separe por quatro anos e o longa será lançado em breve. O resultado ficou bom e para mim foi uma grande oportunidade, porque aprendi muito durante o processo”, disse o diretor goiano. Viagem na Chuva já virou livro e pode ser adquirido atráves do link www.facebook.com/viagemnachuva.

Programação de hoje

11 de outubro de 2014 (sábado)

14h – Curta Mostra Especial – Revolução Criativa na TV Independente

FRAU (SP). Documentário. 1983. De Isa Castro, Tadeu Jungle e Walter Silveira

Non Plus Ultra (SP) Ficção. 1985. De Tadeu Jungle

VT Preparado AC/JC (SP) Experimental. 1986. De Pedro Vieira e Walter Silveira

Avesso/Futebol (SP) Documentário. 1984. De Tadeu Jungle

Local: Teatro Goiânia


15h – Oficina: Cineastas indígenas para jovens e crianças, com Rita Carelli, Atriz, escritora e ilustradora

Local: Fnac (Shopping Flamboyant)


16h – Debate Curta Mostra Especial – Brasil 1980: Revolução Criativa na TV Independente com Marcelo Machado, Marcelo Tas, Tadeu Jungle e Walter Silveira. Mediação de Francisco César Filho.

Local: Teatro Goiânia


19h – Curta Mostra Brasil

– Contos da Maré (RJ) Documentário. 2013. De Douglas Soares

Sem Coração (PE) Ficção. 2014. De Nara Normande e Tião

La Llamada (SP) Documentário. 2014. De Gustavo Vinagre

Casa Forte (PE) Experimental. 2013. De Rodrigo Almeida

Edifício Tatuapé Mahal (SP) Animação. 2014. De Carolina Markowicz e Fernanda Salloum

O Bom Comportamento (RJ) Ficção. 2014. De Eva Randolph

Jardim Tókio (PR) Ficção. 2014. De Rodrigo Grota

Estátua! (SP) Ficção. 2014. De Gabriela Amaral Almeida

Nua por Dentro do Couro (MA) Ficção. 2014. De Lucas Sá

Coice no Peito (SP) Ficção. 2014. De Renan Rovida

Local: Teatro Goiânia

Marcelo Tas participa de debate hoje

11 de outubro de 2014 (sábado)

Já na reta final, o festival Goiânia Mostra Curtas exibe em seu penúltimo dia uma programação variada, com duas mostras diferentes, debates e oficinas. A partir das 14 horas, tem início a mostra especial Brasil 1980: Revolução Criativa na TV Independente, que traz à tona um panorama das produções em vídeo dos anos 80, em particular da produção que mesclava de forma criativa e irreverente o cinema, a videoarte e a comunicação de massa.

Após a exibição de várias obras desse período, será realizado um debate com nomes que participaram desse turma e que até hoje influenciam a produção audiovisual brasileira: Marcelo Machado, cineasta e diretor de TV; Walter Silveira, artista multimídia; Tadeu Jungle, artista multimeios, e Marcelo Tas, jornalista, autor, diretor e apresentador de TV. Amanhã a mostra especial prossegue a partir das 15 horas, no mesmo local.

A partir das 19 horas, será realizada a última sessão da Mostra Brasil. Com curtas-metragens de todo o País, a mostra traz filmes recentes e representativos do melhor que vem sendo produzido no Brasil neste formato. Documentários, animação, terror, drama, comédia e obras experimentais dividem a tela montada especialmente para o evento no Teatro Goiânia. A entrada é gratuita.

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Tentei construir um poema gráfico”

11 de outubro de 2014 (sábado)

 

Wesley Rodrigues

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Viagem na Chuva é muito elaborado. Como foi a produção? Você ainda desenha no papel?

 

Como se trata de um filme de autor, eu acabei fazendo quase tudo sozinho desde a concepção inicial até a montagem do filme. Por falta de recursos, tive que parar de produzir o filme logo que saí da faculdade. Trabalhei em vários outros projetos até a retomada, quando consegui um financiamento em um edital da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura. Praticamente todos os cenários do filme foram feitos com tinta a óleo sobre papel e depois finalizados no computador. Comecei a fazer a animação no papel, mas decidi migrar para o digital. Na verdade foi só uma mudança de meio, porque tive que continuar fazendo os desenhos um a um para ter o movimento dos personagens. A música é um outro aspecto muito importante para o filme. O Dênio de Paula, que criou as músicas, conseguiu captar o espírito do filme e conseguiu trazer uma boa personalidade para o trabalho.


O curta não é muito direto. Você poderia comentar a linguagem do filme.

É um trabalho em que as pessoas têm que se deixar levar pelos desenhos e pela fluidez dos movimentos. A montagem das sequências foi feita tentando imitar a montagem dos sonhos. Por vezes tudo parece meio fragmentado e depois, quando acordamos, é que vamos ficar tentando montar aquelas imagens para achar um significado. E aí o espectador tem a chance de construir o filme junto com o autor. Conceitualmente, eu quis trabalhar a imagem da chuva e do circo como metáforas de passagem de tempo. Quis falar de lembranças, do tempo que passa e que não podemos recuperar. Com esse tema tão pessoal e tão subjetivo, pensei que a linguagem mais apropriada seria mesmo um poema. Tentei construir um poema gráfico, onde cada plano do filme pode ser lido como versos.


Viagem na Chuva está participando de várias mostras diferentes no Goiânia Mostra Curtas. Como você está recebendo esse reconhecimento? Esperava que ele fosse selecionado para uma mostra infantil?

Eu me lembro do Marionetes, que foi exibido no Goiânia Mostra Curtas em 2006. Era nosso primeiro curta, feito na época da faculdade com um grupo de amigos. Nosso maior sonho nessa época era poder trabalhar com desenho animado. E depois desses anos ter um outro curta sendo exibido em tantas mostras desse mesmo festival me deixa realmente muito feliz, por marcar esse amadurecimento como profissional. Acredito no poder mágico que tem a animação. Ela nos abre a possibilidade de sonhar e nos coloca em contato com um universo lúdico. Este filme não foi exatamente pensado para crianças. Mas o adulto e a criança podem assimilar o que está sendo passado de maneiras diferentes. Fico feliz em saber que este filme também possa ser compartilhado com as crianças.


Como você avalia o cenário atual do mercado goiano de cinema? É muito difícil fazer animação por aqui?

Penso que não só em Goiânia, mas no Brasil todo a animação vem passando por um processo de crescimento tanto em termos de produção quanto de qualidade artística dos projetos. É difícil fazer animação em qualquer lugar, mas sou daqueles que acredita que uma boa animação se faz mais com idealismo, dedicação e acima de tudo colocando o coração no projeto. Claro que os recursos que vêm de políticas de fomento são importantíssimos, porque ajudam a tornar o trabalho de fazer um filme menos árduo e a chance de se dedicar integralmente a um projeto. Penso que o mais importante é começar e sempre seguir adiante superando os problemas no decorrer do processo. A animação hoje sobrevive em Goiânia e no Brasil muito mais por causa disso. Pelo idealismo de pessoas que sonham em fazer algo significativo e compartilhar isso com outras pessoas.

Entrevista/Júlio Cavani

 

As artes plásticas me influenciam”

11 de outubro de 2014 (sábado)

As artes plásticas e a natureza são o ponto de convergência do curta-metragem A História Natural (PE), ficção experimental dirigida por Júlio Cavani, que participa do festival Goiânia Mostra Curtas na categoria Curta Brasil e dirigiu a premiada animação Deixem Diana em Paz. Em entrevista ao POPULAR, o diretor comenta sobre a inspiração para o novo curta e a relação do trabalho com outras artes. Ele também dá seu testemunho sobre o momento excepcional do cinema pernambucano, cuja produção de longas-metragens como O Som ao Redor, além de vários curtas, tem sido premiada em festivais no Brasil e no exterior.

 

Como foi a concepção de A História Natural?

O filme é inspirado em observações sobre lugares onde a natureza parece resistir e manter sua essência apesar de estar cercada pelas transformações provocadas pela civilização. A história começa no topo da árvore mais alta de uma floresta, que é escalada pelo personagem principal. Sempre gostei de observar essa árvore, que fica nos arredores do Recife, e resolvi criar um filme em torno dela.


Esse trabalho também tem influência das artes plásticas como o seu curta anterior?

Meu pai é artista plástico e sou crítico de arte, então acho que as artes plásticas influenciam tudo o que faço. O filme tem muitas paisagens e composições elaboradas com critérios plásticos. Há também uma espécie de escultura que serve como ponto de condução para as reflexões sugeridas.


Já é o terceiro festival do curta, não é? Qual a importância dessa carreira nos festivais para um filme de curta-metragem?

O filme já foi projetado no Festival de Gramado, no Festival Internacional de Curtas de São Paulo e no Festival do Rio. A melhor coisa de mostrar o filme em festivais é poder ouvir novas interpretações do público de cada cidade. Cada pessoa descobre significados diferentes. Cada festival tem seu perfil. É legal ouvir impressões de profissionais do meio cinematográfico, mas é ainda mais interessante ouvir o que o público em geral tem a dizer.


Como você avalia esse sucesso do cinema pernambucano atualmente? Aliás, você vê algo em comum nesta produção, além do geográfico?

Acredito que os pernambucanos sempre tiveram boas ideias para filmes, mas elas só puderam ser concretizadas nos últimos anos graças às facilidades trazidas pelas novas tecnologias digitais e aos patrocínios governamentais. Se essas condições de produção tivessem sido oferecidas antes, o cinema pernambucano já estaria conquistando prêmios há mais tempo.

 

 

Source: O Popular

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