O mundo sem tamanho de Gero Camilo
Data: 21/10/2014
Veículo: O Hoje
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Repórter: Júnior Bueno
Poeta, ator e cantor, artista faz show em Goiânia para lançar seu segundo CD, e canta várias faces do Brasil
Vixe Maria, o mundo é grande pra dedéu!” Assim começa Megatamainho, canção que dá nome ao CD de Gero Camilo. O verso serve também para se ter uma dimensão do universo criativo do artista. O álbum, segundo em sua carreira, é repleto de reflexões sobre o cotidiano, seja na forma de poesia lírica ou como protesto bem-humorado.
Gero, que se apresenta amanhã e na terça-feira em Goiânia, tem o Ceará, seu Estado natal, como ponto de partida, mas é de São Paulo, onde vive há 20 anos, que ele canta o mundo, misturando no som de sua poesia todos os “Brasis” possíveis. Apesar da projeção que ganhou com filmes como Bicho de Sete Cabeças e Carandiru e de dois discos lançados, ele se considera mais poeta que somente um ator que canta. É ele quem assina a maioria das canções de Megatamainho, seja sozinho ou em parceria. E os coautores das estórias cantadas são um time respeitável dentro da banda boa da música brasileira.
O baiano Luiz Caldas é o parceiro em Meu Diadorim, balada de tom roqueiro e poética afinada com o espírito brasileiro do disco. Vanessa da Matta ajuda na composição de uma música que brinca no terreno do samba, embora o título, Cordel em Desacordo, sugira tema de pegada nordestina. O nome do pernambucano Otto em O Amor a Fonte a Poesia não causa espanto porque quem assina a produção do CD é Mestre Bactéria, nome ligado ao universo do mangue beat.
O CD foi gravado em São Paulo e no Recife e isso, segundo Gero, foi fundamental para a sonoridade que ele conseguiu. “Aqui eu descobri uma sonoridade que casou com o que eu já tinha em São Paulo, como o grupo feminino As Orquídeas do Brasil, que cantavam com o Itamar Assumpção. Tem também um grupo de percussão só de mulheres do Recife e uma tocadora de sanfona da Bahia,” conta ele.
Do mangue beat vem também o percussionista Toca Ogan, que bate seu tambor em temas de autoria de Gero Camilo como Infinito Meu e A Mensagem, parceria com o cantor e compositor Rubi. Para o goiano Rubi, que assina com ele duas faixas, o artista se derrama em elogios: “Ter o Rubi nesse disco é um presente de Deus,” diz ele em entrevista ao Essência. Porém, a maior surpresa é Chuchuzeiro, composição do rapper Criolo feita especialmente para Gero. Cantada em ritmo de forró melodioso, a música é uma das que falam de amor no disco. Outra composição que ele não assina é Amor em Ode ao Sol, do ator Luís Miranda em parceria com Cristiano Karnas. As duas falam de amor com leveza, enquanto outras são carregadas de provocações e reflexões políticas.
A faixa-título mesmo fala sobre a pequenez do ser humano em não aceitar as diferenças diante de um mundo tão vasto. A música surgiu de uma conversa de Gero com o ator Caco Ciocler sobre os conflitos entre judeus e palestinos. “Eu falo da quebra de barreiras, de não haver cultura superior a outra,” explica ele. A cantoria que abre o disco, introduzindo Catarina dá a pista do tom interiorano que caracteriza o repertório do álbum. Ainda que na receita também tenha samba, rock e forró no universo eclético do artista multimídia.
Gero nasceu Paulo Rogério da Silva, em Fortaleza, e quando criança se imaginou padre jesuíta. Por meio da Igreja, conheceu a Teologia da Libertação, em voga nos anos 70 e 80 e através dela, foi para São Paulo. Formado pela Escola de Artes Dramáticas (EAD), começou a carreira nos palcos como ator e dramaturgo.
No cinema são 17 trabalhos, que vão do cultuado Cidade de Deus à produção hollywoodiana Chamas da Vingança. Na TV, esteve em trabalhos de grande prestígio junto à crítica, como as minisséries Hoje é Dia de Maria e Som e Fúria. E paralelamente a essa carreira multifacetada, ainda existe a música e a literatura. Além de peças, ele também escreveu livros.
Entrevista
No palco você é um ator que canta, um cantor que atua ou um poeta a serviço das duas coisas?
A última opção. O meu Vinícius de Moraes sempre vence. O ator ajuda o cantor a se expressar e o cantor põe música no que eu quero dizer. Na verdade, as duas coisas se complementam, mas minha essência é de poeta.
Quando a música surgiu na sua vida?
Acho que desde sempre. O que vem primeiro é a poesia. Eu tenho essa adoração pelos versos e à medida que me envolvo em escrever, eles quase que pedem para serem musicados. Os trovadores faziam isso, os menestréis também. Eu sempre escrevi desde criança, mas as primeiras composições musicais são de quando eu fui para São Paulo, com vinte e poucos anos. No Ceará eu ouvia muito a rádio Universitária, porque ela não tocava música estrangeira. Então eu ouvi muito Fagner, Belchior, Ednardo, os tropicalistas, os mineiros como o Milton, e Cazuza também. Então, como eu já escrevia, fazer música foi só um passo adiante.
Como foi criar com parceiros musicais como Criolo, Vanessa da Matta, Otto e o goiano Rubi, entre outros?
Eu tenho admiração por todos eles. O Rubi, que é goiano, é um dos maiores artistas do País. É emocionante ouvir a voz dele, potente, linda. É um artista que o Brasil precisa conhecer melhor. Tê-lo nesse disco é um presente de Deus. Nós temos um projeto futuro de um disco em parceria. A Vanessa pôs música em um poema que eu tinha escrito num livro de contos meu chamado A Macaúba da Terra. O Otto eu considero um padrinho desse disco e foi o produtor Bactéria, que já tocou com o Otto e tem história no mangue beat, que sugeriu o nome dele. E o Criolo e eu temos muito em comum, os pais dele são cearenses, e ele é um artista que não se prende somente ao rap, como se espera.
Você já disse que não cai em discurso regionalista e que sua identidade nordestina é uma expressão poética, não uma bandeira. Como é ser um artista nordestino no mundo?
Há uma música do Belchior que eu cito no show como um rap, que diz que o Nordeste é uma ficção, ‘não sou da nação dos condenados, não sou do sertão dos ofendidos’ e é mais ou menos como eu penso, eu levo essa identidade comigo e ela é parte de mim, mas como eu digo em Megatamainho, precisamos derrubar as fronteiras, ser tudo um só.
Serviço
Show completo de lançamento do CD Megatamainho
Local: Centro Cultural UFG – Avenida Universitária, nº 311 – Setor Universitário
Data: 21 de outubro (terça-feira)
Horário: 21h
Ingressos: R$ 20/R$ 10 meia
Fuente: O Hoje
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