Estudo inédito realiza radiografia das pastagens brasileiras

Projeto da UFG comprova que uso estratégico das pastagens pode reduzir emissão de gases de efeito estufa e alavancar produção e exportação de alimentos

Como desmatar menos, diminuir a emissão de gases poluentes e, ao mesmo tempo, aumentar a produção de alimentos, inclusive carne, para uma população mundial crescente? Pesquisadores do Laboratório de Processamento de Imagens da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG) apostam que a solução para a questão é investir no uso eficiente das pastagens.

O laboratório desenvolveu, em parceria com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, um estudo pioneiro no país: o projeto Radiografia das Pastagens do Brasil, que já comprovou que o uso mais eficiente das áreas de pasto é fundamental para o alcance das metas de redução das emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, para alavancar a produção e exportação de alimentos e para adaptação às mudanças climáticas.

Ainda em desenvolvimento, o projeto começou em parceria com a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que já resultou em vários artigos publicados. O projeto também despertou o interesse da Gordom and Betty Moore Foundation - fundação americana conhecida por desenvolver projetos para a melhoria da qualidade de vida para as gerações futuras - que investiu mais de 500 mil dólares na pesquisa.

Pecuária mais eficiente

Para o coordenador do Lapig e do projeto Radiografia das Pastagens do Brasil, Laerte Guimarães Ferreira, a grande preocupação do mundo hoje écom a segurança alimentar e o Brasil é uma das grandes potências agrícolas mundiais. Como desmatar mais não é uma opção viável, a saída, segundo ele, está em ocupar melhor as áreas já desmatadas. Segundo o pesquisador, as pastagens, que hoje ocupam cerca de 25% do território brasileiroconstituem reservas de terra mais baratas e ecologicamente corretas. Por isso, Ferreira ressalta que hoje é estratégico para o país ter uma pecuária mais eficiente.

O pesquisador lembra, no entanto, que recuperar essas pastagens tem custos relativamente altos. Além disso, é preciso levar em conta que o processo de ruminação dos bovinos gera gás metano e é preciso compensar via aumento do carbono (sequestrado) no solo. Tudo isso precisa ser trabalhado para que o Brasil tenha uma pecuária ambientalmente correta, mais produtiva e mais sustentável.

Sobre a conscientização dos proprietários rurais, Laerte Ferreira afirma que compete aos órgãos governamentais levar a eles essas informações, masé otimista. Ele acredita que as próprias pressões do mercado vão fazer com que o produtor queira se adaptar. “O fato é que o clima do mundo está mudando. E esse alerta da crise da água agora vai servir para abrir os olhos e mudar a mentalidade das pessoas”, pontua.

Referência no país

A pesquisa também trouxe melhorias para a estrutura do Lapig. Graças aos recursos deste e outros projetos, o laboratório da UFG é hoje referência no país quando o assunto é processamento de imagens. “Entre as universidades federais, este é certamente laboratório com a melhor estrutura computacional e equipamentos para pesquisa de ponta em sensoriamento remoto, garante Ferreira.