Detectado surto de tripanossomose

Data: 23 de maio de 2015

Fonte/Veículo: O Popular

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Caso de Ipameri é o primeiro registrado em bovinos em Goiás. Doença gera perdas elevadas e pode levar animal à morte

O primeiro surto de tripanossomose bovina foi detectado em Goiás em uma fazenda próxima ao município de Ipameri. A doença, causada por protozoário que parasita o sangue dos animais, é de grande importância econômica, pois pode gerar perdas de até 70% na produção de leite.

No Brasil, a doença já foi detectada no Pará, Amapá, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Paraíba, Maranhão, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e São Paulo. O uso de equipamentos contaminados, como seringas e agulhas, são os principais vetores de transmissão e o manejo inadequado pode infectar todo o rebanho (veja quadro).

Na propriedade goiana o problema ocorreu mesmo com alto nível de tecnificação. O médico veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ/UFG), Thiago Souza A. Bastos, explica que o pecuarista possuía um rebanho com 160 animais e adquiriu mais 18 da raça girolando, de origem desconhecida, em um leilão.

Passados dezesseis dias após a chegada dos bovinos na propriedade, três deles apresentaram decúbito e, no 20º dia, foi observada queda de 25% na produção de leite. “Seis animais morreram no 22º dia e o proprietário relacionou as mortes a erros no manejo nutricional. Outros seis animais também morreram até o 42º dia. Devido aos acontecimentos, o produtor solicitou apoio na Escola de Veterinária”, explica Thiago.

Diagnóstico

Após o pecuarista relatar a presença de um grupo de, aproximadamente, 20 animais com sinais clínicos de anemia, caquexia, lacrimejamento, diarreia sanguinolenta em um animal, fraqueza nos membros posteriores, decúbito, emagrecimento, aborto e morte, foi colhido sangue de cinco animais.

O exame foi encaminhado para o laboratório de Diagnóstico de Doenças Parasitárias dos Animais da EVZ/UFG. No exame parasitológico direto foi detectada alta parasitemia por tripanossomatídeos em todas as amostras analisadas, confirmando a doença nos bovinos. O médico veterinário explica que este caso foi desencadeado após manejo inadequado na aplicação de medicamento endovenoso.

“Enquanto realizava-se a anamnese, foi relatado pelo proprietário que diariamente as fêmeas recebiam ocitocina por via endovenosa antes da ordenha, para auxiliar na descida do leite. Esta prática era realizada há mais de três anos na propriedade. A aplicação era feita na veia epigástrica cranial superficial, empregando a mesma agulha e seringa para todos os animais. A partir destas observações, foram transmitidas recomendações que visavam tratar os animais contra a enfermidade e interromper a transmissão da doença”, explica Thiago Souza.

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Perdas de grande alcance na atividade

O médico veterinário Rafael Costa Vieira, gerente do Laboratório de Análise e Diagnóstico Veterinário da Agrodefesa (Labvet) e tesoureiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Goiás (CRMV-GO), afirma que a doença, sempre que confirmada, é de notificação obrigatória ao serviço veterinário oficial.

Os estragos causados pela tripanossomose bovina estão relacionados à queda da produção diária de leite e à perda do animal afetado, pois nos casos mais graves a doença pode levar à morte de forma rápida, em até sete dias. Rafael explica que, com o rebanho infectado, a produtividade pode cair mais de 70%.

“O grande problema da doença é a perda na produção, que gera prejuízos para o produtor e, consequentemente, para a atividade como um todo. Dificilmente há apenas um animal infectado, portanto o que precisa ser feito são adequações no manejo nas propriedades. Os produtores precisam corrigir os fatores que disseminam a doença. Geralmente, estão relacionados ao uso compartilhado de agulhas”, alerta.

De acordo com o médico veterinário da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, Thiago Souza, as perdas em produtividade na fazenda de Ipameri já chegam a 50%. A fazenda produzia, aproximadamente, 1.200 litros por dia e após o ocorrido está produzindo cerca de 600 litros.

“Existe tratamento, mas o remédio é um quimioterápico que não pode ser utilizado por muito tempo. O que acontece é que, quando se suspende o uso do medicamento, o animal pode vir a apresentar os sinais clínicos da doença novamente”, diz.

Outra investigação

Thiago informa que uma outra propriedade, também próxima a Ipameri, será investigada, pois os animais têm apresentado sintomas semelhantes. “A UFG tem o interesse de trabalhar em conjunto com a Agrodefesa para dar apoio ao produtor. É importante que o Senar ajude nessa luta preventiva e no desenvolvimento de palestras para veterinários, pois como não havia caso em Goiás, muitos profissionais não conhecem a doença”, frisa.

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