Pesquisa analisa a transmissão de ideias do feminismo brasileiro de uma geração para outra
Estudo da UFG abordou movimentos identificados como feministas entre 1980 e 2014. Atuação recente de jovens feministas nas redes sociais foi um dos pontos observados
O feminismo é um movimento político coletivo que defende o reconhecimento e a legitimação da mulher na sociedade. Essa característica pressupõe a necessidade de estratégias de continuidade ao longo dos anos. A pesquisa Estratégias de Transmissão Intergeracional no Feminismo Brasileiro,realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), investiga as possibilidades e limitações presentes na transmissão do ideário feminista – princípios, saberes, valores etc. – ao longo dos anos.
A pesquisa é de abrangência nacional, contendo informações que abarcam grupos – formais e informais – e núcleos de pesquisas acadêmicos de todas as regiões brasileiras, além de entrevistas em profundidade com 43 ativistas, pesquisadoras e pesquisadores de idades diversas e pertencentes a gerações igualmente diversas. A investigação cobre o período de 1980 a 2010, tendo sido ampliada para 2014.
Coordenada pela professora Eliane Gonçalves, da Faculdade de Ciências Sociais (FCS), a pesquisa tem como objetivo geral investigar como os diversos movimentos identificados como “feministas” – ONGs ou grupos informais, redes e fóruns e núcleos acadêmicos – enfrentam o problema da passagem do tempo, como investem na formação técnica, intelectual e política de pessoas, visando sua “transmissão”.
Redes Sociais
Segundo a pesquisadora, um dos principais pontos do estudo está na compreensão e no posicionamento das “jovens” no feminismo brasileiro, identificadas na pesquisa como um grupo conectado e bem articulado, que interage majoritariamente pelas redes sociais. “Esse segmento das meninas muito jovens, de 17 e 18 anos, que estão entrando no feminismo e já tem um discurso muito articulado; basicamente, elas atuam nas redes sociais, o que é uma diferença muito grande do ponto de vista geracional”, explica.
Eliane Gonçalves, que ingressou no movimento feminista nos anos 80, aponta essa velocidade na evolução tecnológica como fator marcante desses grupos mais jovens, ressaltando que a interação online acontecia em uma escalada consideravelmente menor antes de 2011, quando a pesquisa foi iniciada.
“Até 2011, a questão do 'feminismo jovem' estava circunscrita ao feminismo, ou seja, o debate ocorria no interior do movimento. A gente já tinha texto publicado sobre a atuação das jovens e a demanda delas. E (o 'feminismo jovem') não era um fenômeno de mídia, como se tornou dos últimos três anos, principalmente 2015, que foi chamado de 'primavera feminista'”, explicou a pesquisadora. Esse tipo de desdobramento foi analisado com a ajuda de alunas em projetos de iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso e pesquisas de pós-graduação.
Extensão
A pesquisa Estratégias de Transmissão Intergeracional no Feminismo Brasileiro teve, também, um desdobramento externo, que resultou em três cursos de extensão, sendo o último deles o Tramas & Redes: Feminismos pelo fim da violência contra as mulheres, realizado entre 2014 e 2015 com a presença de feministas e estudantes ligadas à Universidade Federal de Goiás (UFG) e da comunidade ampliada – capital e interior do Estado.
Realizado pelo Coletivo Ocupa Madalena e pelo Grupo Transas do Corpo, em parceria com o Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (Ciar)/UFG e outros grupos e instituições, o curso propôs o diálogo entre homens e mulheres por meio da arte e da sensibilidade das relações interpessoais. Todo o conteúdo do curso está disponível no site da formação.
Source: Ascom/UFG