UFG desenvolve métodos de identificação de uísques falsificados
O estudo é realizado em parceria com o Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal de Brasília e já analisou seis marcas de uísque
Pesquisa do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (UFG) estuda a autenticidade de amostras de uísques apreendidos. O projeto é desenvolvido pelo Laboratório de Microfluídica e Eletroforese (LME) e financiado pelo Programa Ciências Forenses (Pró-Forenses), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O estudo envolve ainda laboratórios da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade de São Paulo (USP) e Unidade Técnico-Científica da Polícia Federal de Uberlândia. Cada laboratório trabalha com alguma temática relacionada à ciência forense, tendo em comum o desenvolvimento de métodos portáteis para aplicação no campo.
A adulteração de uísques é uma das vertentes trabalhadas no projeto, que utiliza amostras falsificadas cedidas pela Polícia Federal de Brasília. Na UFG, os estudos são coordenados pelo professor Wendell Coltro. Um dos métodos desenvolvidos no grupo permite a identificação da adulteração em um intervalo de tempo inferior a dois minutos usando apenas uma gota de amostra. “Eu posso afirmar que a minha metodologia funciona levando-se em consideração a presença de sinais elétricos medidos em um equipamento portátil, os quais apresentam intensidades diferentes quando a amostra é original ou falsificada ou através da presença de novos sinais, os quais são relacionados a espécies iônicas. O método desenvolvido permitiu identificar corretamente pelo menos 93% das amostras apreendidas pela Polícia Federal”, explica a mestranda e integrante do Laboratório, Kariolanda Rezende.
Metodologias
Na identificação de uísques falsificados, o LME está trabalhando com duas metodologias distintas. A primeira é um teste colorimétrico em papel, que consiste na busca por espécies químicas presentes nas amostras falsificadas e ausentes nos produtos autênticos. Além disso, o método também permite a determinação dos níveis de concentração de algumas substâncias, viabilizando a identificação rápida das amostras adulteradas. Desenvolvido pelo doutorando e integrante do LME, Thiago Cardoso, este teste se baseia em uma reação química que promove a formação de um produto colorido, sendo sua intensidade diretamente relacionada à concentração.
“Estamos monitorando a presença de açúcares e espécies iônicas, pois os peritos de Brasília relataram que, normalmente, o uísque é adulterado pela diluição de uma amostra original com água de torneira, colocando uma bebida de qualidade inferior, como a cachaça, para corrigir o teor alcoólico e adicionando caramelo para corrigir a cor”, conta Kariolanda. Como muitas vezes o caramelo usado é de produção caseira, os pesquisadores estão monitorando a presença de açúcares nas amostras. Segundo Thiago Cardoso, “A presença de glicose é observada pela mudança na coloração, de incolor para rosa ou magenta”, explica.
A segunda metodologia trabalhada leva em consideração que as amostras são diluídas em água. “A água de torneira, a gente sabe que tem cloro e flúor, que são adicionados pelas companhias de saneamento durante o processo de tratamento da água para abastecimento da população. Eu faço o teste por uma técnica chamada eletroforese em microchips. Os uísques autênticos contêm concentrações baixas de cloreto e fluoreto. Por outro lado, o uísque adulterado apresenta concentrações elevadas desses dois íons. Então, se essas substâncias estiverem presentes em quantidades diferentes do padrão original, é um forte indício de que a amostra é adulterada”, afirma a pesquisadora. Pela metodologia da eletroforese, Kariolanda já testou seis marcas de uísque.
Artigo
Os pesquisadores responsáveis pela pesquisa publicaram, recentemente, o primeiro artigo resultante dos estudos desenvolvidos. Intitulado Authenticity screening of seized whiskey samples using electrophoresis microchips coupled with contactless conductivity detection (ou, em português, Triagem de autenticidade de amostras de uísque apreendidas usando microchips eletroforéticos com detecção condutométrica sem contato), o artigo foi publicado no periódico Electrophoresis, considerado o principal da área da Eletroforese.
Fuente: Ascom