Pessoas com HIV são propensas a doenças crônicas não transmissíveis

Obesidade, diabetes, osteoporose, aumento do colesterol e dos triglicérides são alguns dos problemas detectados com frequência nessa população

Mais de 38 mil novos casos de HIV/Aids são notificados anualmente no Brasil. Apesar do grande número de casos, a melhoria no trabalho de detecção e a qualidade dos medicamentos e tratamentos oferecidos às pessoas infectadas têm garantido um aumento na expectativa e na qualidade de vida. Entretanto, embora as pessoas infectadas agora vivam mais e tenham menos infecções oportunistas, elas apresentam mais doenças crônicas não transmissíveis em idade mais precoce. Pesquisadores do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) e da Faculdade de Nutrição (FANUT) da Universidade Federal de Goiás (UFG) avaliaram a presença de alterações metabólicas em pessoas HIVpositivas em tratamento.

A pesquisa foi realizada no Hospital das Clínicas da UFG e no Hospital de Doenças Tropicais de Goiânia com cerca de 550 pessoas entre 19 e 70 anos acompanhadas nos ambulatórios das duas unidades. Obesidade e alteração do perfil lipídico, com redução do “bom colesterol” e aumento dos triglicerídios, foram detectadas com frequência elevada nessa população. A obesidade foi mais comum entre as mulheres: “A frequência de obesidade em mulheres infectadas pelo HIV é muito alta, mais de 40% delas estão com o peso acima do ideal. Isso também acarreta uma série de outros problemas, como a hipertensão e a diabetes”, afirma a pesquisadora, Marília Turchi.

Também foram investigados em grupos de pacientes os riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e de alterações ósseas, como a osteoporose. De acordo com a pesquisa, 25% dos pacientes apresentavam risco de moderado a alto de terem um evento cardiovascular, como infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC), dentro de 10 anos após realizada a avaliação de risco. O estudo destaca ainda que uma parcela alta dos participantes apresentava fatores de risco modificáveis para doenças cardiovasculares, tais como obesidade, dislipidemias e tabagismo, sendo que 25% eram fumantes.

Em relação à osteoporose, a pesquisa evidenciou uma diminuição da massa óssea em homens HIV positivos já por volta dos 40 anos. De modo geral, na população masculina não infectada pelo HIV, a osteoporose é problema após os 70 anos de idade. Esses resultados sugerem um envelhecimento precoce dos indivíduos HIV positivo. De acordo com a pesquisadora, o estudo sinaliza que pessoas vivendo com HIV/Aids devem ser avaliados em relação à osteoporose e risco de fraturas em idade mais precoce do que a recomendada para população geral.

Hábitos saudáveis

Segundo Marília Turchi, a inflamação crônica causada pelo HIV, associada aos efeitos dos medicamentos antirretrovirais e aos hábitos de vida não saudáveis são responsáveis por várias alterações metabólicas associadas ao envelhecimento precoce. “Os medicamentos antirretrovirais são essenciais para a manutenção da vida e trazem inúmeros benefícios. As pessoas infectadas que tomam a medicação regularmente têm vivido mais e melhor. A questão é que essa população tem mais riscos para doenças crônicas não transmissíveis e precisa adotar estilo de vida saudável”, afirma.

Dia Mundial de Luta 

No próximo dia 1º, é celebrado o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. O estudo reforça a necessidade de programas de intervenção direcionados às pessoas vivendo com HIV/Aids com vistas à redução da obesidade, cessação do tabagismo e redução do risco de fraturas patológicas, mediante a adoção de práticas alimentares saudáveis, atividades físicas regulares e manutenção do peso.

Fonte: Ascom