Fronteira Festival começa hoje em Goiânia

Data da notícia: 16/03/2017

Veículo/Fonte: O Hoje

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Neste ano, o III Fronteira – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental (FFF) e a I Bienal Internacional do Cinema Sonoro (BIS) firmaram parceria em uma produção unificada e dá inicio às mostras nesta quinta-feira. Já na terceira edição, o festival transforma Goiânia na capital mundial de cinema experimental, recebendo personalidades mundiais para prestigiar e apresentar suas produções audiovisuais.

Em dez dias de programação, serão apresentadas 50 sessões de filmes e documentários. As atividades serão distribuídas entre o Cine Cultura, o Cine Ritz e o Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (UFG), na Praça Universitária. O festival tem como identidade a difusão e a reflexão do cinema documental, experimental, unindo todos aqueles que se dedicam à arte de brincar com os limites da linguagem por meio da imagem e som. 

Um diferencial do Fronteira é o preço dos ingressos, que se mantêm a custos populares, e, a partir da parceria com a BIS, organiza venda de pacotes para reduzir ainda mais esse valor das entradas. O festival também disponibiliza, gratuitamente, uma residência chamada de Estado Crítico, com dez vagas de estadia exclusivamente para mulheres. A casa será coordenada por Dalila Camargo Martins, mestre em Meios e Processos Audiovisuais na área de História e Teoria e Crítica (ECA-USP) e crítica de cinema da revista Cinética, e também por Janaína Oliveira, doutora em História pela PUC-RJ e pesquisadora ligada ao Fórum de Cinema Negro (Ficine). 

Personalidades

Neste ano, o Fronteira receberá, pessoalmente, Boris Lehman, além da mostra dedicada a Ken Jacobs, que são dois dos maiores cineastas experimentais vivos. A cineasta portuguesa Rita Azevedo Gomes também participará, via skype, após exibições de seus principais trabalhos. Lehman apresentará seu novo– e último – filme de sua carreira. O longa Funerais – A Arte de Morrer faz parte das centenas de filmes que falam da Bélgica, ou sobre ele mesmo, de alguma forma. Ele participará de debates, após a exibição de seus filmes, e ministrará uma masterclass no domingo (19).

Vindo da Bélgica, Lehman se despede de sua carreira nesta edição do festival. Aos 73 anos, o cineasta já realizou, produziu e participou de mais de 500 filmes, entre curtas e longas-metragens documentais,  de ficção, diários, autobiografias e ensaios. Crítico de cinema, produziu, realizou e distribuiu. Hoje, tem uma fundação que restaura filmes na Bélgica. 

O curador Rafael Parredo explica que ter a presença de Lehman é preencher uma lacuna dentro dos festivais brasileiros, que nunca exibiu nenhum de seus filmes, “o que é muito interessante, tendo em vista que o Boris já realizou centenas de filmes, é um realizador que faz um tipo de cinema autobiográfico, com tons ficcionais, um tipo de cinema muito único”. E ainda ressalta: “Eu acho que a importância é a gente abrir as portas para um princípio do cinema do Boris e, principalmente, poder ouvi-lo falar sobre sua experiência em fazer cinema em diversos campos”. Seus filmes Another Occupation e Seeking the Monkey King compõem a mostra A Mecânica do Olho Político.

Produção

O Fronteira Festival é produzido pela Barroca e conta com recursos do Fundo Estadual de Cultura de Goiás, da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Goiás (Lei Goyazes) e da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Já a BIS é uma realização da F64 Filmes com apoio do Fundo Estadual de Cultura de Goiás e da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

Segundo Marcela Borela, diretora artística e curadora do festival, “a escolha do documentário valoriza o risco do real. E o experimental coloca a questão da percepção adiante de qualquer tipo de representação. São cinemas necessariamente questionadores de visões pré-fabricadas de mundo. Colocam novas maneiras de ver, pensar e sentir a realidade. Eles também tendem a expor conflitos, idiossincrasias e contradições da experiência humana”, explica ela.

Dificuldades 

O curador Rafael Parrode explica que as dificuldades são muitas:  “Principalmente por se tratar de um festival internacional que tem de  lidar com diversas burocracias que extrapolam as questões brasileiras legais que já temos que lidar normalmente; o transporte de filmes, lidar com as cinematecas, com as associações e produtoras que detêm os filmes, que são complexas no âmbito internacional, fora as dificuldades financeiras”.

O curador ressalta que, atualmente, a maior barreira tem sido encontrar lugares em Goiânia que recebam exibições como as do Fronteira. “Hoje, o aparato público, os centros culturais que são administrados tanto pelas prefeituras quanto pelo Estado, deixam muito a desejar”. Além da falta de incentivo, Rafael explica que, por conta da atualização para o digital, há uma dificuldade muito grande de projetar filmes em película em Goiânia. “Para o mercado se tornou descartável, mas para o cinema, especialmente no experimental, é uma das mais importantes ferramentas para a criação de filmes”. Segundo ele, só no Cine Cultura o projetor antigo se manteve depois da vinda do digital.

Desde a primeira edição, o curador relata que tiveram uma perda de incentivo que refletiu na redução da programação do festival deste ano. A parceria com a BIS, segundo Rafael, foi muito feliz, já que ocupou o espaço que teve de ser enxuto pela falta de verba e incentivo. “A gente faz o festival cada vez mais com menos recursos, e, neste ano, acho que o impacto disso é a diminuição da programação. Nas primeiras edições, a gente exibiu mais de 100 filmes e, neste anon 66 filmes”.  

Filmes

As obras The Future is Behind You e Acts & Intermissions abrirão o festival. Este último será a mais nova estréia mundial da cineasta nova-iorquina Abigail Child, com mais de 30 anos de carreira. Ela tem seu trabalho preservado como patrimônio cultural americano pela Cinemateca da Universidade de Harvard e esteve em Goiânia, em 2014, para o I Fronteira. A abertura será no Cine Ritz com entrada gratuita.

Os selecionados para as mostras competitivas de curtas e longas-metragens está no site do festival. Foram selecionados seis longas e 16 curtas, vindos dos mais diversos países como Brasil, Colômbia, Equador, Argentina, México, Síria, EUA, Jamaica, Portugal, Espanha, França, Reino Unido e Filipinas. A curadoria das Mostras Competitivas ficou a cargo de Camilla Margarida, Henrique Borela, Marcela Borela e Rafael Parrode.

O programa chamado Cineastas na Fronteira, que ocorre em toda edição, neste ano leva o nome de Vicent Carelli e Virgínia Valadão (In Memorian). A antropóloga e o indigenista e fotógrafo são criadores do projeto Vídeo nas Aldeias (VNA), existente há 30 anos, precursor na área de produção audiovisual indígena no Brasil. Vincent Carelli e sua filha Rita estarão presente e participarão dos debates após cada exibição.

Rafael afirma que, em toda edição, dão espaço para o cinema experimental brasileiro, e segundo ele, “existem muitos organizadores e tipos de cinema no Brasil que nos interessam muito”. Então, neste ano, mesmo que haja redução da programação, serão exibidos 16 filmes nacionais, e, destes, cinco são goianos que integram a programação do Fronteira.  

Mostras:

1. Mostra Competitiva de Longas e a Mostra Competitiva de Curtas

2. Mostra Retrospectiva Rita Azevedo Gomes

3. Mostra Cineastas na Fronteira: Vincent Carelli e Virgínia Valadão

4. Mostra Cadmo e o Dragão – Cineclube Antônio das Mortes 40 anos

5. Mostra Auto-Ficções - Boris Lehman

6. Mostra Land(e)scapes / Paisagens em Fuga

7. Mostra Abigail Child

8. Mostra A Mecânica do Olho Político – Ken Jacobs

9. Mostra Arqueologia da Paisagem – George Clark

10. Lançamento Box Aloísio Raulino

11. Exibições Especiais com os filmes Beduíno, de Júlio Bressane (Brasil, 2016, 75’), e Guerra do Paraguay, de Luis Rosemberg Filho (Brasil, 2016, 75’)