A agonia do maestro

Data da notícia: 18/04/2017

Veículo/Fonte: Diário da Manhã

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O maestro Joaquim Thomaz Jayme está lutando por sua vida no leito de um hospital e longe da regência e dos ambientes de música que se acostumou a viver desde muito jovem. Ele se recupera dos efeitos de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido no dia 21 de agosto de 2016 que o deixou com graves sequelas e grande parte dos movimentos limitados.
O AVC isquêmico ocorreu, segundo familiares, quando o maestro descansava e mesmo sendo socorrido com rapidez os efeitos foram devastadores. O maestro teve os movimentos totalmente comprometidos, ficou um período em coma induzido para minimizar os efeitos, precisou ser submetido a uma traqueostomia para facilitar a respiração mecânica e hoje se alimenta somente de forma enteral através de uma sonda chamada gastrostomia.
Após o primeiro momento do AVC que retirou o maestro da ribalta, os efeitos foram sendo atacados pelos médicos, cuidadores e pela família, que tentou inúmeros procedimentos para reabilitar o paciente. A longa permanência de Joaquim Jayme no leito impõe restrições maiores e cuidados redobrados para não criar mais efeitos negativos.
A família Jayme conseguiu sua internação no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo desde dezembro do ano passado para ele se ser mais bem atendido. Equipes multidisciplinares cuidam do paciente desde então com atenção integral e diária. Cuidadores se revezam para garantir o cuidado necessário para tentar acelerar sua recuperação.
Enfermeiras, fisioterapeutas e outros profissionais que assistem Joaquim Jayme relatam que nas últimas semanas ele tem apresentado um quadro de depressão comum em casos de convalescença grave e demorada como a dele. “Ele fica por momentos distante e sem movimentar nem mesmo os olhos e às vezes parece que escorre uma lágrima”, confidenciou um dos profissionais que o atendem.
Ontem, a informação oficial era que Joaquim Jayme tinha tosse secretiva, que é comum em pacientes com longo período acamados, e que rejeitou a dieta mais uma vez, se recusando até mesmo a experimentar a alimentação que lhe foi oferecida. Por isso, segue em dieta enteral. “Ele está responsivo e dá alguns indicativos de movimentação, como levar a mão à cabeça reclamando de dor, apesar de não falar e de ter movimentos bem reduzidos”, disse outra profissional da área de enfermagem.
O médico que o assiste, Daniel Amorim Tavares, um fisiatra formado na prestigiada USP, fala sempre com a família e atualiza as informações sobre o processo lento de recuperação do maestro Joaquim Jayme. Mesmo não tendo febre ou outras intercorrências naturais da internação, sua recuperação é considerada lenta e difícil, natural para um paciente de 76 anos. O Crer não permite visitas que não sejam de familiares ou indicados por eles e o procedimento de esterilização para andentrar ao apartamento no terceiro andar onde ele está é rigoroso e cheio de critérios.

Biografia

Maestro Joaquim Jayme nasceu em 1941, estudou piano em Goiânia com a professora e musicista Belkiss Spenciére Carneiro de Mendonça, considerada uma das maiores da arte em Goiás. Foi bolsista dos Seminários Internacionais de Música dos anos de 1958 a 1960 promovidos pela Universidade da Bahia e também dos cursos regulares dos Seminários Livres de Música da UFBA de 1959 a 1962, onde estudou piano (Sebastian Benda e Pierre Lose), regência (Koellreuter) e composição (Koellreuter e Miklós Kokrom).
Curso de pós-graduação no Departamento de Música na UnB, sob orientação do Maestro e Compositor Cláudio Santoro, estudando análise e fuga, regência orquestral, instrumentação e orquestração. Mestrado em musicologia pela Universidade de Rostock, Alemanha.
Professor do Departamento de Música da UnB, regente do Coral da UnB e assistente de sua Orquestra de Câmara. Professor titular e co-organizador da Fundação das Artes de São Caetano do Sul e regente de sua orquestra de cordas, Miscâmara. Professor titular e diretor da Escola Superior de Música da Universidade de Concepcion, Chile. Professor, por cinco anos, da Universidade de Rostock, Alemanha. Redator musical, inspetor chefe e maestro assistente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília. Professor assistente do Instituto de Artes da UFG e regente do coral da UFG.
Professor adjunto da UnB, fundador e Regente Titular do Coral do Estado de Goiás, bem como fundador e maestro Titular da Orquestra Filarmônica de Goiás, e fundador e diretor da Escola de Música do Centro Cultural Gustav Ritter. Autor de várias obras para piano, canto e piano, orquestra de cordas, sinfônica, dezenas de arranjos para coro e quase uma centena de canções populares e líricas com textos de poetas brasileiros e estrangeiros.
Em 1993, a convite da prefeitura, organizou a Orquestra Sinfônica de Goiânia, da qual foi titular e diretor artístico e foi também secretário da Cultura, Esporte e Turismo de Goiânia.