Arte que Fica

Data: 27 de junho de 2017
Fonte/Veículo: Diário da Manhã
Link direto da notícia: http://www.dm.com.br/cultura/2017/06/arte-que-fica.html

Nestas 19 edições, o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) provou que a temática ecológica pode ser abordada atrvés diversas vertentes, que ultrapassam a sétima arte. Olhando a programação do evento desde as primeiras edições, nota-se uma preocupação nata de incluir a arte contemporânea, que anda junto e de várias maneiras no evento, cuja última edição começou na última terça-feira (20) e seguirá até domingo (25), na antiga e charmosa Vila Boa.

Todo ano o festival, por exemplo, escolhe um artista para criar a identidade visual, cujas telas engajadas se encaixam com a temática do festival. Desta vez, o escolhido foi um nome importante e reconhecido no mundo das cores de Goiás e que coleciona exposições mundo afora: Pitágoras.

Na tela que fez para o Fica, misturou o emblemático monumento da Praça do Chafariz com um ambiente futurístico investado que é bastante comum em sua obra. “Faço algo que denuncia, algo preponderante na minha personalidade; aleatório, impreciso. Sem laivos morais. Sem a persistência absurda de sentir algo natural”, disse o artista em uma entrevista ao DMRevista quando estava abrindo a exposição Instinto no Chile.

Antigo presídio, o Museu das Bandeiras recebe duas exposições que invocam a memória

Antigo presídio, o Museu das Bandeiras recebe duas exposições que invocam a memória

Goiás de ontem e hoje

A arte visual aparece no festival ainda de várias outras maneiras. Seja em instalações, performances ou exposições. O Museu das Bandeiras, por exemplo, está recebendo as mostras “Diálogo Entre Tempos” e “Enxovia”.

“Diálogo Entre Tempos” é uma exposição fotográfica, que nasceu como um projeto de pesquisa de extensão dos pesquisadores na Universidade Federal de Goiás: Nayara Joyse Monteles, Antônio Lazaro Junior e Suzete Almeida de Bessa, em conjunto com a própria comunidade vilaboense–o grande foco desta exposição.

O acervo fotográfico tem tudo haver com o propósito onde está instalada, pois, une passado, presente e futuro. Contar histórias da cidade é o mote da exposição, e, isso, claro, tem de sobre na cidade de Cora Coralina. Assim, lembranças são resgatadas a partir da memória dos vilaboenses, seu cotidiano, que acaba por transformar a cada dia o município em uma cidade diferente.

“Destacamos, ainda, que a exposição se dá em um percurso dentro do tecido urbano da cidade, a fim de demonstrar a relação existente entre tempo–passado e o presente – e a cidade, expresso nas fotografias. É importante ressaltar que toda a produção se insere em um processo artístico colaborativo, em que a comunidade e suas memórias tem papel de protagonistas”, disse os pesquisadores fotógrafos na apresentação do evento.

Cena da cine instalação “Enxovia Forte” cujo ambiente carcerário do Museu das Bandeiras é a grande inspiração

Cena da cine instalação “Enxovia Forte” cujo ambiente carcerário do Museu das Bandeiras é a grande inspiração

No presídio

Já a cine instalação “Enxovia Forte”, que foi realizada pela professora e videoartista Cris Ventura, juntamente com os alunos bolsistas do curso de Cinema e Audiovisual (IFG), promove uma conversa entre arte, cinema, história, memória, patrimônio e direitos.

Aproveitando o passado inglório do Museu das Bandeiras–que nos tempos de escravidão era um presídio mais que cruel–o público irá mergulhar no cotidiano de cinco presos da antiga. Imerso em imagens e sons, o espectador encontrará os personagens em cenas projetadas sobre as antigas paredes da edificação, vivenciando uma realidade ficção inspiradas em documentos e arquivos dos antigos presos das enxovia.

A instalação é parte do projeto de pesquisa “Estética da recepção e corporeidade no cinema expandido” que vem sendo desenvolvido pela artista audiovisual e professora Cris Ventura (IFG – Câmpus Goiás), juntamente com bolsistas de iniciação científica PIBITI e PIBIC-EM, estagiários e alunos voluntários.

L’ateliê

Fora da programação oficial do Festival, no entanto, dentro das opções atraentes para curtir a noite vilaboense neste dias em que está em êxtase cultural é o L’Ateliê do Beco. O espaço, que reúne galeria de arte, gastronomia e música está localizado no Beco do Mingu, em um dos “afluentes” da Praça do Coreto, onde o público do festival se reúne à noite.

Aproveitando o mote do evento, nesta edição do Fica, o espaço mostrou a que veio como uma galeria engajada também artisticamente na luta pela defesa do meio ambiente. E isso pode ser visto nas paredes do espaço com a instalação “A Alquimia do Agronegócio e os Peixes Voadores”, do artista Christophe Salgueiro, com a participação do artista plástico vilaboense Samuel Rodrigues e Pedro Barbosa.

A instalação consiste na suspensão de peixes em taxidermia–que conforme Christophe Salgueiro é uma pirarara de tanque porque é proibida a pesca–nas na fachada do L’Ateliê. Em uma analogia direta com a realidade, estes animais “nadam” em meio garrafas de água mineral cheias de leite (do supermercado) e de lama (do Rio Vermelho). No interior das garrafas há ainda sangue de vaca, que foi recolhido durante um abate em uma fazenda da região.

“O dispositivo pendurado na beirada da fachada da galeria evoca a escassez da água, por conta do agronegócio que utiliza o ouro azul, a água sagrada dos rios de água doce do Cerrado para a transformação em produtos do mercado”, disse o artista na descrição do evento no Facebook.

Além da instalação, o artista chamou o artista plástico vilaboense Samuel Rodrigues para fazer um quadro sobre a mesma temática. E, Samuel também expõe outras obras de sua série ‘olhares’, nas paredes do descolado espaço. Estão ainda em cartaz no L’Ateliê a exposição Imajê e As Mandalas Digitais, do ator, produtor e arte designer Pedro Otto e Espiríto Cerratense de Vicente Caraiba.

No acervo da galeria possui ainda obras dos artistas: Leandro Teixeira, S. Rodrigues, Jaqueline Jubé, as xilogravuras de Cão, As pinturas em Papel Nankin de Carlos Ragazzo e as esculturas de pedra sabão de Tattos.

Instalação no L’Atelie do Beco é do artista Christophe Salgueiro, com a participação do artista plástico vilaboense Samuel Rodrigues e Pedro Barbosa

Instalação no L’Atelie do Beco é do artista Christophe Salgueiro, com a participação do artista plástico vilaboense Samuel Rodrigues e Pedro Barbosa