Pesquisas da UFG apontam que há pouco de brasileiro no agronegócio feito no Brasil

Maior desafio do setor, de acordo com os estudos, é aumentar a participação do capital nacional no agronegócio do país

A agropecuária brasileira tem apresentado produtividade crescente, safras recordes e contribuições estruturais para a balança comercial do país. Por isso, existe grande esforço nacional para a superação de desafios enfrentados pelo setor que vão dos impactos da operação Carne Fraca à redução do Custo Brasil.

No entanto, o setor enfrenta um desafio estrutural que tem sido negligenciado. Trata-se da pequena participação do capital brasileiro no agronegócio feito no Brasil. A base tecnológica da agricultura e a gestão do negócio feito no país pertencem essencialmente a empresas multinacionais e rendem dividendos essencialmente a elas.

Considerando a importância do agronegócio para o país, pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) estudam a participação do capital nacional no agronegócio feito no Brasil. O principal objetivo é identificar as oportunidades e os desafios para a ampliação da participação de grupos nacionais. A primeira parte do estudo se concentrou na cadeia produtiva da soja.

Os resultados do estudo revelam que 40% do negócio da soja no Brasil são, de fato, brasileiros e concentrados na terra (13,3%), na mão de obra (14,3%) e nos recursos naturais (estes não contabilizados financeiramente). Apenas 12,4% da participação das empresas brasileiras estão nos setores mais intensivos em tecnologia e capital como produção de sementes (2,4%), fertilizantes (4,8%), defensivos (0,6%), máquinas (0,3%) e agroindústria (4,4%). Esses resultados levantam a dúvida se existiria no Brasil algo que pudesse ser chamado de agronegócio brasileiro.

Como ser protagonista?

O avanço da produção agropecuária no país oferece espaços que podem ser melhor ocupados por empresas nacionais. Oportunidades foram identificadas ao longo de toda a cadeia produtiva da soja, por exemplo. O futuro do agronegócio brasileiro passa pela construção de uma estratégia de integração vertical do capital nacional ao longo da cadeia produtiva, indo além da visão atual que tem ficado restrita à expansão horizontal para novas fronteiras agrícolas pela redução do Custo Brasil. Essa visão é apresentada nos estudos da UFG intitulados “Curbing enthusiasm for Brazilian agribusiness” (Revendo o entusiasmo pelo agronegócio brasileiro, em tradução livre), publicado este mês na revista Applied Geography, e “Participação do capital brasileiro na cadeia produtiva da soja: lições para o futuro do agronegócio nacional”, publicado na Revista de Economia e Agronegócio.

Outro caminho é dar mais atenção para a agricultura brasileira de fato. Talvez o melhor exemplo de setor relegado ao segundo plano e com potencial subaproveitado seja a agricultura familiar. Dos 4,3 milhões de agricultores familiares brasileiros, apenas 13% têm acesso ao crédito Pronaf para investir na produção, conforme aponta estudo da UFG intitulado “Development conditions for family farming: lessons from Brazil” (Condições de desenvolvimento para a agricultura familiar: lições do Brasil, em tradução livre), publicado na revista World Development.

Fuente: Ascom UFG - 03/07/2017