Reconhecimento internacional: documentário produzido por grupo goiano tem destaque no Peru

Data: 18/11/2014

Veículo: Diário da Manhã

Link da matéria: http://www.dm.com.br/texto/197704-reconhecimento-internacional-documentario-produzido-por-grupo-goiano-tem-destaque-no-peru

 

Goianiense, morador do Jardim América, dirigiu e produziu o filme

 

O documentário goiano 'Eu, Mulheres' foi exibido no 'XI Festival Internacional de Cortometrajes Fenaco', no Peru. O evento ocorreu entre os dias 12 e 15  deste mês e veiculou 360 filmes internacionais.

O curta-metragem Eu, Mulheres que tem duração de 20 minutos, aborda a violência sofrida pela classe feminina. Segundo o produtor e diretor do documentário, Fábio Teófilo, o projeto teve início quando ele fazia um trabalho de pós-graduação, na Faculdade de História da UFG. A intenção era abordar a violência de gênero. "Paralelo à pós-graduação, surgiu o vídeo", explica o diretor.

Participaram da produção do filme: Mariana Celani, som direto; Delcio Gonçalves, diretor de fotografia; Neide Barros, roteirista; Fábio Teófilo, produtor e diretor. Para abordar o tema, o grupo viajou pelo Brasil realizando entrevistas. Em um primeiro momento, foram colhidos depoimentos de vítimas, que foram reservados.

Foto: Arquivo Pessoal/Fábio Teófilo

Um dos principais objetivos da produção do filme, segundo o diretor, foi promover por meio da cultura uma conscientização. "O prazer de poder contribuir de certa forma, mesmo que pouco impactante, com a mudança desse cenário de violência em que a mulher se encontra. Penso na função que o documentário tem em levantar questionamentos; a forma que ele expande nossas visões para enxergarmos coisas que muitas vezes não tínhamos consciência da dimensão de determinada situação", declara Teófilo. 

Ele ressalta também, que o vídeo, produzido inicialmente com um intuito acadêmico, hoje tornou-se um meio de promover esse estudo realizado.  "E o bacana foi ter pego esse conhecimento e ter compartilhado ele com muito mais pessoas fora do meio acadêmico", pontua. 

Fábio conta que no documentário também é ressaltado o papel da mídia, com análises da publicidade. Conforme o diretor, desde a infância as pessoas são estimuladas a criarem na imaginação uma definição do que é ser homem e do que é ser mulher. Para os meninos, as propagandas oferecem brinquedos como super-heróis, musculosos, sempre usando espadas, armas, símbolos que ressaltam a violência. Para o público feminino, as propagandas abordam a menina brincando de boneca, como aquela pessoa que cuida, que é mais frágil. 

Fábio se diz feliz com a exibição do vídeo em um outro País; com o reconhecimento. "Foi bom também mostrar isso para nossos vizinhos peruanos e os outros cineastas do resto do mundo que estavam no Peru apresentando suas obras", observa. 

Ao ser questionado sobre os principais desafios enfrentados para produzir o documentário, Fábio pontua que o maior obstáculo foi a questão financeira, pois o grupo não tinha patrocínio e precisava desembolsar o dinheiro para as viagens para realizar entrevistas.

O diretor contou também que um dos desafios foi lidar com os depoimentos das vítimas. Um deles, mudou todo o curso da produção do filme. Segundo o diretor, uma das vítimas entrevistadas sofreu abuso sexual do próprio pai e ela tinha uma história tão comovente que chocou a equipe. Com o abalo, todos decidiram não utilizar os depoimentos na produção. "Foram excluídos os depoimentos das mulheres devido ao impacto da história da vítima. Foi muito perturbador, depois disso as entrevistas ficaram paradas", conta o diretor.

A equipe optou por deixar apenas as entrevistas com especialistas, entre elas estudiosos, militantes, psicólogas. Especialistas como Sandra Muñoz, líder da Marcha Mundial das Vadias na América Latina; Ana Carolina Coelho, feminista, ativista e orientadora de pós-graduação na Faculdade de História da Ufg; Mara Suassuna, psicóloga; Bhet Fernandes, psicóloga; Luiza Maia, deputada estadual da Bahia, que propôs uma lei em que o governo desse estado não pode patrocinar bandas que tenham letra que denigrem a imagem da mulher; Angelita Lima, professora de jornalista da UFG, ativista e feminista, Roberto Abdala, professor de História da Ufg. 

O vídeo também foi exibido na abertura de um evento de gênero que ocorreu na UFG, conta Fábio. Ele também disse que o documentário será exibido em outros festivais como o Festival de Cabo Frio, Cine Cried, e, em Goiânia, ele será exibido no próximo dia 23, no Favera, um festival que ocorrerá no Conjunto Vera Cruz, a partir das 14 .

Fábio fala sobre a experiência de gravar o documentário. "Conhecer locais e pessoas novas, escutar o que essas pessoas tem a dizer, compartilhar suas experiências de vida, suas visões de mundo. Isso é maravilhoso", declara. 

Segundo o diretor, a equipe pretende desenvolver um novo trabalho. Os depoimentos das mulheres, aqueles que não foram incluídos no documentário, foram reservados. "Por mais interessante que seja um documentário, acredito que a equipe de produção vivencia algo que não pode ser expressado. Algo que guardamos em nossas almas. É uma experiência maravilhosa. Quero produzir outros", conclui.