Professores terão curso de graduação

Data: 30/11/2014

Veículo: O Popular

 

Universidades vão apresentar projetos de formação de professores para atuar no campo e 43 cursos foram abertos

Lúcia Monteiro

 

Urbanização do ensino

 

Urbanização do ensino



 

 

 

A carência por professores interessados em trabalhar em regiões afastadas é grande em praticamente todo Estado de Goiás, mas na Região Nordeste o problema é ainda maior que na média estadual. “Temos cursos voltados para os quilombolas na região dos Kalungas, mas faltam profissionais preparados para ministra-los”, destaca a gerente de Qualificação da Secretaria de Cidadania e Trabalho, Cássia Miguel. Faltam professores até para ministrar cursos de vaqueiro.

MAIS PROFESSORES

Mas essa realidade pode mudar. As carências evidenciadas no ensino rural motivaram movimentos e organizações sociais a pleitearem junto ao governo federal a qualificação de professores com conhecimento da realidade camponesa para atuarem no ensino fundamental e médio. O governo abriu edital para universidades apresentarem projetos de formação de professores para atuarem no campo e 43 cursos à nível de graduação foram abertos. Em Goiás, foram criados dois cursos de Educação no Campo, nas cidades de Goiás e Catalão.

A coordenadora do curso de Licenciatura em Educação no Campo, da UFG, Regina Sueli de Sousa, informa que os cursos são voltados para a área de ciências da natureza. Segundo ela, uma nova legislação já aprovada exigirá dos municípios uma dotação orçamentária para a estrutura necessária às escolas no campo. “Os camponeses querem que seus filhos tenham saúde, educação, lazer e cultura como manda a Constituição, pois é a produção do campo que abastece as cidades”, lembra.

Ela adverte que a qualificação dos trabalhadores no campo ainda exigirá um aparato das prefeituras que inclui até um plano de carreira para esses professores especialistas em ensino rural, que estão sendo formados nesses novos cursos. Na visão da coordenadora do Senar, Maria Luíza Batista Bretas, esse profissionais deveriam ter, por exemplo, gratificação pelo difícil acesso como estímulo.

 

 

Ministério lança programa nacional

(LM)30 de novembro de 2014 (domingo)

O Ministério da Educação e Cultura (MEC) lançou o Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo), que nasceu de demanda dos movimentos sociais e da necessidade de fortalecimento das escolas rurais, baseado em quatro eixos: gestão e práticas pedagógicas, formação de professores, educação de jovens e adultos e educação profissional e tecnológica.

A secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, Macaé Evaristo, informa que, entre as metas da primeira etapa (de 2012 a 2014) estava a criação dos cursos permanentes de licenciatura para educação no campo, que deve criar um ensino mais voltado ao cotidiano desses alunos. “Queremos garantir que esses professores tenham formação de nível superior e até pós-graduação em breve”. Também estão previstos investimentos em infraestrutura, como água potável e energia elétrica, e no transporte de alunos dentro da zona rural.

Macaé acredita que a queda do número de matrículas também seja resultado da forte migração do campo para as cidades. Mas tudo indica que o ritmo do fechamento de escolas deve ser reduzido. Isso porque a Lei 12.960, de março deste ano, determinou que “o fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do órgão normativo do sistema de ensino, que considerará a justificativa da Secretaria de Educação, análise do impacto da ação e a manifestação da comunidade escolar”.

A secretária reconhece que também é preciso aumentar a cobertura do ensino médio na zona rural, que tem hoje apenas 49 escolas em funcionamento. “A população do campo precisa de um ensino de qualidade, pois tem direitos sociais e civis, como educação, saúde e acesso à cultura garantidos”, afirma.

 

 

Prefeituras apontam várias dificuldades

(LM)30 de novembro de 2014 (domingo)

As prefeituras alegam que esbarram em várias dificuldades para manter o ensino no campo. O presidente da Associação Goiana de Municípios (AGM), Cleudes Bernardes da Costa, lembra que muitos municípios tem grande extensão, o que dificulta a manutenção das escolas. Além disso, o fato de muitas turmas serem multiseriadas (alunos de várias idades na mesma sala) não ajuda o município a atingir bons níveis no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Também faltam professores com licenciatura para cobrir todas as escolas. Cleudes Bernardes lembra que, mesmo com as escolas rurais, as prefeituras são obrigadas pelo Plano Nacional de Educação a oferecer o transporte escolar, já que nem todos os alunos da zona rural moram perto delas.

Ele explica que o valor recebido pelos municípios para custear as despesas da educação básica depende do número de alunos mostrado pelo Censo Escolar do ano anterior, que tem caído a cada ano. Além disso, as escolas rurais precisam oferecer boa estrutura para garantir o aprendizado dos alunos no campo, que não podem ficar prejudicados em relação aos da zona urbana, principalmente com o avanço da tecnologia.

Mas o principal problema é a falta de recursos. Cleudes informa que o governo federal repassa apenas R$ 0,33 por aluno ao dia para a merenda escolar. Outra dificuldade é que os trabalhadores migram muito de uma propriedade para outra. “A estrutura necessária em cada escola fica inviável. É melhor trazer o aluno para a zona urbana”, confirma o presidente da AGM, para quem é preciso melhorar os repasses para dar mais autonomia financeira aos municípios.