UFG não deve adotar "bônus"

Data: 13 de junho de 2015

Veículo: O Popular

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Procuradoria da universidade diz que não há previsão legal para conceder benefício a alunos goianos

 

A Procuradoria Jurídica da Universidade Federal de Goiás (UFG) diz que não há previsão legal para conceder aos estudantes goianos 20% a mais na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em função desse parecer, a UFG não deve acatar a solicitação que recebeu do Colégio WR. Na quinta-feira, conforme O POPULAR revelou com exclusividade em seu site, o WR encaminhou a solicitação por meio de carta ao Centro de Seleção da universidade(veja correlata). Ontem, O POPULAR procurou o diretor Rubens Ribeiro Guimarães, conhecido como Rubão, mas foi informado pela secretaria que ele estava fora de Goiânia.

 

Reitor da UFG, Orlando Amaral reuniu-se ontem com o pró-reitor de Graduação, Luiz Melo, para avaliar o assunto. Eles receberam o parecer jurídico da procuradoria e decidiram, antes de anunciar formalmente a resposta, apurar informações sobre o número de estudantes que se matriculou na UFG em 2015, primeiro ano em que a universidade adotou o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC), no qual instituições públicas de ensino superior oferecem vagas para candidatos participantes do (Enem).

Os cursos que mais preocupam as escolas particulares, como o Colégio WR, são os de alta demanda, em especial o de Medicina. O reitor disse ontem ao POPULAR que só deverá ter todas as informações, inclusive sobre o que de fato fizeram as outras universidades federais, na próxima semana, quando vai se pronunciar. Na carta enviada pelo diretor do Colégio WR, ele cita que outros Estados como Rio Grande do Norte e Tocantins já “bonificam” os alunos locais que buscam uma vaga.

 

Apoio

O superintendente executivo de Educação da Secretaria da Educação, Cultura e Esporte, Marcos das Neves, o proprietário do Integrado Jaó que está afastado da direção desde que assumiu a função pública, vê com bastante simpatia a prioridade de vagas para goianos na UFG. Ele argumenta que desde que o Enem foi usado para a entrada para a universidade a lógica se inverteu. Os Estados deixaram de ser referência para os vestibulandos, que preferem “migrar”. Com a reserva, haveria uma tendência de o aluno buscar as faculdades mais próximas, facilitando a vida das famílias.

 

Neves afirma que a Secretaria se posiciona a favor desse tipo de prioridade. Para ele, a UFG tem autonomia para que os 20% para alunos goianos sejam instituídos. Antes, cada universidade tinha um perfil de prova - a UFG era mais vertical, diferentemente da Unicamp, que era mais horizontal e multidisciplinar, o que era uma forma de direcionar os alunos. “Agora, com o Sisu e o Enem, acabou isso. Virou muito mais comum o aluno migrante, gerando fluxo intenso de alunos de um lado para o outro do País”, afirma.

 

Particulares

Em geral, as escolas particulares se posicionam de maneira parecida. O diretor pedagógico e um dos proprietários do Colégio Protágoras, Perminio Albuquerque, diz ser esse um pensamento comum entre diretores e donos de colégios de Goiânia. Ele afirma que o reitor da UFG, inclusive, já foi comunicado sobre o assunto em momentos anteriores, principalmente na adoção do Sisu como porta de entrada para a universidade. “Pelo que converso com outros diretores, é bem possível que haja um movimento mais forte nesse sentido a partir de agora”, reforça.

Ele nega que a adoção do Sisu como forma de entrada na UFG tenha diminuído os números de aprovação dos alunos de escolas particulares no vestibular. O que Albuquerque argumenta é que isso dificultou a vida dos estudantes com notas inferiores e, consequentemente, das famílias. “Esses alunos não conseguem nota para entrar nas universidades mais próximas e acabam se tornando migrantes. Criando essa preferência para os goianos, seria uma forma de prestigiar o aluno que mora aqui e não penalizar os pais”, assinala.

 

Contra

Dois coordenadores de outras escolas particulares de Goiânia, que preferiram não se identificar para não se indisporem com coordenadores de outras unidades educacionais, concordam que o novo modelo de seleção não afeta os alunos. Um deles entende que não é dever da escola se posicionar sobre o assunto e que esse é um direcionamento a ser tomado pela UFG.

Outro contesta os argumentos, dizendo que o números de alunos de fora não é tão grande e que, ao se comparar com o número de alunos migrantes da USP e da Unicamp, esse seria muito maior. “Se essas universidades adotassem essa política também, como ficaria?” Outro ponto levantado por ele é que essas escolas tiveram um posicionamento egoísta sobre as cotas e continuam egoístas tentando obter reserva de vagas para goianos.

“Considero injusto priorizar certos candidatos em detrimento de outros sem um embasamento adequado.” Lara Estevão Lourenço, estudante, 18 anos

“Sou contra. Nós também vamos para fora tentar vagas e é melhor se todos tiverem a mesma chance.” Wesley de Sousa Ramalho, estudante, 18 anos

“É difícil para o estudante que precisa se mudar. Ficar mais perto da família é importante.” Márcio Júnior do Carmo Vidal, estudante, 18 anos

“Os vestibulares priorizavam alunos regionais com as perguntas sobre história e literatura local. Com o Enem, isso acabou.” Rafael Luz Moraes, estudante, 18 anos

“Outros estados já dão esse bônus para seus alunos permanecerem.” Deocleciano de Carvalho Santana,estudante, 22 anos

 

Carta gerou polêmica

A carta encaminhada à UFG pede que a instituição dê ao aluno goiano 20% a mais na nota do Enem. A justificativa do documento seria a preocupação com os alunos do Estado, de forma que tivessem “o privilégio de cursarem a universidade que tanto almejam”, sendo este, segundo o texto, “um clamor das famílias desses estudantes”. O Colégio WR é tradicional em Goiânia e conhecido por sua rigidez. Nas redes sociais, o assunto gerou comentários (veja ao lado). Há os que defendem as cotas e os que discordam delas.

 

Opiniões diversas sobre benefício

Alunos ouvidos pela reportagem também divergem suas opiniões sobre o benefício. Interessado em uma vaga no curso de Medicina, Rafael Luz Moraes, de 18 anos, lembra que antes os vestibulares priorizavam os alunos regionais com seu conteúdo. “História, geografia e literatura costumavam dar esse bônus a quem é daqui, assim como os vestibulares em cada Estado.” Deocleciano de Carvalho Santana, de 22 anos, concorda. Ele diz que outros Estados perceberam isso e o “bônus” já é adotado (leia texto acima).

Márcio Júnior do Carmo Vidal e Rafael Rodrigues de Melo, de 18 anos, também concordam com o bônus. “Muitas pessoas não tem condições de estudar em outro Estado”, ressalta Rafael. Márcio aponta que estar perto da família pode ser fundamental para que esse aluno chegue à conclusão do curso. Os estudantes Lara Estevão Lourenço e Wesley de Sousa Ramalho, ambos com 18 anos, discordam das cotas. Para ela, não há embasamento para priorizar alguns. Ele defende igualdade para os candidatos nos processos de seleção.

 

UFT estuda bonificar estudantes

A Universidade Federal do Tocantins (UFT) informou que ainda não adota nenhum tipo de cota para alunos daquele Estado, mas que analisa o acréscimo de 10% sobre a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) só para os alunos do curso de Medicina e por apenas uma vez. A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) também nega que conceda benefício a alunos do próprio Estado, o que, segundo informou por meio da assessoria de imprensa, pode ser confirmado por meio das normas regulamentadoras da instituição.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) não se pronunciou. A assessoria de imprensa da Universidade Federal do Pará (UFPA) disse que a instituição não iria se pronunciar por causa da greve. A reportagem ligou para o pró-reitor de graduação da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Amauri Barros, e para a assessoria de imprensa da instituição, mas não obteve retorno.