Conhecer para preservar

Data: 14 de agosto de 2015

Fonte/Veículo: O Popular

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14/08/2015 05:01Zuhair Mohamad

Ilka Westermeyer: “Com os nossos filmes podemos mostrar que ainda há bastante diversidade de fauna e flora no Brasil, mesmo em áreas ameaçadas”

Rute Guedes

Da cidade de Goiás

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Reservas ambientais, conflitos entre indígenas e ruralistas e a importância da imagem na causa ambiental foram os temas que dominaram o debate com os diretores participantes da mostra competitiva do 17º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás (Fica), realizado na manhã de ontem, no Hotel Casa da Ponte. Do encontro participaram os cineastas que exibiram seus filmes na quarta-feira.

“Com os nossos filmes podemos mostrar que ainda há bastante diversidade de fauna e flora no Brasil, mesmo em áreas ameaçadas. Quando levamos à população que ainda vale lutar pela preservação, pois ainda há muito a ser preservado, fazemos nossa contribuição para a causa ambiental”, explica Ilka Westermeyer, uma das diretoras do documentário Últimos Refúgios: Reserva Biológica Duas Bocas, exibido na quarta-feira na mostra competitiva principal do festival.

Ilka, alemã radicada no Brasil, é de uma organização não governamental que produz vídeos e registros fotográficos de ecossistemas ameaçados, no caso a Reserva Duas Bocas, no Espírito Santo, que é um resquício da Mata Atlântica. “Foi incrível poder constatar que nessa reserva ainda existem animais como a onça-parda, por exemplo”, explica a cineasta. Ela lembra que a reserva foi criada há 100 anos, para proteger a região de nascentes dos rios que abasteciam Vitória.

“Trata-se de um exemplo notável, porque, se essa área não tivesse sido protegida naquela época, provavelmente já estaria devastada há muito tempo”, diz a diretora, que é ativista ambiental. Apesar de todas as notícias tristes relacionadas ao meio ambiente, Ilka se mostra otimista. “Nós não podemos parar de tentar mudar o mundo. Sinto isso a cada vez que uma criança vê um de nossos vídeos ou participa de nossos programas de educação ambiental, pois é uma mensagem que vale para a vida toda e, quando for adulta, essa criança pode tomar decisões importantes na proteção do meio ambiente”, acredita a cineasta.

Agronegociocracia

“Nós vivemos numa agronegociocracia, tamanho é o poder e a influência da bancada ruralista no Congresso brasileiro”, criticou o diretor Rodrigo Siqueira, de Brasília, ao comentar sobre o tema de seu filme Índio Cidadão, em que trata da atuação política dos índios para a demarcação de suas terras e reservas. “Existe uma pressão muito grande da bancada ruralista no Congresso Nacional que tenta ir contra a demarcação de terras indígenas e contra os direitos conquistados pelos povos indígenas durante a criação da Constituição de 1988”, destaca o diretor.

Inicialmente, conta ele, seu objetivo era fazer um resgate histórico, com imagens de arquivo, sobre as manifestações indígenas durante a elaboração da Constituinte. No entanto, em 2013, quando começou a se dedicar ao projeto, várias lideranças indígenas da nação guarani kaiowá, do Mato Grosso do Sul, voltaram a se mobilizar em Brasília para garantir a manutenção dos direitos conquistados em 1988, que estão sendo ameaçados por novos projetos de lei.

“De certa forma, percebi que havia uma nova luta. O processo de dominação com as populações indígenas brasileiras nos primeiros anos de colonização do País foi muito bruto e hoje continua sendo cruel”, detalha Rodrigo. Para ele, embora não se mate mais tantos indivíduos indígenas como antigamente, há uma perseguição aos líderes, frequentemente assassinados”, denuncia o diretor. Em última instância, acrescenta o cineasta, se essas áreas forem tomadas dos índios, como defende a bancada ruralista, elas serão desmatadas de uma forma predatória e depois servirão a latifúndios de monocultura transgênica.

O filme, um média-metragem, apresenta depoimentos de várias lideranças indígenas, como o cacique Raoni Metuktire, Sônia Guajajara, Ailton Krenak e Valdelice Veron, que testemunhou o assassinato do pai, o cacique Marcos Veron, durante o processo de retomada de sua terra Tekoha Takuara em 2003.

Ainda participaram do debate, coordenado por Daniel Christino, da Universidade Federal de Goiás, o diretor português Rui Pedro Lamy, do documentário A Rya por Dentro, e o diretor goiano Guilherme Araújo, da animação Aniz, a Bruxinha Aprendiz. Pela primeira vez no Fica, também foi promovido debate com os diretores da mostra ABD Cine Goiás. Os debates com os cineastas do festival será realizado até domingo, sempre às 10 horas, no Hotel Casa da Ponte. O acesso é livre.

 

A repórter viajou a convite da organização do festival

Zuhair Mohamad

Rodrigo Siqueira: “Nós vivemos numa agronegociocracia, tamanho é o poder e a influência da bancada ruralista no Congresso brasileiro”