Estudantes fecham terminal em protesto

Estudantes fecham terminal em protesto

Maria José Sá


O Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Goiás (DCE UFG) liderou manifestação pacífica no Terminal Praça da Bíblia, ontem, das 7 às 10h. Durante o período, cerca de 300 estudantes da UFG, PUC e UEG fecharam o terminal e os ônibus circularam pelas ruas adjacentes, contornando a Praça da Bíblia. Após três horas de ocupação do terminal, os acadêmicos seguiram em passeata, pela avenida Anhanguera, até a sede da Companhia Metropolitana dos Transportes Coletivos de Goiânia (CMTC), no Setor Universitário, onde exigiram do presidente, Marcos Massad, que sejam anuladas as recentes alterações sofridas pelas linhas de ônibus.

Marcos Massad ouviu atentamente as reivindicações, pediu que o grupo as encaminhasse por escrito e se retirou. “Vocês tem todo meu apoio, já fui estudante e manifestações não me assustam. Estamos abertos a discussões para melhorar o transporte, estamos monitorando as linhas. Temos obrigação de recebê-los e ouví-los”. Ao ser questionado sobre a denúncia de suborno envolvendo o presidente do Setransp, Décio Caetano, Massad respondeu que só tomou conhecimento pela imprensa. “O Setransp não faz parte da CMTC. O que vi foi pela televisão e jornais. Não tenho opinião formada sobre esse assunto, a briga é entre o Setransp e o advogado deles. Essa briga não é da CMTC.”



Falta de respeito

O coordenador geral do DCE da UFG, Leandro Viana, afirma que já enviou vários ofícios à CMTC exigindo que sejam monitorados os horários dos ônibus e já participou de algumas reuniões com representantes da CMTC. “Não é por falta de reivindicar, e nem de sentar para negociar, que o usuário é desrespeitado. Todo mundo vive reclamando e a CMTC insiste em desrespeitar a população. O problema é que as empresas que monopolizam o transporte coletivo de Goiânia financiam as campanhas eleitorais.”

Mesmo tendo perdido o trabalho, a vendedora Ana Carolina Alves, 22, apoiou a manifestação dos estudantes. “Achei ótima, só assim o governo é obrigado a olhar para a sociedade”. A cabeleireira Elizângela de Oliveira, 31, mora na Vila Nova e trabalha no setor Bueno. “Estou cansada de ficar mais de 40 minutos esperando ônibus que vem lotado e sujo.O povo tem é que gritar mesmo.”

Daniele Reis, 17, é estudante da PUC e reclama da falta de condução para a unidade próxima ao Estádio Serra Dourada. “Só a linha 739 passa lá, de hora em hora. É um absurdo! À noite é muito perigoso.”



Polícia

Policiais militares da cavalaria e do batalhão de choque acompanharam o protesto e, de acordo com o capitão Marco Antônio de Souza, não foi necessário intervir. “Foi uma manifestação pacífica e só queríamos evitar que houvesse violência e alguém se ferisse, o que não aconteceu.”

Uma das queixas dos estudantes é que os policiais da cavalaria não estavam identificados em suas fardas. “É um absurdo. Todo policial tem que se identificar, essa é uma prática de repressão. Não queremos confronto com policiais, nosso confronto é com os empresários”, afirmou o coordenador do DCE. O movimento foi acompanhado pelo deputado Mauro Rubem e pelo vereador Fábio Tokarski.

Os estudantes avisaram o presidente da CMTC que os protestos continuam, até que as reivindicações sejam atendidas. “Estamos nos reunindo com grêmios estudantis e associações de moradores de todas as regiões da cidade. A luta continua”. Amanhã, o protesto contra o transporte coletivo será no Campus da UFG, a partir das 9h, quando os estudantes irão parar os ônibus da linha do Campus. No último dia 16, usuários do Terminal Praça da Bíblia também se manifestaram, parando os ônibus durante 3 horas. Depois disso, a CMTC colocou mais veículos na linha 019, que vai para o terminal Cruzeiro.


Lei de 2003 prevê conselho de entidades

Diante de tantos problemas que o transporte coletivo de Goiânia vem enfrentando, o vereador Elias Vaz (PSOL) quer fazer valer a lei municipal nº 8.234 que estabelece a criação do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte. De acordo com a lei, deve participar do conselho, representantes da sociedade civil como: membro da associação de bairros; da central única dos trabalhadores CUT; das universidades federais e particulares; representante dos taxistas, da associação dos deficientes físicos ADFEGO, entre outros, fazendo com que exista uma participação de forma mais ampla da sociedade com relação ao transporte coletivo.

 Ontem à tarde, Elias Vaz foi até o Ministério Público, onde entregou para o promotor coordenador do CAO do Cidadão, Érico de Pina, a cópia da lei municipal que estabelece os critérios para a criação do conselho do transporte. O vereador Elias Vaz acredita que somente com a lei funcionando haverá realmente um transporte democrático na cidade. A lei é de 30 de dezembro de 2003 e foi assinada pelo prefeito da época, Pedro Wilson. Porém, de 2003 para cá nenhum conselho ainda foi criado. O vereador acredita que a melhoria só irá acontecer de forma completa a partir do momento em que for dado o espaço para a opinião direita de quem realmente conhece os problemas do transporte coletivo.

Para Érico de Pina, a lei existe e deve ser cumprida, porém, apenas a criação do conselho não resolve o problema do transporte. “O conselho auxilia no debate do problema, pois envolve vários segmentos da sociedade, vai tirar o debate dos gabinetes”, acredita. Érico explica que o problema só será totalmente resolvido com vontade política e competência das empresas e do poder público.  O promotor apoia medidas como a criação de corredores exclusivos para os ônibus, investimento em viadutos, a implementação do projeto onda verde – que sincroniza os semáforos da cidade, fiscalização eficaz e o aumento do número de ônibus circulando. O promotor irá comunicar o presidente do Ministério Público para que faça valer a lei. (L. P.)