Goiás é o 2ª em uso de remédio para emagrecer
Goiás é o 2ª em uso de remédio para emagrecer
Cejane Pupulin - Jornal Hoje – 31/03/10
Goiás é o segundo Estado que mais consome Anfepramona, medicamento derivado da anfetamina, utilizado no tratamento da obesidade. O dado foi liberado ontem pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com as informações do primeiro relatório do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC).
O Estado de São Paulo lidera a lista de uso desse medicamento. Nos dois estados, o consumo fica entre 1,2 a 1,4 miligramas por habitante.
No mesmo relatório, Goiás é o quinto Estado em consumo de subtramina, substância que oferece sensação de saciedade. Na frente estão apenas Santa Catarina, Distrito Federal, São Paulo e Paraná. De acordo com a Anvisa, a população brasileira consumiu, no ano passado, quase duas toneladas de Sibutramina, que equivale para cada mil habitantes brasileiros foram consumidas quase três doses do medicamento por dia. Também foram consumidas mais de três toneladas de Anfepramona.
Segundo a endocrinologista e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Daniela Espindola, ambas as drogas são antiobesidade. A médica considera a Anfepramona de uso mais arriscado para a saúde, já que causa dependência química, palpitação, irritabilidade, ansiedade, insônia e aumento da pressão. “Essa droga é anoréxica, isso é, diminui a fome”, afirmou.
A dose máxima diária desse medicamento é de 150 miligramas. “A Anfepramona é indicada apenas para pessoas obesas, com índice de massa corpórea acima de 30 quilos por metro quadrado.” Ela complementou que o medicamento tem o uso autorizado por apenas três meses.
Segundo Daniela, a subutramina causa mais reações adversas nos primeiros dias de uso, como boca seca, constipação, insônia e palpitação. “A dose máxima diária é de 15 miligramas. E pode ser usada por pessoas com sobrepeso e, com outra complicação da obesidade, como colesterol ou pressão alta”. O medicamento foi proibido nos países da Comunidade Européia e teve sua restrição ampliada nos Estados Unidos e também no Brasil.
No relatório da Anvisa, entre os dez maiores médicos que prescreveram o uso de Sibutramina foi um médico de tráfego, e de Anfepramona, um ginecologista e um gastroenterologista. E para outros dois anorexígenos – Femproporex e Mazindos, o maior número de receitas é de um dermatologista, no caso do primeiro, e para o segundo, um pediatra.
Daniela afirma que qualquer médico pode indicar o uso dessas substâncias, mas o indicado é um endocrinologista. “Qualquer especialidade médica pode receitar, mas deve ser um receituário apropriado’, afirmou.
A auxiliar administrativa, Leandra Assumpção, de 29 anos, afirmou que já tomou medicamentos para emagrecer, mas depois que leu sobre o assunto e sentiu as reações adversas dos medicamentos, parou o uso. Ela firmou que usou Anfepramona por dois meses e conseguiu o resultado desejado. “Não tive muitas reações adversas, apenas um pouco de estresse e falta de paciência, mas quando li que causava esquizofrenia e algumas outras alterações encerrei o uso do medicamento”, afirmou
Ela disse que conseguiu o remédio de terceiros. Posteriormente, Leandra afirmou que usou por dois dias a Sibutramina, que ganhou de uma amiga. “Tive alteração de humor, desânimo, uma sensação de tristeza e ela não cortou a minha fome”, relatou. Atualmente, a auxiliar administrativa mudou a alimentação e come de três em três horas em doses menores. “Como mais frutas e vou começar a malhar”, afirmou.
Outra mulher de 34 anos, que preferiu não se identificar, afirmou que tomou um comprimido de algum remédio para emagrecer. “Não sei o nome, mas ganhei de uma amiga que estava emagrecendo, mas estava com manchas roxas no corpo”, relatou. Ela afirmou que queria acabar com ansiedade, que a fazia comer em excesso. “Senti muita dor de cabeça, náusea, muitas câimbras”, afirmou. Ela complementa que a melhor receita para emagrecer é comer direito.
O SNGPC
O Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) foi implantado nos anos de 2007 e 2008 e permite monitorar, eletronicamente, as vendas de medicamentos controlados realizadas nas farmácias e drogarias brasileiras. O sistema aponta hábitos de consumo, abusos na prescrição e na dispensação e situações de risco para a saúde da população.
Antes, toda compra e venda de medicamentos eram feitas manualmente. Os dados do relatório apresentam algumas limitações, a começar pelo fato de não haver parâmetros de comparação.
Anvisa aumentará controle de prescrição
A partir de ontem os medicamentos que contêm a substância emagrecedora Sibutramina terão um controle maior de prescrição e venda. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução que remaneja a substância da lista C1 para a lista B2 dos medicamentos sujeitos à controle especial.
Com a mudança, a Sibutramina passa a ser classificada como psicotrópico anorexígeno e a tarja do medicamento muda de vermelha para preta. Além disso, esses medicamentos só poderão ser vendidos com receituário azul (em que a numeração é fornecida pela vigilância sanitária). Até então, a Sibutramina era comercializada com receita branca, que não é numerada pela autoridade sanitária. As empresas detentoras de registro de medicamentos a base de Sibutramina terão prazo de 180 dias para fazer as alterações necessárias nas bulas e embalagens.
Sibutramina
A Sibutramina foi desenvolvida na década de 80 como antidepressivo e age em áreas do cérebro que controlam não somente o humor e sensação de bem estar, como também o apetite.
Como promove uma sensação de saciedade alimentar, é indicada no tratamento da obesidade ou quando a perda de peso está clinicamente indicada. É encontrada principalmente sob a forma do sal Cloridrato de Sibutramina e, no Brasil, está disponível no mercado nas concentrações de 10mg e 15mg na forma industrializada, além das formulações manipuladas em farmácias magistrais.
Alerta
Em janeiro deste ano, a Anvisa divulgou um alerta para os profissionais de saúde sobre o uso da substância Sibutramina no Brasil. A realização de um estudo, denominado Sibutramine Cardiovascular Outcomes, demonstrou aumento do risco cardiovascular não fatal nos pacientes tratados com a substância
O estudo indicou que o risco de desenvolver enfermidades cardiovasculares aumenta em 16% nos pacientes que utilizaram o medicamento, quando comparados àqueles tratados com placebo.
Com base no estudo, a agência regulatória da União Européia (EMA - European Medicine Agency) suspendeu a autorização de comercialização para o medicamento em toda a União Europeia.
Nos Estados Unidos não houve proibição da fabricação e venda do medicamento. O FDA (Food and Drug Administration), que regulamenta o setor, solicitou a inclusão de novas contraindicações na bula do produto, para informar que a Sibutramina não deve ser usada em pacientes com história de doença cardiovascular. (Agência Estado)