O reitor vai às ruas

O reitor vai às ruas

Tribuna do Planalto, 14/12/2010

Gilberto G. Pereira


O homem que está à frente da UFG é tranquilo ao falar, mas trabalha como um castor, e praticamente dobrou a universidade de tamanho

Edward Madureira Brasil é um homem simples. Sua simplicidade no falar e no agir potencializa a capacidade de diálogo que ele tem. Além disso, sabe ouvir. Este é um tipo de virtude que acaba dando outra ferramenta importante para um profissional que ocupa o cargo de reitor: a habilidade para articular ideias.

Como um maestro que rege a orquestra inteira sem firulas de gestos nem verves desnecessárias, Madureira está à frente do cargo mais alto da Universidade Federal de Goiás desde janeiro de 2006. Foi dentro desse período que a instituição mudou completamente a paisagem, ganhando diversas ruas, vários prédios e uma infinidade de novos serviços que dão ao local sua real face de cidade universitária.

Quando ele assumiu como reitor, o Campus II da UFG, localizado no alto da região Norte de Goiânia, ao lado do conjunto Itatiaia, ainda era largo e geral. Quem frequenta a instituição há muitos anos reconhece essa mudança. Era sereno demais para um mundo de estudantes universitários, com pouca movimentação no período da tarde, e nos finais de semana até os macacos do bosque estranhavam o silêncio quase amazônico, ausente de alma humana.

O que se vê hoje é uma série de atividades culturais que cortam a semana inteira na universidade, com exposições de arte, shows, teatro, sessões de cinema, cerimônias de formatura. A repaginação é fruto de um trabalho coletivo, esforço de um grupo de pessoas que vêm aproveitando a maré de investimentos do governo federal nas instituições públicas de ensino.

No comando do grupo está Madureira, que descreve seu cargo como o de um aglutinador de pessoas e articulador de projetos. O resultado desse trabalho pode ser visto e ouvido na aprovação da população universitária. No ano em que a UFG faz 50 anos, o coro de voz que aprova as ações empreendedoras do reitor é grande.

Pop
O reitor é pop. Mais do que isso, é popular. Gosta de acompanhar de perto as obras em andamento e de participar dos eventos para os quais é convidado dentro do Campus. É claro que as funções que precisa desempenhar, as reuniões que perfilam sua agenda como dominós, afogam as perspectivas mais intimistas.

Mesmo assim, o reitor vai às ruas, uma vez que agora as encontra dentro do Campus com mais facilidade. E vai também mais longe. Está sempre viajando a Brasília e outras cidades para compromissos da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), entidade da qual é o atual presidente.

Na lista de obras que ele já executou estão prédios grandes como o do Centro de Cultura Eventos e o da Faculdade de Artes Visuais, que fica ao lado da Biblioteca Central. “Ao todo foram mais de 200 obras, contando as reformas e as adequações. Construções de maior porte chegam à casa dos 50”, enumera. Só no campus II mais de 20 obras de médio e grande portes foram executadas.

Além disso, a universidade cresce também no número de alunos e de cursos. Nos últimos cinco anos, aproximadamente 50 novos cursos foram criados em Goiânia, Catalão, Jataí e Cidade de Goiás. Cerca de 60 novas turmas em cursos já existentes foram formadas. Muitas delas se encaixaram no período noturno, espantando a sombria sensação de isolamento dos que já estudavam na parte da noite.

O acréscimo do acervo material fez a universidade praticamente dobrar de tamanho, alcançando um número de mais de 20 mil alunos. Perguntado se ainda falta alguma coisa a fazer, o reitor diz que a lista do porvir ainda é mais extensa. “A universidade não para nunca”, diz.

Entre os projetos que se engatilham no gabinete do reitor, esperando só a oportunidade de execução, o envio de algum aporte financeiro, está a implantação de um espaço de ciência na UFG. “Poderá ser um museu de ciência, por exemplo, ou algo semelhante. O importante é que esse espaço sirva de motivação para o aluno da educação básica”, analisa Madureira.

Atuação
A educação básica é uma de suas preocupações mais eminentes, o que não deixa de ser interessante para alguém que está no topo das decisões de uma instituição de nível superior.· Segundo ele, educação básica e ensino superior são duas pontas que se laçam, e uma precisa estar dentro do horizonte da outra.

“Até o final da minha gestão vou fazer de tudo para continuar o crescimento da UFG. E é aí que vejo um horizonte no qual posso atuar em relação ao ensino básico a partir da universidade”, observa o reitor. Segundo ele, a universidade pode dar uma contribuição muito grande na melhoria do ensino básico.

“Isso pode ser feito tanto pela figura do reitor como ator político, sensibilizando os governantes, quanto aproveitando toda essa massa crítica que temos aqui na qualificação dos professores”, pondera. Uma das razões para o apreço à educação básica de qualidade e pública está diretamente ligada à sua infância.

O reitor é filho de uma família de classe média, composta de funcionários públicos. Sua mãe, hoje aposentada, trabalhava no DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagens), e seu pai, também atualmente aposentado, era agente da Polícia Rodoviária Federal. Os pais sempre colocaram a educação do filho em primeiro plano e por isso ele estudou nas melhores escolas.

Origem
Nascido em 1963, no bairro de Campinas em Goiânia, e vivendo a infância no setor Oeste, Madureira estudou a primeira fase do Ensino Fundamental no tradicional Instituto Presbiteriano de Educação (IPE). Mas entre esse período e os anos em que concluiu o Ensino Médio no colégio Objetivo, fez a segunda fase do Ensino Fundamental (da 5ª à 8ª séries) no Polivalente, escola pública da prefeitura municipal, que mais tarde passaria a ser o Colégio Militar Vasco dos Reis.

“Esta foi uma passagem muito gratificante da minha vida”, diz o reitor. Segundo ele, era uma escola que realmente tinha proposta pedagógica revolucionária para a época. “Além das disciplinas normais, a gente tinha técnicas agrícolas, artes industriais, artes gráficas. Tínhamos o início de certa profissionalização, e provavelmente daí despertou minha vontade de estudar Agronomia”, lembra.

Sempre atencioso e educado, falando compassadamente como quem escolhe as palavras, Madureira deixa o interlocutor à vontade. O esforço é para não esquecer que o homem com quem se fala é o reitor, um cargo que exige no mínimo a formalidade de tratá-lo por senhor, quando se quer na verdade é chamá-lo de você, como um colega de trabalho.

E se alguém fizer isso, Madureira não vai fechar a cara. É seu perfil, ser um profissional ao mesmo tempo compenetrado na sua função de reitor, sem deixar de demonstrar que está realmente interessado nas palavras do outro. Exemplo disso foi sua atitude diante do problema que uma vez os estudantes lhe expuseram. A comida do Campus estava ruim demais.

O reitor foi às ruas para averiguar o caso. Passou alguns dias comendo da comida de cada lanchonete e restaurante do Campus. O resultado dessa inspeção foi a ordem de melhoria no cardápio do Restaurante Universitário, o famoso RU, ou Bandeijão, além do fechamento de uma das lanchonetes que prestam serviço dentro da universidade.

Os pais de Madureira vieram de outras regiões para morar em Goiânia. A mãe é do Tocantins e o pai da Bahia. Mas ele, além de goianiense, tem uma formação genuinamente goiana. Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Goiás, fez mestrado e doutorado na mesma área e na mesma instituição.

Ele foi aluno da primeira turma do primeiro curso de doutorado da UFG. Antes de seguir carreira na universidade, agrônomo com o diploma de mestre, trabalhou na iniciativa privada desempenhando cargos de gerência e de pesquisador na Planagri S/A, hoje, parte do Grupo Otávio Lage, um grande grupo econômico da região de Goianésia.

Experiência
Quando decidiu fazer o doutorado, em 1993, Madureira voltou para os bancos da UFG e começou a vislumbrar os horizontes da docência. Prestou concurso em 1994 e começou a dar aula. Assumiu o cargo de coordenador de Estágios da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos. Depois se tornou coordenador do curso de Agronomia, exercendo a função por dois anos, para em seguida ser o diretor da Escola por sete anos.

Segundo o reitor, essas experiências de gestão deram a ele novas perspectivas. “Juntando o que aprendi na iniciativa privada, ganhei a base de conhecimento de gestão que se precisa ter para encarar grandes desafios”, diz. Em sua opinião, um bom gestor é aquele que tem a possibilidade e a capacidade de formar uma boa equipe.

Por isso mesmo, para tudo que realizou como executivo da pasta mor da universidade faz questão de lembrar que não estava sozinho. Poderia ser apenas um discurso. Mas seus colabores mais próximos confirmam. Essa capacidade de aglutinar pessoas, de desenvolver projetos e atrair parcerias tem dado bons frutos para a universidade.

Além da parceria que Madureira conseguiu com a Dell, empresa de computadores norte-americana, para projetos de desenvolvimento de software com o Instituo de Informática, ele também está fechando uma parceria com a Petrobras. “Esta é para um projeto de melhoramento genético da cana de açúcar”, diz.

Nesta fila também há um grande número de parceiros. Com todos eles o reitor só quer uma coisa. “Fazer algo para aproveitar o potencial da UFG, em benefício da sociedade.” Quando assumiu o cargo em 2006, segundo ele, fazer a universidade dar frutos foi a primeira oportunidade que vislumbrou. “Aprender e crescer foi a segunda”, diz.