Animais migram por abrigo e comida

Animais migram por abrigo e comida

 

Bandos de inhumas, garças, periquitos e araras são cada vez mais presentes no espaço urbano. Mas além dos pássaros, gambás, cobras e até onças também estão em busca de espaço, abrigo e alimento. A oferta desses fatores nas cidades, principalmente na primavera e no verão – também época de reprodução – resultou, somente em janeiro, em 269 capturas de animais silvestres pelo Corpo de Bombeiros no Estado. 

 

As capturas realizadas foram 32% superiores do que o ocorrido no mesmo período do ano passado, quando 2.164 animais foram capturados. Enquanto os animais silvestres se aproximam cada vez mais dos centros urbanos, o desmatamento no Cerrado teve crescimento de pelo menos 50% de 2010 a 2011, de acordo com estudo do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás, divulgado na terça-feira (31) pelo HOJE.

 

“O desmatamento não apenas para o plantio, mas também para o crescimento das cidades, é um dos motivos da migração dos animais para os centros urbanos”, pontua a professora da escola de Veterinária e Zootecnia da UFG Luciana Batalha de Miranda Araújo. Ela faz referência tanto ao desmatamento permitido pela legislação vigente quanto ao ilegal. “Eles ficam sem matas e naturalmente se movimentam mais”, explica. Os primeiros a servir como termômetro para o desequilíbrio ambiental, segundo a professora, são os carnívoros superiores, como as onças. 

 

Luciana explica que a falta de espaço para caçar nas matas faz com que esses animais procurem a periferia destas regiões, apareçam com mais frequência em fazendas e rodovias e cheguem às cidades. A onça-pintada, por exemplo, precisa de mais de 2,5 mil quilômetros quadrados como sua área de caça. “Um grupo de quatro macacos ocupam 40 quilômetros quadrados. Agora, 50 ocupam a mesma área”, exemplifica Luciana Batalha.

 

 Consciência

Nesta época do ano, durante o verão, as chuvas influenciam na vinda dos animais. Já na seca, a preocupação é principalmente quanto às queimadas. “Quem sustenta a fauna é a flora”, explica a professora sobre a perda do espaço natural. “Por mais necessário que seja o impacto humano, de certa forma, acaba voltando para a gente”, assevera. Por outro lado, o aumento no número de animais silvestres capturados no meio urbano, de acordo com o Corpo de Bombeiros, representa também uma maior conscientização ambiental. 

 

“As pessoas estão confiando mais no Corpo de Bombeiros”, explica o assessor de comunicação da corporação, tenente-coronel Martiniano Gondim, sobre outro fator que pode esclarecer o aumento de capturas. Em 2010, foram 1977 animais capturados. Já no ano passado, foram 177 ocorrências a mais, uma média superior a cinco por dia. As cobras são os principais motivos dos chamados, como informou. 

 

Se encontrar algum animal nas proximidades de residência, a orientação da corporação é ligar para o 193, já que somente uma guarnição preparada é que pode retirar o animal do local. Depois ele é encaminhado ao Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama, onde passa por uma triagem. Se não estiver doente, machucado e não apresentar riscos, como as cobras venenosas, eles podem retornar ao ambiente natural. O tempo para isso também depende de cada caso.