Elas estão na chefia dos lares

Elas estão na chefia dos lares

De acordo com levantamento do IBGE, uma em cada quatro residências brasileiras é sustentada por mulheres

 

Quatro em cada dez residências brasileiras são comandadas por mulheres. De acordo com dados do Censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, 11 milhões de mulheres chefiavam seus lares. Apesar de que na maioria das residências a chefia ainda é assumida pelos homens, 61,3%, o número de mulheres que passam a desempenhar esse papel cresce com o decorrer dos anos. Para se ter ideia, em 2010, já eram 22 milhões de mulheres nesta situação. 

Separadas, viúvas, divorciadas, solteiras, mães de família. As mulheres que chefiam seus lares são de todas as cores, classes sociais e estados civis. Divorciada há quatro anos, a goiana Liliane Arrais Limongi, 44, reaprendeu a viver depois que se viu sozinha. Durante o casamento, que durou 22 anos, ela e o ex-marido dividiam as despesas do lar. No entanto, sua realidade mudou quando decidiu sair de casa com apenas uma sacola nas mãos. “Meu padrão de vida caiu muito, mas minha vida começou novamente quando tive que alugar um lugar e comprar tudo de novo”, explica. Hoje, ela vive em Goiânia com a filha Elis, de 23 anos, enquanto o outro filho, Vinicius, 25, estuda em Brasília (DF).

A administradora de empresas conta que sempre trabalhou, inclusive enquanto esteve casada. Para ela, isso foi um fator totalmente positivo, em especial após o término do matrimônio. Hoje, mesmo tendo que arcar com todas as despesas de casa, combustível e mensalidade da pós-graduação que cursa, Liliane se sente uma mulher feliz e realizada. “Fácil nunca foi e nunca é, mas tive que ter muita coragem e muita fé para encarar os obstáculos. Os desafios nos fazem crescer, renascer e redescobrir a vida”, afirma.

Por essas e outras, a chefe de casa garante que assumir o papel que antes era tradicionalmente do homem não é uma tarefa simples. “Há dias em que não durmo à noite ou então acordo preocupada com todas as responsabilidades do cotidiano. Mas as soluções financeiras nós sabemos que sempre se resolvem, mas a infelicidade não. Por isso, a mulher precisa priorizar algo: ser feliz”, destaca Liliane. Ela brinca, dizendo que, ao final da experiência, até emagreceu 20 quilos e comprou uma moto sem ao menos saber como dava a partida. “Virei motoqueira aos 44 anos”, diz, aos risos.

Outra mulher que há anos é quem cuida da casa é a assessora legislativa Ângela Lemes, 47. Formada em Administração, é ela a responsável por pagar as contas de casa, do carro e despesas com a escola dos dois filhos adolescentes. Separada há quase 13 anos, Ângela conta que morou em São Paulo por um tempo, mas depois que os filhos nasceram, voltou para Goiânia. Naquela época, o casamento que durou nove anos chegou ao fim. “A maior dificuldade foi a financeira. Não sou uma pessoa de ficar enxergando dificuldades. O que precisa ser feito, vou lá e faço, porque os obstáculos estão aí para nós encararmos”, destaca.

Para Ângela, é um desafio ser mulher porque, apesar da sociedade ter melhorado neste aspecto, o machismo ainda está presente. Ela lembra que há alguns anos observou que havia preconceito no fato de ela ser separada e mãe solteira. “Hoje em dia superei isso, não sinto mais aquela diferença. Não é fácil tocar tudo sozinha, por isso me apego muito a Deus e aos meus filhos, pois, quando olho para eles, sei que eles dependem de mim, e isso é o que me dá forças”, revela.

Na opinião da assessora legislativa, os estudos não podem nunca ficar para trás. “Acho que a mulher deve buscar profissionalização, formação e se dedicar a uma carreira. Filhos e marido podem sim acontecer, mas caso ela se separe, é preciso ter condições de andar com as próprias pernas.” Ela frisa, ainda, que o casamento é importante, mas acredita que as mulheres não podem ficar reféns dele. 

Outro olhar

O sociólogo Adailton Lopes, mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que o que leva cada vez mais mulheres a se tornarem as chefes de casa é a independência. Para ele, o fato mais marcante é a nova condição da mulher, ou seja, maior escolaridade e inserção no mercado de trabalho. “Esses fatores permitem que ela tenha outras opções além daquelas demarcadas tradicionalmente, como o casamento”, observa. De acordo com o profissional, as conquistas femininas vêm de um processo que ganhou corpo a partir da década de 70, mas que se tornou mais claro nos últimos 20 anos.

Ele ressalta que as mulheres estão procurando com maior intensidade o conhecimento. “É possível perceber isso dentro das universidades e não se trata apenas de uma percepção. Dados numéricos realizados por entidades de educação revelam que são mais mulheres cursando o ensino superior do que homens.” Lopes reforça que após um relacionamento rompido, as mulheres tendem a recomeçar a partir dos estudos. “É justamente isso que vai permitir que elas tenham maior autonomia, ainda mais quando há filhos”, salienta.

O estudioso garante que as dificuldades enfrentadas pelo sexo feminino são muitas. “Mas vale destacar que nem mesmo isso tem impedido que elas continuem a buscar mais conhecimento, ainda que isso exija delas sacrifícios, como, por exemplo, deixar os filhos com parentes”, finaliza.