Seleção polêmica

Diretores goianos criticam lista dos indicados do 14º Fica, que não traz nenhum representante do Estado

Rute Guedes17 de maio de 2012 (quinta-feira)

Com a divulgação dos filmes selecionados para o 14º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás (Fica), na manhã de terça-feira, o júri de seleção provocou uma polêmica inédita no festival. Pela primeira vez, nenhum filme goiano foi selecionado para a mostra competitiva principal e que tem duas categorias de melhor produção goiana, com prêmios de R$ 40 mil para cada vencedor.

Ângelo Lima, um dos realizadores na ativa há mais tempo no Estado, oito vezes selecionado para o festival e ganhador duas vezes do prêmio de melhor produção goiana, considera um “retrocesso” a decisão do júri de seleção presidido por Georgia Cynara. “Este prêmio é resultado de uma batalha de décadas pelo cinema goiano. Também sou da Associação Brasileira de Documentaristas - seção Goiás, que está apoiando essa posição do júri porque alguns membros querem ficar com o prêmio para a própria ABD”, acusa o diretor.

Não acredito que entre 37 filmes goianos não haja quatro que possam concorrer aos troféus. Considero essa atitude desse júri um erro, sinal de pretensão de um grupo de intelectuais ou pseudointelectuais que não sabem fazer cinema”, completa Ângelo. Ele ainda questiona: “Como o mesmo filme que eu inscrevi no Fica, o Céu Vermelho, foi selecionado para um festival na Itália e não é aceito aqui?” Ele questiona ainda a seleção de filmes em outras categorias, como Xingu, indicado para a categoria de melhor longa-metragem, e que já foi exibido comercialmente na cidade.

Premiada na edição de 2010 do Fica, Mariley Carneiro disse que ficou surpresa com o resultado da seleção. “Eu achei muito estranha a decisão do júri de seleção. Se há uma premiação específica, uma janela de exibição e com premiação em dinheiro, não selecionar foi uma agressão à classe”, considera. “Não sei exatamente quais foram os inscritos porque não estou acompanhando de perto, mas achei muita forte esta decisão”, disse a diretora, acrescentando que nesta edição não inscreveu nenhum filme para o festival.

Produtor, realizador e coordenador do programa DocTV Goyaz, João Novaes ressalta que o júri de seleção é soberano, mas condena o que define como uma “falta de visão do que é o festival”. “O Fica é uma grande vitrine para o que é feito em cinema em Goiás. Considero a não seleção de filmes goianos, e nisso eu me incluo, como uma grande perda, uma atitude no mínimo deselegante”, pontua João Novaes.

Ele vai mais além e acredita que isso pode ter consequências perigosas para o cinema goiano e para o próprio festival. “Eu não ter sido selecionado não é o problema, todo realizador, cineasta, está acostumado com isso. A questão é que o Fica foi e é um grande motivador de muita gente. Qual vai ser a consequência disso tudo no futuro?” João Novaes critica também a não seleção de séries de TV. “Trataram este tipo de produção como um lixo, sendo que há ótimo trabalhos no mundo todo feitos para a TV sobre a questão ambiental”, acrescenta.

AMADURECIMENTO

Já o diretor Amarildo Pessoa, premiado duas vezes no festival, considera que a seleção deste ano demonstra um sinal de amadurecimento do júri e do festival. “Por estranho que pareça, o cinema goiano evoluiu bastante, e o Fica foi um grande impulso. Se antes muita gente dizia que ia fazer filme só para participar do Fica, hoje os interesses estão bem mais diversificados. A produção cresceu e com várias temáticas, não só com o viés ambiental, como antigamente”, opina Amarildo.

Para o diretor, a decisão do júri foi corajosa e positiva. “Talvez o Fica pudesse se tornar mais abrangente, aceitando obras que lidem com a questão do homem e a cidade de forma mais livre”, sugere.

O festival, ao contrário do que foi divulgado ontem no POPULAR, será realizado de 26 de junho a 1º de julho, na cidade de Goiás. De 12 de abril a 10 de maio, o júri de seleção assistiu às 362 obras inscritas no Cine Cultura, unidade da Secult. O júri de seleção é composto pela coordenadora do curso de Comunicação Social/Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Geórgia Cynara (presidente); pelo produtor cultural Itamar Borges; pela bióloga e ambientalista Patrícia Mousinho; pelo crítico, curador e programador de festivais Rafael Parrode, e pelo pesquisador, crítico e professor de cinema da UFG Rodrigo Cássio.