“Vantagem de Paulo é por ausência de adversários”

O prefeito Paulo Garcia (PT) até o momento não possui um adversário que consiga mobilizar positivamente o eleitor. A análise é do cientista político, pesquisador e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Pedro Célio Alves Borges. Em entrevista à Tribuna, ele afirma que até o momento Paulo Garcia nada em raia solo. “O nome do Jovair [Arantes, deputado federal] está há mais de um ano em pauta e eles nem sequer se dignam a aceitar. Se eles aceitarem por agora [a entrevista foi concedida na terça, 26, antes de Jovair ter seu nome confirmado como candidato da base aliada do governo estadual à prefeitura de Goiânia (leia na pág. 3), na sexta, 29], não será uma aceitação convicta, empenhada”, ressalta o professor. Até mesmo o Caso Cachoeira deu forças a Paulo Garcia, segundo Pedro Célio, já que eliminou outros concorrentes, como os deputados federais Leonardo Vilela e Sandes Júnior. “O Caso Cachoeira fortaleceu muito a continuidade [reeleição de Paulo Garcia]”, entende. Nem tudo, porém, são flores para o petista. Para o analista, o prefeito ainda não é conhecido do eleitorado goianiense e seu nome sequer está consolidado.


Tribuna do Planalto – Como que o sr. espera a aceitação do eleitorado em relação aos candidatos para a prefeitura em Goiânia depois do escândalo Cachoeira?
Pedro Célio – Essa eleição municipal vai ser vivida de maneira geral de modo parecido com as outras eleições. O Caso Cachoeira, que aponta para um fator de desmobilização que é evidente. Ele reforça o desencanto, o distanciamento, a desilusão com as lideranças, especialmente porque uma liderança promissora, emergente e respeitada como é o (senador) Demóstenes Torres, que foi o primeiro a cair. Agora, eu acredito que os partidos políticos no Brasil e o próprio teor da participação popular nas decisões já estão sedimentadas, institucionalizadas. Assim que começar a campanha eleitoral, novos temas, novas curiosidades, apostas, compromissos e assuntos da cidade vão começar a ganhar terreno.

 Nesse sentido, os políticos vão evitar esse assunto como uma forma autoproteção?
Podemos ver que em todos os lados e partidos, o Caso Cachoeira compromete. Então, eu tenho a impressão que há um pacto, um conluio que é típico do meio político e que dá certo corporativismo. Eles se protegem mutuamente de temas que são tabus.

Com tudo isso que está acontecendo, o sr. acredita que pode haver aumento de voto nulo? 
Poder, pode, é claro. Só estamos especulando sobre o que eles podem realmente causar, mas pode ser uma avalanche na medida em que em conjuga mensalão e caso Cachoeira. Mas eu não sou daqueles que costuma denegrir o voto nulo, pois isso não significa necessariamente que o eleitor que vota nulo é burro ou alienado. Talvez ele vote nulo porque ele seja altamente informado, seja altamente crítico e tenha uma alta capacidade de pensar e agir com autonomia.

O sr. acha que o governador Marconi Perillo será um bom cabo eleitoral em Goiânia?
O governador Marconi Perillo nunca foi um bom cabo eleitoral em Goiânia. Quando ele disputa, tem boa votação e obtém até vitórias, mas quando ele apoia, o pessoal dele não costuma ganhar. A trajetória política da cidade é muito sedimentada pelo PMDB e o governador sempre esteve em lado oposto. Goiânia sempre foi muito emedebista, muito peemedebista, muito Iris. E tem outros fatores também, como o fato de que o governador só pôde consolidar sua liderança regional se aliando com aqueles que foram “adversários históricos” da cidade de Goiânia, que é o pessoal da ditadura militar, da UDN.

O sr. defende a tese de que em Goiânia há uma tendência a se fazer oposição ao governo estadual?
Esse teor oposicionista de Goiânia em relação ao poder estadual pode funcionar em alguns setores da população, mas eu não gosto de adotar isso como regra geral. Uma eleição tem história muito própria e, por isso, é mais bem analisada se observada dentro de sua própria conjuntura em aspectos.

Cada eleição tem sua essência própria. E neste ano, a essência é de continuidade?
É difícil dizer, pois essa eleição está muito contaminada pela conjuntura externa da cidade. O Caso Cachoeira fortaleceu muito a continuidade, mas o caso Cachoeira não é algo típico do que você chama de essência de uma eleição. O fato é que ele fortalece sim a continuidade, pois eliminou os adversários do (prefeito) Paulo Garcia. Por outro lado, o prefeito, como liderança pessoal, não está consolidado ainda e só tem força porque é o prefeito, mas, fora do cargo, ele não tem essa capacidade, pelo menos até agora. Ele é um refém do cargo.

Na próxima eleição para governador, ainda teremos Iris Rezende como candidato do PMDB, já que o Vanderlan deixou o partido?
É mais difícil termos uma certeza, uma afirmação contundente sobre esse tema do que sobre as nossas eleições desse ano. O Iris já padece de um problema do qual ele não pode fugir, que é a idade. Isso envolve saúde e envolve crença popular, na capacidade de fazer. Esse sempre foi o mote do Iris, que é um político empreendedor. É uma pessoa que levanta 4h30 para trabalhar junto com os peões na obra, mas ele já começa a apresentar alguns problemas de saúde. Por isso, em 2014, todos os acordos feitos nesse instante não são estáveis.

Iris Rezende ainda tem força para decidir uma eleição aqui em Goiânia?
Seria uma loucura qualquer pessoa duvidar da força de Iris Rezende aqui em Goiânia. O que se pode questionar é o modo dessa força ser utilizada, ou seja, se isso encaminha para o êxito ou para um desapontamento qualquer. Agora, o prestígio popular dele ainda é revestido de um grande carisma.

A que o sr. atribuiu a vantagem confortável do prefeito Paulo Garcia nas primeiras pesquisas? 
Em primeiro, é por ausência de adversários. Em segundo lugar, pelo fato de o prefeito ter o mérito de conseguir a manutenção da convivência entre PT e PMDB.

O sr. acredita que o Iris e o PMDB são o bastante para garantir a eleição do Paulo Garcia?
De forma alguma. Se ele deitar nesse berço esplêndido, corre o risco de perder a eleição para ele mesmo.

Mas o sr. pensa que o Paulo Garcia acredita nisso, tendo em conta que não se costurou um acordo com Vanderlan Cardoso e a Isaura Lemos, por exemplo?
Eu não penso assim e acredito que o Paulo é muito inteligente para pensar assim. Meu ponto de partida para imaginar isso é que a diversificação de Goiânia e seus eleitores se torna maior do que o campo político. Esse campo não expressa a nervura que a cidade tem, a alma das ruas. O campo político é muito menos representativo dos conflitos e das tendências de ação e compreensão que a cultura política cria junto aos habitantes.

O sr. faz essa análise baseado na parcela da população que não liga muito para política partidária. Mas e os apoios partidários não tem peso para uma eleição?
Tem peso sim. Toda corrente que consegue se organizar e criar uma estrutura de ação institucionalizada acaba criando uma tribuna própria.
Em 2008, houve união em torno do nome do Sandes (Júnior, deputado federal), mas a disputa não foi nem para o segundo turno.
É por isso que cada eleição corresponde a uma determinada conjuntura. Em 2008, foi assim porque o Sandes é fraco? Não, mas porque do outro lado estava o Iris, em reeleição na capital. Foi inglória a tarefa do Sandes naquela eleição.

De acordo com o cenário da última pesquisa Serpes, o Paulo Garcia não consegue chegar a 40% de bom e ótimo na avaliação dele. O governador Marconi Perillo tinha uma avaliação de péssimo e ruim de 50% e passou para 40%. O que esses números podem representar?
Eu acredito que pode ser uma eleição muito fraca. Debate político fraco, qualidade de mobilização fraca e um público disperso por conta dos últimos acontecimentos. Isso, do ponto de vista lógico, nos permite inferir que haverá um aumento no número de abstenções e até de voto nulo, como vocês já falaram. Eu não sei em que grau, porque muitas vezes a campanha eleitoral ganha uma vida própria que anima e que reverte as tendências negativas. 

O sr. acha que o PMDB vai se mobilizar pela campanha do Paulo Garcia?
Eu não tenho dúvida disso. Até porque uma campanha municipal tem uma proeminência visual e de curiosidade imediata que é o prefeito, mas o que dá sangue e que circula são as campanhas de vereador. Sem elas, a candidatura de prefeito não tem pernas próprias. Muitas vezes, o candidato à prefeitura congrega mais recursos materiais e coloca o candidato a vereador na dependência da primeira. Esse é um lado da história, mas, no outro, quem tem contato com o eleitor é o candidato a vereador. Quando um candidato a prefeito passa num bairro, só depois de 15 dias é que ele vai voltar. Nesses 15 dias, ele tem que ter quatro ou cinco candidatos a vereador junto ao comércio, residências, pontos de ônibus e feiras livres.

Há muitas pessoas que analisam que o governador dificilmente terá ambiente para a reeleição em 2014. Há recuperação a imagem dele?
É a mesma questão do Iris para 2014. Embora o Marconi seja de faixa etária diferente, eu vejo mais chance de uma presença ativa do Marconi do que de Iris Rezende. É só perceber o desgaste do governador, que era bem maior uma semana antes da CPMI do que uma semana depois. A performance individual dele foi considerada satisfatória e isso começou a inverter os índices. Tudo é mera especulação ainda.

O prefeito Paulo Garcia ainda não foi testado nas urnas em uma eleição majoritária. O sr. acha que haverá transferência de votos do Iris para o Paulo?
Sim, existe e acredito que uma boa parcela do eleitorado fiel ao Iris deve aceitar a recomendação e votar no Paulo Garcia. O Maluf fez o Pitta, o Quércia fez o Fleury. Quando o Darci Accorsi tinha o maior prestígio eleitoral em Goiânia, ele colocou o Valdi Camarcio. Transferiu muito voto, mas não foi eleito. A transferência de voto é uma realidade.

Jovair Arantes é um dos nomes ventilados. Já foi vice do próprio Darci e é conhecido por negociar com todos os lados. Como o senhor vê a candidatura dele?
Às vezes, a pessoa que tem capacidade para negociar de todos os lados é a grande virtude do político. Para mim, a grande dificuldade do candidato Jovair é a estrutura partidária frágil. Em segundo lugar, é que ele não é tão presente no bloco de estruturação do bloco político fiel ao governador Marconi Perillo, então ele tem dificuldade de crescimento dentro desse próprio bloco. Ele compete com muitos outros ali dentro, mas é um caso que está aí.

Há quem diga dentro da base do governador Marconi Perillo que o Jovair é o único nome capaz de ganhar do Paulo Garcia. O sr. concorda com isso?
Essa é uma opinião da própria base aliada, não há porque eu concordar ou discordar disso. Eu não vejo nenhuma análise hoje que aponte para isso. Para mim, por exclusão, o candidato Paulo Garcia é o preferido nas pesquisas. Faltando poucos dias para o fim do prazo para as convenções, o grupo opositor ao Paulo não tem definição nenhuma. O nome do Jovair está há mais de um ano em pauta e eles nem sequer se dignam a aceitar. Se eles aceitarem por agora, não será uma aceitação convicta, empenhada.

Como o senhor vê hoje os nomes dos empresários Vanderlan Cardoso e Júnior do Friboi para fazer oposição ao governo Marconi? São nomes que podem ganhar a preferencia do eleitor nos próximos dois anos para chegar com força ao governo de Goiás?
Pode sim, é claro. A política está aberta para tudo. A natureza da ação política está se modificando muito no mundo. Nos dois casos citados, o Vanderlan foi uma novidade como administrador de uma prefeitura de uma cidade média aqui da região metropolitana (Senador Canedo), mas hoje não é mais. O Júnior já ameaçou entrar na política algumas vezes, mas parece que dessa vez ele entrou mesmo. Porém, tipologicamente, o empresário não é uma novidade na política, embora todos eles tragam esse discurso de inovação. Portanto, há espaço hoje para novos integrantes. Antigamente, era fechado por causa das ideologias, mas isso mudou.