Escalada para o sucesso


Caminho rumo à fama não é fácil. Mesmo assim, quem sonha em se tornar conhecido não desiste do objetivo, apesar dos “nãos” e das dificuldades. Internet é aliada poderosa nesse percurso. Visibilidade proporcionada pela web pode transformar anônimos em celebridades

 

Foram 19 horas na fila até chegar o grande momento: encarar os jurados do Ídolos, durante a passagem da trupe da Rede Record por Goiânia, em julho. O sono, o sereno e o frio da madrugada, a fome, além da ansiedade, não desanimaram a secretária Cris Car­va­lho (21 anos). Durante a espera, muita música e novos amigos que compartilham o mes­mo sonho: ser um cantor de sucesso. 
A escalada rumo à etapa do programa que ocorre em São Paulo, porém, foi interrompida na quarta das cinco audições realizadas na capital, no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON). “A jurada disse: 'você canta bem, mas já deu'”, relembra Cris, que ficou entre os 50 melhores cantores de Goiás entre cerca de 15 mil inscritos. Lágrimas após a desclassificação!? Que nada! Cris tentou ser forte.
“Foi um pouco de orgulho. Não queria mostrar o quanto a eliminação mexeu comigo”, revela. Mas em casa a história foi outra: a jovem passou a semana toda chorando e preocupou até os pais. Apesar disso, a família tem sido companheira constante nas tentativas da garota em se profissionalizar. Evangélica desde criança, a secretária sonha em figurar entre os grandes nomes do cenário gospel brasileiro e tem como fonte de inspiração a cantora Aline Barros. 
Mas o conflito entre os estilos religioso e secular está presente. Durante as seletivas do Ídolos, uma das produtoras convidou a jovem para conhecer uma gravadora. Com a eliminação, Cris decidiu arriscar e chegou a visitar o profissional responsável pela empresa, mas o contato não vingou. “Vi que não ficaria a vontade cantando músicas seculares, pois acredito que Deus tem outros planos para mim”, justifica, mostrando que também há limites na busca pela fama.

Calouros
Realities shows como o Ídolos tem sido uma via bastante procurada por cantores que desejam gravar o tão sonhado CD. A vedete atual na TV brasileira é o The Voice, exibido nas tardes de domingo pela Rede Globo. Assim como ocorre com Cris, há quem veja o sonho da fama ficar mais distante. Foi o caso do índio Yuri, que emocionou o Brasil cantando a música Sinônimos, da dupla Chiotãozinho e Xororó. 
Sem a aprovação dos jurados, foi desclassificado e teve que voltar para a Aldeia Jatobá, de Tangará da Serra, em Mato Grosso. "Eu não vou desistir do meu sonho de cantar, de trabalhar com música", ressaltou, em entrevista concedida à apresentadora Ana Maria Braga. A visita ao programa matinal é prova da comoção que a passagem do calouro pelo The Voice provocou. Exemplo que o reconhecimento do público pode vir pelas mais variadas vias. 
Para o sociólogo Nildo Viana, professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS/UFG), a busca pela fama é reflexo da competitividade que marca a sociedade atual. Viana lembra que, muitas vezes, quem busca ser conhecido ignora o “lado B” da fama. “Há outros fatores além do reconhecimento, como a solidão e as parcerias fraternais e amorosas com outras pessoas simplesmente para conseguir destaque na mídia”, avalia.

Pé no chão
Para trilhar os caminhos em busca do sucesso sem perder o prumo é preciso sonhar com os pés na chão. É justamente esse pensamento que guia o ator e jornalista Cássio Neves (23). “Quando fui ao Projac, em janeiro, até pensei em deixar tudo e tentar a carreira no Rio, mas percebi que não havia condições”, relembra Neves, referindo-se ao alto custo de vida na cidade, que contrasta com os parcos recebidos por quem faz figuração. 
Na Globo, o jovem esteve em três novelas: foi figurante em Malhação, interpretando o médico Carlos Magno, e ainda gravou participações na reta final da trama do horário das oito, Fina Estampa, e de sua substituta, Avenida Brasil. Atuando desde os 16 anos, enquanto ainda cursava o ensino médio, o jornalista pretende conciliar o trabalho artístico com a rotina de assessor de imprensa na  Federação do Comércio no Estado de Goiás (Fecomércio). 
Mas admite: se surgir uma boa oportunidade para trabalhar como ator, deixaria o Jornalismo. Por outro lado, se a carreira de comunicador deslanchar, ele reconhece que optaria por esse ramo de trabalho. O sonho de sucesso, porém, prossegue nos dois campos. O mesmo pensa a secretária Cris Carvalho, que fez curso técnico de enfermagem e gostaria de ingressar no corpo de Bombeiros ou graduar-se em Medicina. Isso se a gravação do CD não chegar antes.

Redes sociais compartilham informações

Velocidade, interatividade e uso de mídias diversas – textos, fotos e vídeos – são características possibilitam trocas instantâneas e intensas de informações de diversos segmentos por meio da internet. “Para noooooossa alegria”, por meio de um click, informações diversas são compartilhadas. Até a Luiza, aquela que voltou do Canadá, pode aproveitar. “É irado! É dez!”, como canta o menino Nissim Ourfali, no vídeo feito para o ser Bar Mitzvah, hit na web. 
O paulista de apenas 13 anos é, mesmo que involuntariamente, um dos exemplos mais recentes de anônimos que ficaram famosos depois da exposição na web. No caso do adolescente, a passagem para a vida adulta, denominada de  Bar Mitzvah pela cultura judaica, representou também um passo para a fama. Postado no site YouTube, o vídeo teve milhões de acesso e, mesmo depois do link original ter sido retirado pela família de Nissim, continuou circulando na net. 
O clip, uma versão da música What Makes You Beautiful, do grupo One Direction, ganhou fãs pela letra um tanto peculiar, inspirada em um questionário feito com a família do estudante, que recusou todos os pedidos de entrevistas a emissoras e jornais. Em um dos trechos mais comentados, o  menino aparece em cima de uma imagem de uma orca, referência às viagens da família à praia da Baleia, no litoral norte de São Paulo.

Made in Canadá
“Nissim foi para Baleia” já virou bordão e agora se soma a outros memes surgidos na internet, entre eles o “Luiza que foi para a o Canadá”. A paraibana Luiza Rabello (17) já retornou ao Brasil faz tempo e curte os resultados de uma fama instantânea e inesperada. A repercussão nacional ocorreu graças à frase "Menos Luíza, que está no Canadá", dita pelo pai da garota, o colunista social Gerardo Rabello, durante a propaganda de um lançamento imobiliário em João Pessoa. 
Luíza estava no Canadá havia seis meses para intercâmbio. Naquele país, ela estudava o equivalente à segunda série do ensino médio.  O efeito viral foi tremendo. Em poucos dias, a frase ganhou posts nas redes sociais, matérias em jornais e revistas e foi parar na boca de artistas já consagrados, como o cantor Lenine, em comentário durante um show. 
Para prolongar o tempo de fama, Luiza assumiu um blog especializado em moda e variedades e, claro, gravou a segunda parte do vídeo da constrautora paraibana. Ao que parece, não deu muito certo ou você se lembra dessa tal estudante que estava no Canadá? Se a recordação de Luiza está se apagando, sempre há outros para bagunçar o mundo das celebridades instantâneas.

Trio parada dura
Foi desenterrando a música Galhos secos, gravada nos anos 1970 pela banda de rock cristão Exodus, que um vídeo caseiro dos irmãos Jefferson (19) e Suellen (17), ao lado mãe, a auxiliar de limpeza Marinalva Barbosa, se tornou sucesso da internet e deu origem à Família Para Nossa Alegria, nome que faz referência ao refrão da música.
A gravação original, feita na sala da casa da família, foi reproduzida por famosos e anônimos. Entre eles, o cantor Jair Rodrigues, que reuniu os filhos Jair Oliveira e Luciana Mello, além do pagodeiro Thiaguinho, que dublou o trio em vídeo também divulgado na web. A família foi convidada para programas de televisão e acabou conquistando um contrato com uma gravadora. Acaso, destino ou sorte? O fato é que sem querer eles conseguiram, pelo menos um pouco, daquilo que muitos passam a vida toda tentando conseguir: o sucesso.

Fonte: Tribuna do Planalto