‘Sexo é sempre barato, amor é que é caro’

O filósofo Luiz Felipe Pondé estará hoje em Goiânia como convidado conferencista do Café de Ideias do Centro Cultural Oscar Niemeyer, às 19h30. Pondé vai falar sobre O Sexo e o Amor em Tempos Pós-Modernos. O Café de Ideias chega a sua quinta edição com o pernambucano doutor em Filosofia Moderna pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pela Universidade de Tel Aviv. Pondé mora em São Paulo, onde é professor da pós-graduação em ciências da religião da PUC-SP, da Faculdade de Comunicação da FAAP e ainda professor convidado da pós-graduação em ensino das ciências da saúde da Escola Paulista de Medicina. Colunista do jornal Folha de S. Paulo, Pondé é autor de livros como Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, lançado em maio deste ano pela Editora Leia. Ao POPULAR, o autor pincelou sua visão de mundo e adiantou alguns tópicos pelos quais deve enveredar-se no encontro, que tem entrada franca. A conferência também fecha a programação de pós-graduação da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia, da UFG.

 

Nessa era pós-moderna, marcada pelas leis de mercado, nosso principal desafio é o ser. O senhor concorda? O senhor utiliza-se da obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman para reconstruir conceitos importantes nesse campo. Qual a importância do ter?

Sim, concordo. O ter é fundamental e já era ao longo do desenvolvimento da sociedade, mas agora ganhou uma importância radical, e isso é mais claro que nunca. Num momento em que mais pessoas podem ter mais coisas, o ter ganhou mais relevância. Quanto mais se tem democracia de mercado e de política, mais importante é ter e não ser nesse mundo atual. Esse debate continua forte porque é preciso fazer transparecer que a gente não perdeu a alma.


O sexo para satisfação pessoal do homem cada vez mais narcisista de hoje e sua prática como aquisição de bem de consumo serão temas abordados em sua palestra O Sexo e o Amor em Tempos Pós-Modernos, que fará em Goiânia?

Sim. Vou falar de amor e sexo e dessa ideia numa sociedade pós-moderna na qual uma das suas características é a dificuldade de estabelecer vínculos mais duradouros, o que pode ser tão bem exemplificado com o Facebook.


Sexo e tesão estão cada vez mais vistos como descartáveis por muitos jovens. Qual sua opinião sobre as cenas de sexo em público praticadas na cidade de Caldas Novas recentemente? Seria uma tentativa de comprar felicidade instantânea por essas vias?

Eu acho que nunca existiu uma geração tão desinteressada por sexo como agora. Se fala muito em sexo, mas se faz muito mais sexo mecânico agora. Nunca houve uma geração tão brocha como essa, pois se fala muito, se faz propaganda demais do pau ereto. Sabe essas pessoas que falam que têm muito e não têm nada, então, acho que hoje fala-se muito de sexo e se faz cada vez menos.


Por que cada vez mais na pós-modernidade mulheres que se autorrotulam de totalmente independentes da ala masculina ou outras que expõem o corpo da cabeça aos pés e pregam um sexo longe dos rótulos de santas ou de galinhas não estão felizes com seu sexo libertário?

Nunca existiu tanto homem com medo de mulher como hoje. Eu acho que o discurso do sexo livre é sintoma de fome de amor. Sexo é sempre barato, amor é que é caro. Mesmo que custe R$ 3 mil o sexo de uma noite, acho que isso ainda é algo barato. Amor é caro, rima com meses, anos, investimento, com estar ao lado de alguém. Essa ideia que sexo livre é redenção da humanidade é algo de iniciante. Hoje em dia, os caras morrem de medo das mulheres e também as mulheres que transam livremente morrem de medo de ficar sozinhas. As mulheres hoje são tão fáceis que os caras até perdem o interesse. Sabe água que tem aos montes para beber? Quando se vê uma mulher mais difícil... 

O jogo de mostra-esconde de trajes femininos mais comportados foi a marca do vestuário de nossas avós. Mas a nossa avó era pudica e também gostava de sexo...

Sim. Pudor sempre foi acessório da sensualidade. Pegar na cinta-liga era o sonho de todo cara e hoje, na balada, ela é vendida em liquidação. Sabe aquela mulher mistura de santinha com vagabunda que fascinava? Hoje a mulher é vagabunda o tempo inteiro, então isso cansa e ainda gera uma excessiva banalização da relação. A mulher ficou fácil. Uma coisa fatal para o homem não investir na mulher é quando ele acha que ela é fácil, basta isso. Para que ele vai investir se ela já está na mão?


Um comentário recente de uma antropóloga sobre adolescência sexualmente livre e saudável de uma ilha na Polinésia levou muita gente a acreditar que basta deixar as novas gerações transarem muito cedo, desde os 11 anos, para tudo ficar bem. O que acha disso?

Eu acho que isso é bem típico da chamada revolução sexual, isso de achar que se os adolescentes começarem a transar mais cedo eles seriam bem resolvidos. Ser humano bem resolvido é só se ele tiver morto. Adolescentes que transam desde 12 anos nem por isso dão certo com outras pessoas, ou se entendem melhor com elas. Essa tal de revolução até podia funcionar nos velhos tempos de faculdade para pegar as colegas da turma que não transavam. Essa coisa de achar que a liberdade sexual faz a pessoa viver melhor – lógico que é impossível fazer sexo reprimida – é algo de uma inconsistência gritante. Hoje, meninas que começam a dançar na boquinha da garrafa e a fazer sexo na balada nem por isso estão nem um centímetro mais realizadas. Às vezes, quando sabem menos, elas até são mais felizes e não questionam tanto. Acho que essa ilusão que se tem, de se questionar algo tudo ficará melhor, é uma ilusão de juventude.


Por que muitas mulheres ainda pregam a igualdade entre homens e mulheres? O senhor acredita que se essa luta tivesse ficado restrita ao ambiente de trabalho por melhores salários, por exemplo, as relações entre homem e mulher seriam mais felizes?

Acho normal que seja difícil separar as esferas da vida profissional e privada. Quando começa a ter mais mulher trabalhando e uma disputa financeira acho que não tem como separar as esferas. O que eu costumo criticar é aquela crítica de gênero ou ideológica, pois uma mulher pode trabalhar tanto como o cara e também dividir as tarefas domésticas. Critico quando se diz que as pessoas são iguais, quando criticam que o homem que dá presente é machista bem como a mulher que aceitou. No passado a mulher também trabalhava. Ou a caverna era pintada sozinha? O que eu critico é essa coisa de dizer que a mulher tem de ser absolutamente independente e o homem ter de ser sensível. Mulher não gosta de homem muito sensível, mulher gosta de homem seguro, com experiência. Não existe aquela história que mulher gosta de dinheiro, gosta de poder, de segurança. Acho papo furado dizer que mulher e homem são iguais. Não quero dizer que um é mais inteligente que outro, mas que existem diferenças. A mulher vai sempre esperar que o cara se mexa, ela não se importa muito que ele seja sem dinheiro, mas odeia homem parado, que não tenta. A mulher vai esperar que o cara se mexa e dar um tempo para isso. O livro Cinquenta Tons de Cinza faz sucesso na atualidade e gira em torno da história de uma estudante de jornalismo que se apaixona por um cara 15 anos mais velho. Ela descobre que tem prazer em jogos de submissão e deixa muita gente revoltada. O livro está sendo até chamado de pornô light pelas feministas e outros contrários às opiniões dela. Esse livro sobre essa produtora de TV inglesa que fez com que feministas caíssem de pau em cima dela devolveu às mulheres comuns o direito de ter as fantasias sexuais que elas quiserem. Acho que a nova repressão da sexualidade feminina é feminismo. Ele diz como ela tem de ser emancipada, corajosa, independente, dona de si e que não precisa mais de homem. O homem sempre teve de ficar bancando também isso e outras coisas, nem que fosse fingindo poder ou outra coisa que nem sempre foi real.


O senhor eventualmente é chamado de machista. O que entende por esse conceito e o que ensinaria de essencial para um filho homem e para uma filha mulher?

Eu tenho um filho e uma filha. Não uso a palavra machista, pois usava quando queria calar a boca do outro. Eu ensinaria para meu filho o seguinte: trabalhe e aprenda que as mulheres hoje querem muitas coisas ao mesmo tempo. Ensino que nem sempre é possível dar para elas tudo que elas esperam. Elas querem segurança, poder, potência sexual e experiência. Então, digo para ele que não queira fazer de sua mulher sua secretária, mas também não se iluda, pois muito do que se fala da independência feminina quando chega na cama não é verdade. Continue sabendo que, mesmo se ela ganha mais que você, ela vai achar que seu dinheiro tem de ser uma ajudinha cotidiana e, se ela tiver de sustentar o tempo inteiro a casa, ela não vai gostar e nem você também. Não se engane, pois as mulheres não mudaram tanto e não precisa ter medo delas. Para minha filha digo: trabalhe e seja independe. Digo para ela ter sua carreira e investir nela, mas ter cuidado para não exigir demais do cara com que se casar, pois ele pode ficar perdido na sua mão. Cuidado para não jogar em cima dele uma plataforma feminista, pois, no final, vai ficar sozinha e chata.


Um caminho para a felicidade no amor, no sexo e em outros campos seria não ter medo de ser diferente, encarar sem pavor as rugas e não achar que impotência sexual é o fim do mundo?

Veja, eu não acredito que exista fórmula certa. É preciso ter cuidado, pois ser diferente hoje, quando todo mundo tem de ser diferente, pode significar ficar igual a todos. Sabe aquela loja de grife diferente, da qual todo mundo tem uma peça? Então, se ser diferente significa arriscar um pouco na vida afetiva e sexual, isso é interessante. Acho essencial não ter medo das rugas. Às vezes uma ruga no lugar legal dá até tesão. Antes de ficar com medo de impotência, experimente o Viagra, que fez mais pela humanidade que 200 anos de marxismo. Se não funcionar, fique mais espiritualizado.

“Eu acho que nunca existiu uma geração tão desinteressada por sexo como agora. Se fala muito em sexo, mas se faz muito mais sexo mecânico agora. Nunca houve uma geração tão brocha como essa, pois se fala muito, se faz propaganda demais do pau ereto”

Evento: Café de Ideias / Conferência: O Sexo e o Amor em Tempos Pós-Modernos, com Luiz Felipe Pondé/ Data: Hoje, às 19h30 / Local: Auditório Lygia Rassi, Centro de Cultura Oscar Niemeyer (GO-020, km 0, saída para Bela Vista) / Entrada franca

Fonte: O Popular