A falta que faz a qualificação

Cada vez mais cedo as crianças estão indo para a escola. Enquanto cresce a demanda de educandos diminui o número de profissionais qualificados para lidar adequadamente com a primeira infância. 
Essa realidade foi confirmada pelo estudo “A Gestão da Educação Infantil no Brasil”, promovido pela Fundação Victor Civita (FVC) em parceria com a Fundação Carlos Chagas (FCC). A pesquisa analisou 180 escolas públicas municipais e conveniadas de seis capitais brasileiras e teve como objetivo investigar a situação da Educação Infantil no país, incluindo desde a gestão dos diretores das unidades até a formação dos professores que lá atuam.
De acordo com o levantamento, apesar da maioria dos educadores nas redes públicas ser formada em Pedagogia, apenas 35% fizeram alguma especialização específica na área. 
A coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita, Regina Scarpa, acredita que a baixa qualificação dos profissionais é resultado da pouca exigência de formação nesse nível de ensino, que só há bem pouco tempo passou a ser vista com maior propriedade. “A exigência de qualificação dos professores para as creches e pré-escolas é recente no Brasil. Somado a isso, o ingresso do profissional nas escolas da rede conveniada não se dá por concurso público como na rede pública, tornando mais fácil o não cumprimento desta regra”, pontua Regina. 
O problema já começa na formação inicial exigida, onde ainda é grande o número de educadores remanescentes do antigo Magistério. Mais de 37% dos profissionais das escolas privadas ainda contam somente com esse diploma. 
Somado a outros cerca de 5% que não possuem nível superior, quase metade dos professores das instituições privadas alegou ter estudado, no máximo, até o Ensino Médio. Já nas escolas municipais, grande parte (65,2%) concluiu a faculdade, sendo a maioria com o curso de Pedagogia (44%). 
Dentre esses professores, 67% realizaram algum curso de pós-graduação, dos quais somente 34% tiveram como foco a Educação Infantil. Nas unidades conveniadas, a situação é mais séria: 14,3% dos educadores concluíram alguma especialização, sendo quase metade constituída por diplomas de cursos de aperfeiçoamento.

Leigos 
Ivone Garcia Barbosa, doutora em Educação pela Universidade de São Pau­lo (USP) e coordenadora do curso de Especialização em Educação Infantil da Universidade Federal de Goiás (UFG), afirma que existem hoje no Bra­sil cerca de 30 mil leigos atuando na Educação Infantil, sendo 5 mil deles em Goiás. 
Ela ressalta que o aluno é o principal prejudicado por essa falta de qualificação, pois é nesta etapa que a criança tem as suas primeiras lições. “Por uma questão cultural, as pessoas acham que creche só serve para cuidar e não educar. As pessoas não conseguem perceber que cuidado e educação não se separam”, argumenta.
Na opinião da coordenadora, para o governo garantir a universalização do acesso à educação é emergencial capacitar os profissionais. “Até 2016 os municípios terão a obrigatoriedade de matricular crianças de 4 e 5 anos em suas unidades. Mas como garantir esse direito sem pessoas qualificadss para isso?”, questiona.
Para ela, ainda que muitos profissionais sejam dedicados e bem intencionados, a formação acadêmica (e continuada) é fundamental para garantir o devido preparo para aqueles que vão lidar pedagógicamente com as crianças.

Fonte: Tribuna do Planalto