Mortes preocupam secretaria

Número de óbitos em relação a notificações é o maior da história na capital

Goiânia registrou, em 2012, o maior número de mortos por dengue em relação às notificações na série histórica desde 2001. São 22 mortes em 11.430 casos notificados – 1 a cada 520 diagnósticos de dengue. O vírus tipo 1 ainda é o predominante na capital, mas nos últimos casos registrados tem-se notado aumento nas notificações do sorotipo 4, o que evidencia uma possibilidade de surto de dengue para o próximo ano. As mortes e a possibilidade de surto preocupa a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Em números absolutos, com dados registrados até o fim de novembro, as mortes já se igualam a 2009 e estão próximas ao registrado em 2008, com 24 óbitos, ano em que mais se morreu por dengue na capital. No entanto, em 2008, a SMS notificou 23.246 casos da doença, mais que o dobro registrado neste ano. Essa situação levou a SMS a elaborar o Plano Municipal de Contingência para Enfrentamento de Epidemias de Dengue para o período 2012/2013. As premissas do documento são de melhorar prevenção, tratamento e diagnóstico da doença nas unidades municipais de saúde.

A prevenção visa conter o provável surto de notificações da doença para 2013. O caso é possível pelo aumento da proliferação do vírus tipo 4, que ainda é considerado novo na cidade e, por isso, a maior parte da população ainda não é imune a ele. De acordo com a série histórica de notificações da SMS, o surto da doença na capital ocorre sempre que há a introdução de um novo sorotipo.

Em 2002, por exemplo, ocorre a introdução do sorotipo 3, o que elevou o número de casos a 17.279, perante as 5.593 notificações registradas no ano anterior. O surto ocorre apenas durante um ano, com a diminuição no número de casos nos períodos seguintes, pois quem teve a doença se torna imune ao tipo de vírus. Por isso, até 2007 não ocorreram tantos casos quanto em 2002.

A série histórica de notificações da SMS, no entanto, mostra novo surto em 2008, com 23.246 casos, com a introdução do sorotipo 2 na população, que vitimou 24 pessoas. A predominância deste sorotipo durou apenas mais um ano, pois em 2010 ocorreu a introdução do sorotipo 1, responsável por elevar o registro de notificações a 44.187, o maior de toda a série histórica. Até aquele ano ocorreu a predominância da dengue tipo 1. O vírus tipo 4 foi encontrado em novembro do ano passado, em uma paciente de 27 anos, no Setor Estrela Dalva, na Região Noroeste de Goiânia. Nos últimos meses, segundo a SMS, ocorreu aumento nos casos de dengue tipo 4.

Médico epidemiologista e professor do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP/UFG), João Bosco Siqueira Júnior esclarece que não é possível predizer o tempo do ciclo de transmissão mais intensa. “É difícil precisar esse ciclo dos surtos, não há qualquer evidência científica para ele, só sabemos que se relaciona com a predominância de um determinado sorotipo, já que as pessoas ainda não têm contato com esse vírus e por isso há essa ideia”, explica.

A diretora de Vigilância em Saúde da SMS, Flúvia Amorim esclarece que o sorotipo 4 pode causar morte no paciente diagnosticado tardiamente ou com tratamento equivocado. O primeiro trabalho efetivo do Plano Municipal da SMS foi a capacitação de médicos e enfermeiros em Manejo Clínico de Pacientes com Dengue que ocorreu na tarde de ontem. O curso foi ministrado pelo médico infectologista e assessor do Ministério da Saúde (MS), Paulo Abati e pelo médico Rodrigo Said, da Secretaria de Atenção a Saúde do MS.

A expectativa é que os profissionais da rede pública municipal possam diagnosticar com eficácia o paciente com dengue. Outro ponto já divulgado do Plano Municipal é a intensificação do combate ao mosquito Aedes aegypti, o que já tem sido feito nos locais de maior infestação. O médico João Bosco Siqueira Júnior explica que a quantidade de mortos por dengue deveria ser ínfima, já que os métodos de diagnóstico e tratamento são conhecidos. “O que falta é mudar nossas ações. Pelos profissionais, melhorar o diagnóstico e o tratamento; e da população realizar a prevenção que todos conhecem”, relata.

A prevenção, segundo o médico, deveria fazer parte do cotidiano da população, ao fiscalizar a própria residência, limpando calhas e quintais e retirando objetos que possam conter água parada. Estes locais facilitam a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que são hospedeiros do vírus da dengue. Flúvia lembra também que os pacientes não devem se automedicar ao sentir sintomas como febre alta de início súbito e fortes dores de cabeça e no corpo. “O conselho é ir até uma unidade de saúde e ser examinado, pois, caso seja dengue, o tratamento deve ter início imediato.”

 

Situação de alerta para surto

14 de dezembro de 2012 (sexta-feira)

O Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (Liraa) realizado pelo Ministério da Saúde e divulgado em novembro registra Goiânia com o índice de 2,1% – a cada 100 pontos analisados, 2,1 eram focos da doença. O número deixa a cidade em estado de alerta. O índice aceitável pelo Ministério da Saúde é de 1%. O fato faz com que a possibilidade de surto de casos de dengue tipo 4 seja maior em Goiânia.

“Observamos um bom número de casos de tipo 4 em um período curto de tempo, então há a possibilidade de surto em 2013, já que Goiânia está em situação de alerta em relação ao número de focos”, considera a diretora de Vigilância em Saúde da SMS, Flúvia Amorim. Já o diretor de Vigilância em Saúde Ambiental da SMS, Luiz Elias Camargo, salienta que o número é relativo a média de toda a cidade e que, nos bairros de maior infestação, o caso é ainda pior. Setores como Pedro Ludovico, Sul, Parque Atheneu, Centro e Norte Ferroviário têm índices de infestações maiores que a média da cidade e variam de 2,5% a 2,8%.

Fonte: O Popular