Aula prática de diversidade

Estimuladas pela Semana da Consciência Negra, muitas escolas de Goiânia trabalharam temas alusivos à data no mês de novembro. Mas na Escola Municipal Residencial Orlando de Morais, um projeto com foco na diversidade racial, cultural e religiosa foi iniciado bem antes, com o objetivo de aproximar os alunos e quebrar as barreiras estabelecidas pela própria realidade da escola. 
Inaugurada há cerca de um ano, a instituição está situada em um bairro também novo. Os alunos, que chegaram de várias regiões da Capital, não se conheciam e apresentavam certa resistência aos colegas. “Eram crianças de realidades comuns, mas com experiências diferentes. Pensamos, então, numa forma de harmonizar as relações tanto aqui dentro, quanto lá fora”, explica a diretora Maria Dalka de Leles Carvalho.
A ideia se concretizou nos projetos “Valores Humanos: Religião e Respeito à Diversidade Religiosa” e “Africanidade”, ambos com foco no fim do preconceito. Os dois foram trabalhados em sala de aula, no segundo e terceiro bimestres, em todas as disciplinas. 
A proposta principal era fazer com que os alunos esquecessem as pequenas rivalidades e passassem a atuar em conjunto. “Na parte teórica, nós trabalhamos com textos e pesquisas abordando as culturas, religiões e valores, sempre encaixando o tema com o conteúdo tradicional. Nas aulas de Artes, por exemplo, eles confeccionaram artesanato e desenhos”, ressalta a diretora.
A ideia deu tão certo que atraiu a atenção de um grupo de estudantes do curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás (UFG). 
De acordo com Dalka, os universitários mostraram a necessidade de integrar atividades práticas aos projetos. E isso envolvia dança, música e até aulas de capoeira. As atividades desenvolvidas culminaram na Semana da Consciência Negra, onde os estudantes fizeram apresentações do que aprenderam com a experiência. 
As turmas da Educação Infantil realizaram oficinas como a de Maculelê (dança que simula uma luta com bastões), Capoeira e História Cantada, onde os pequenos liam o livro e produziam canções com o enredo.

Ações do cotidiano
Luciana Maria de Moura Melo, coordenadora pedagógica da escola, destaca que, muito embora o projeto tenha tido seu ponto alto na Semana da Consciência Negra, o projeto não foca unicamente a cultura afro-descendente. “As atividades foram pensadas dentro do aspecto da diversidade cultural, e não de forma a privilegiar determinada etnia ou crença. Todas são importantes, e foi isso que quisemos mostrar”, acrescenta. 
Como resultado, a coordenadora afirma que as relações sociais sofreram grandes mudanças. “Há mais respeito em sala e nós conseguimos passar para o aluno o conceito de que ele precisa aceitar as diferenças mantendo sua identidade”, diz.
Para a diretora Maria Dalka, o projeto conseguiu extrapolar seus objetivos. “A teoria abordada em sala mudou a forma como eles veem o mundo. A recreação, por exemplo, é dada de forma completamente diferente. Eles conseguem se organizar socialmente, formam pequenos grupos e interagem mais facilmente”, comemora.
Com todos esses resultados, a intenção é continuar com as atividades no próximo ano, ampliando ainda mais o trabalho. “A ideia é mostrar, no dia a dia, como acontecem as relações, onde estão as diferenças e como superá-las, e não simplesmente repassar o que está nos livros”, resume a diretora.

Fonte: Tribuna do Planalto