Público mais procurado é o que não tem opção cultural

A rede de traficantes de drogas está de olho nos alunos de escolas, principalmente da periferia, por se tratar de um público mais vulnerável, conforme avaliação da pesquisadora da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) do Ministério da Justiça (MJ) Marilúcia Pereira do Lago. Embora considere que o problema também tem desdobramentos em escolas mais centralizadas nas cidades, ela entende que os estudantes tornam-se alvo fácil dos traficantes em meio à ausência de políticas públicas de prevenção. “O público mais assediado é o que tem menos opções culturais, de lazer, artísticas e educativas”, avalia Marilúcia, também professora da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Para a integrante do Fórum Goiano de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas, psicóloga Vera Morfelli, as escolas têm se servido como espaço de exploração do comércio da droga porque também não conseguem fixar a atenção dos alunos, devido ao que chama de modelo ultrapassado de ensino. “Na maioria das vezes, o jovem vai para a escola por obrigação, sem nenhum interesse ou condição financeira”, diz. “Qual a perspectiva de vida de um aluno que está na escola, mas não tem condições de comprar o tênis que a mídia vende?”, questiona, para acrescentar: “A droga está dando para alguns o prazer que a sociedade não consegue oferecer.”

Marilúcia defende um trabalho intersetorial, “que atenda à integralidade dos adolescentes, em fase de desenvolvimento”, numa tentativa de resolver o problema que aumenta cada vez mais na sociedade. Vera Morfelli, por sua vez, também sugere um trabalho articulado. “O tráfico é uma rede sólida e incrível. No governo, somente agora estão começando a perceber que tem de se constituir uma rede, em vez de trabalhar isoladamente”, pontua.

Fonte: O Popular