Goiânia monopoliza médicos

Capital concentra 67% dos profissionais do Estado. Dos 10.651 em atividade, 7.141 estão na principal cidade de Goiás. Sedes de governo detêm a maioria dos doutores no País. Número chega a ser quatro vezes superior ao existente no interior, revela estudo de Conselho Federal

 

Ao contrário do que possa parecer, o Estado de Goiás conta com um número de médicos satisfatório para atender a demanda da população: 10.651 profissionais em todo o Estado, com uma média de 1,73 por mil habitantes, índice considerado acima do ideal pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de um médico para mil pessoas.
Mas, somente na capital, atualmente estão cadastrados no Conselho Regional de Medicina (Cremego) 7.141 médicos, o que corresponde a 67,05% do total no Estado. A Capital também é uma das nove cidades do País com maior número de médicos para cada grupo de mil habitantes, 5,42.
Os dados fazem parte da pesquisa Demográfica Médica No Brasil 2: Cenários e indicadores de distribuição, divulgada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) na última semana, que traça o perfil da população médica brasileira e aponta os motivos da má distribuição de profissionais pelo país: dois a cada mil habitantes.
Em todo o País, a pesquisa mostra que houve um crescimento de 557,7% no número de médicos desde 1970, em parte aumento é justificado pela maior oferta de cursos de medicina e aumento na expectativa de vida da população – a diferença entre saída e entrada na carreira forma um contingente entre 6 mil e 8 mil novos profissionais a cada ano.
As capitais concentram a maioria dos médicos brasileiros. O número chega a ser quatro vezes maior que no interior dos Estados, sendo que nove dessas cidades têm mais de 5 médicos por 1.000. A falta de incentivo de carreira pública e interiorização dos médicos são apontadas como justificativa para permanência nas capitais.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), psiquiatra Salomão Rodrigues Filho, a situação da assistência médica brasileira passa por um momento contraditório em relação ao número de profissionais e de distribuição pelo País, pela falta de uma política brasileira de interiorização do médico.
Segundo Rodrigues, esses profissionais não têm motivação alguma para fixar residência no interior pela falta de estrutura física e equipe multiprofissional. “Como um cirurgião pode trabalhar no interior se não lhe é oferecido um centro cirúrgico, enfermeiros ou técnicos capacitados?”
A não existência de um plano de carreira para os médicos do Sistema Único de Saúde também é citado pelo presidente como justificativa da má distribuição dos profissionais de saúde no Estado.
“Além dos salários serem baixos, o médico não tem nenhuma estabilidade no vínculo com as prefeituras, já que, quando muda o prefeito, há uma troca de profissionais de saúde. Isso eu traduziria com uma simples palavra: insegurança.”
O psiquiatra também adverte para a questão dos gestores públicos não demandarem esforços em criar estrutura adequada em seus municípios (ao invés de manter Casas de Apoio nos grandes centros para transferência de pacientes ) e investir na contratação de médicos.
“Se as prefeituras fizessem concursos públicos, oferecendo estrutura e pagando salários justos, não faltariam profissionais ao interior. O que nenhum médico quer é perder paciente por falta de recursos e arriscar a sua carreira em hospitais que não oferecem condições para assistência médica adequada”, reforça o presidente.
Diretor da Faculdade de Medicina da UFG, professor Vardeli Alves de Moraes afirma que, hoje, não faltam médicos no Estado, mas que esses profissionais, ao se formarem, buscam segurança do ponto de vista hospitalar, o que, em geral, não lhes é oferecido nas cidades menores, além do fator salarial, por não existir uma carreira.
Moraes explica que há uma tendência do profissional se fixar e trabalhar na cidade ou região onde fez sua residência médica. “Essa é a fase que o profissional inicia a sua carreira, e as especialidades mais procuradas, como Cirurgia Plástica, por exemplo, ofertadas nos grandes centros, não são exercidas no interior.”

Números no SUS
A pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) avaliou que o Brasil está próximo de alcançar a marca de 400 mil médicos, atingindo a relação de dois profissionais para cada 1 mil habitantes. 
Ao todo, 55% dos médicos estão vinculados à rede pública, mas esse contingente é insuficiente para atender a demanda de 150 milhões de pessoas que dependem exclusivamente do SUS e garantir melhoria o atendimento – os usuários do SUS contam com quatro vezes menos médicos que os do setor privado.
Se considerado apenas esses profissionais, há 1,11 médico para cada mil habitantes que usam o SUS, bem abaixo da média nacional, que também inclui os médicos que atendem pelo sistema privado.
Mesmo no Distrito Federal, unidade da federação proporcionalmente com mais médicos atendendo pelo SUS, a média é de apenas 1,71 profissional por mil habitantes, quando desconsiderados os médicos da rede privada.
Para psiquiatra Salomão Rodrigues, não só os salários afastam os médicos do Sistema único de Saúde, mas as condições de trabalho e não existência de carreira.
Segundo Rodrigues, o salário mínimo que se pode oferecer ao médico, calculado pela Federação Nacional dos Médicos e Fundação Getúlio Vargas, é de R$ 10.421, por uma jornada de 20 horas semanais. 
“Mas isso não acontece no SUS. Hoje se paga de R$ 3 mil, R$ 4 mil sem nenhuma garantia trabalhista, condições adequadas e segurança para exercer a profissão. E o médico brasileiro está vivendo isso”, ressalta Salomão.

Faculdade não fixa médico no interior

Dentre algumas medidas adotadas pelo governo federal para reduzir as desigualdades regionais em locais de baixa concentração de médicos, o diretor da Faculdade de Medicina da UFG, professor Vardeli Alves de Moraes, chama atenção para duas questões que, para ele, são argumentos incorretos: a abertura de novos cursos e o estímulo à vinda de médicos estrangeiros ou com formação no exterior.
Moraes destaca que é um engano imaginar que o problema é o local onde se faz a graduação ou quantidade de profissionais, argumentando, neste sentido que, além de número suficiente de médicos no Brasil, em geral, os profissionais diplomados no exterior também preferem trabalhar e residir nos grandes centros.
“A abertura de mais escolas e de vagas não basta para reduzir as desigualdades regionais e não significa melhorias no atendimento. Precisamos de um plano de carreira de Estado, capaz de atrair os médicos para áreas de menor cobertura.”
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Salomão Rodrigues Filho, reforça a afirmativa do diretor Vardeli, em relação à abertura de novos cursos, ao afirmar que dos médicos que atuam no Estado, grande parte é formada em outros Estados.
Segundo Rodrigues, em geral, os profissionais formados em Goiânia se dedicam a residências e carreiras em centros maiores, como São Paulo ou Brasília – dentre os médicos goianos, 7.072 homens e 3.455 mulheres com idade média de 44 anos deidade e 18 de profissão.
Quanto à facilitação para revalidação de diploma, o presidente é categórico: “Isso agravaria mais o abismo que existe entre a medicina privada e a pública. Nenhum médico formado no exterior com capacidade, conhecimento tem seu direito negado.”

País terá nova composição da vacina contra a gripe

A vacina contra a gripe com uma nova composição deve chegar ao País até março deste ano. Para a temporada 2013 no He­misfério Sul, a Or­ga­nização Mundial de Saúde (OMS) definiu os seguintes tipos virais: A/Ca­lifórnia/7/2009 (H1N1); A/Vic­to­ria/361/20­11 ­(H3N2) e B/Wis­con­sin/1/2010. Já a va­cina contra a gripe com a composição proposta para o ano passado já não está mais disponível na rede particular.
Segundo o médico sa­nitarista Ricardo Cunha, responsável pelo setor de vacinas do laboratório Atalaia, a vacina contra a gripe é chamada de trivalente por ter em sua composição três cepas virais, sendo duas cepas do tipo A (uma do tipo H1N1 e outra do tipo H3N2) e uma cepa do tipo B. Ele explica que há diferenças entre as composições das vacinas de 2012 e a que estará disponível em 2013. “A principal mudança é quanto à inclusão de novos tipos do H3N2 e do tipo B”, diz o médico. 
Ele explica que a Orga­nização Mundial de Saúde (OMS) se baseia em estudos mundiais sobre a circulação dos tipos virais para definir a composição da vacina, prevendo quais são os vírus que terão maior possibilidade de circular durante a próxima temporada de gripe. “Desta forma são definidas as composições de vacinas para o hemisfério norte e para o hemisfério sul, que podem ou não serem iguais. Assim, a cada ano, a vacina contra a gripe pode ser alterada”. 
A vacinação é recomendada nos meses que antecedem o inverno e durante o próprio inverno, mas pode ser feita em qualquer período do ano. A proteção é eficaz a partir do sétimo dia após a vacinação, atingindo o nível ideal de proteção depois de 14 a 21 dias.

Fonte: Tribuna do Planalto