Ensino Fundamental é só ‘estágio’

De acordo com dados do Minis­tério da Educação (MEC), a licenciatura em Ma­temática registrou em 2011 mais de 82 mil inscritos contra cerca de 3,8 mil alunos que optaram pelo bacharelado.
E a demanda do mercado de trabalho continua grande. Na rede municipal de educação de Goiânia, por exemplo, são 308 educadores lecionando a disciplina. Na estadual, são 5.371. 
Os números são claros. A imensa maioria dos jovens que se gradua em Matemática escolhe as salas de aula como local de trabalho. 
Mais educadores ensinando Mate­mática seria uma notícia animadora não fosse o fato de que a grande maioria procura a rede pública ou particular apenas temporariamente, já que o objetivo final é conquistar uma vaga como professor universitário. 
Um bom exemplo dessa tendência é Wérica Pricylla de Oliveira Valeriano, que terminou o mestrado em Educação em Ciência e Matemática na Universidade Federal de Goiás no final do ano passado e hoje é professora-substituta no Colégio de Aplicação (Cepae) da UFG. 
A intenção dela é ser selecionada como docente em uma universidade ou instituto federal de Ensino Superior. Depois de concluir a licenciatura em Matemática em 2009, ela foi aprovada em um concurso público na rede estadual, onde começou a dar aulas no ano seguinte. 
Seis meses depois, Wérica passou no mestrado e acabou trocando o emprego pela dedicação aos estudos. “Escolhi a graduação de Matemática porque me identificava muito com a área de Exatas. E assim que entrei na faculdade, já tinha uma certeza: queria dar aula”, relembra. 
Wérica sempre atuou na área de pesquisa científica dentro da universidade, o que pode ter ajudado a desenvolver o seu apreço pelo ambiente universitário.Sonho pessoal
De acordo com Jaqueline Araújo Civerdi, coordenadora do Laboratório de Educação em Matemática da UFG (Lemat) e também professora do mestrado, uma das características em comum dos alunos que optam por continuar os estudos e se tornarem docentes das universidades é a experiência que tiveram, ainda na faculdade, com o campo científico.
“Geralmente, os alunos que passaram pela iniciação científica querem continuar no meio acadêmico e optam por se especializar para que possam ingressar numa universidade ou em um instituto”, argumenta.
E embora não seja possível precisar com dados quais são as ambições dos alunos que frequentam o curso de mestrado da UFG, a coordenadora reconhece que a busca por carreiras melhores e maior reconhecimento é sempre um forte argumento. Tanto é que em toda a rede estadual, por exemplo, somente oito são os professores de matemática com Mestrado. Os que possuem Especialização não passam de 21%.
A verdade é que a qualificação profissional, muitas vezes, é mais uma realização pessoal do que profissional. “Tenho colegas que trabalham nas redes de ensino e sabem que o retorno de um mestrado ou doutorado não será grande financeiramente, mas eles ainda assim se esforçam, pois vêem ali satisfação pessoal. É gratificante continuar os estudos e muita gente faz isso sem nenhum estímulo”, pontua Wérica.
Há também aqueles que, ao ter o primeiro contato com a realidade das escolas, sejam elas públicas ou particulares, se decepcionam e decidem ir em busca de oportunidades melhores. 
“Com certeza existem professores que se especializam para continuar atuando no mesmo local, mas é inegável que o reconhecimento e o status de um docente universitário é bem maior”, comenta a jovem professora.

Fonte: Tribuna do Planalto