Dinâmica e plural

Pesquisa sobre a mulher em Goiás, divulgada esta semana, reforça a multiplicidade de papéis exercidos por elas. Esse retrato plural é constatado na promoção do POPULAR que escolheu as 75 Mulheres de Referência do Estado

 

As mulheres goianas estão mais emancipadas, têm maior escolaridade e conquistaram avanços na renda e no campo comportamental. O que já era uma desconfiança do senso comum ganhou comprovação científica com a divulgação, esta semana, da pesquisa Características da Mulher em Goiás, pelo Instituto Mauro Borges (IMB), da Secretaria de Gestão e Planejamento (Segplan). O estudo reflete a pluralidade de representações sociais femininas, constatada na lista das 75 Mulheres de Referência de Goiás, divulgadas em uma revista especial distribuída na edição de ontem do POPULAR. A iniciativa faz parte das comemorações dos 75 anos do jornal e dos 80 de Goiânia.

A pesquisa cruzou dados do IBGE entre o ano 2000 e 2010. O estudo foi elaborado para melhor conhecer os traços demográficos e sociais da mulher de Goiás. Algumas constatações são curiosas, como o fato de elas serem maioria no Estado. De acordo com o Censo 2010, em Goiás as mulheres representam 50,34% de toda a população. São 3.022.161 mulheres, a maioria (91,21%) vivendo nas áreas urbanas e 8,79% na zona rural. Elas também estão mais velhas. A sociedade feminina está deixando de ser majoritariamente infanto-juvenil para se tornar essencialmente adulta.

Elas também estão assumindo novos papéis. Em apenas uma década, cresceu 12,74% o percentual de mulheres que chefiam o domicílio familiar em Goiás, passando de 23,94% para 36,68%. Pelos indicadores da pesquisa, em poucos anos este número deve atingir patamares ainda maiores. Em Goiás, apenas 32% das mulheres declararam ter um marido que é o principal responsável pelo sustento da casa. Já 0,04% são mulheres que dependem de companheiras do mesmo sexo.

Uma das boas notícias é que a escolaridade cresceu e o analfabetismo entre elas diminuiu. Em 2000 havia no Estado mais de 300 mil mulheres com 5 anos ou mais de idade que não sabiam ler ou escrever. Em 2010 foram registradas apenas 240 mil mulheres nesta situação. O analfabetismo feminino, portanto, passou de 13,32% em 2000 para 8,58% em 2010.

Mas as mulheres não estão apenas eliminando o analfabetismo, elas também estão ocupando mais espaço no meio acadêmico. Vale lembrar que, em um passado recente em Goiás, como no resto do País, as mulheres eram, em sua quase totalidade, analfabetas e subordinadas social e juridicamente aos pais e maridos.

“A situação feminina em Goiás hoje não é diferente do resto do País e do mundo. As mulheres são maioria na universidade, no campo da ciência e crescem no comando de grandes corporações”, analisa a professora Denise Paiva, coordenadora do programa de pós-graduação em Ciência Política da UFG. Ao ver a lista das 75 Mulheres de Referência de Goiás, foi fácil constatar a ampliação do leque profissional das goianas nos últimos anos.

MAIS OPORTUNIDADES

O processo que é contínuo se deve principalmente ao aumento da escolaridade e à diversificação das escolhas educacionais, como mostra a pesquisa. Em 1992 a maioria das mulheres (74,7%) tinha até 8 anos de estudo e apenas 16,3% chegavam a 11 anos ou mais de estudo. Em 2011, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mais de 1 milhão de mulheres já tem 11 anos ou mais de estudo, enquanto para os homens o quantitativo de pessoas com 11 anos ou mais de estudo atinge menos de 830 mil habitantes.

No ensino superior, as mulheres predominam em Goiás. Em 1997, para cada 100 homens matriculados no ensino superior, havia 137 mulheres. Em 2009, para cada 100 homens, já eram 160 mulheres. Diferentemente do que ocorria no passado, não é a enfermagem o curso que mais as atrai. Os três cursos mais procurados pelas goianas são ciências da educação (quase 50 mil formadas), administração (27 mil) e direito (22 mil).

No mercado de trabalho, o salto feminino também foi significativo. Em 2000, elas ocupavam 39,18% dos postos de trabalho formal em Goiás. Em 2010, de acordo com o Ministério do Trabalho, já representavam 41,73% dos empregos formais. Mas, apesar de ocupar todos os setores da economia e de ter níveis de escolaridade superiores ao homem, a mulher ainda apresenta ganhos salariais menores que os homens.

No campo comportamental, foi constatado que elas estão casando mais tarde. As mulheres casadas estão majoritariamente no grupo com idades superiores a 30 anos (77,25%), enquanto as solteiras se concentram abaixo dos 26 anos (57,61%). O resultado final da pesquisa mostra que melhorou as condições das goianas nas últimas décadas, mas ainda há bastantes obstáculos a serem superados.

Entre os desafios enfrentados pela mulher em Goiás, como de resto no País, está o de como gerir baixos orçamentos frente ao aumento de sua responsabilidade domiciliar e lidar com a dupla jornada, dentro e fora de casa.

 

Fonte: O Popular