Ondas que geram muito calor!

Forno micro-ondas surgiu por acaso durante experiência de guerra

 

Muitas invenções, hoje essenciais para o nosso dia a dia, surgiram a partir por acaso, fruto de momentos inusitados. Durante os períodos de guerra, por exemplo, muitas foram as descobertas que mais tarde contribuíram para melhorar a vida da população mundial. 
Um ótimo exemplo disso é o forno micro-ondas, que teve sua tecnologia desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial. 
Tudo começou quando a empresa americana Raytheon, especializada em tecnologia bélica, desenvolvia estudos para aprimorar os radares de localização das aeronaves.
Esses equipamentos funcionavam por meio de ondas que “viajavam” pelo espaço e reconheciam o inimigo. Um dia, enquanto o engenheiro eletrônico Percy Spencer trabalhava nos radares, percebeu que o chocolate que trazia no bolso havia derretido. 
Isso fez com que ele deduzisse que aquilo só poderia ter sido um efeito das ondas liberadas pelo aparelho. Estava descoberto o micro-ondas. 
Os primeiros alimentos aquecidos por esse processo foram a pipoca e um ovo cru, que acabou explodindo. Mas se as ondas eram capazes de arrebentar pipocas, por que não aquecer outros alimentos? 
No ano seguinte à descoberta, a Raytheon patenteou a invenção e, em 1.947, apresentou o primeiro forno de micro-ondas do mundo. O Radarange tinha 1,70 m de altura e pesava 340 kg.
Professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), o doutor em Física Márcio Adriano Rodrigues Souza explica que, além de muito grande e pesado, o equipamento tinha uma potência muito forte, tornando-o inviável economicamente. Outra barreira era o preço: custava cerca de 3 mil dólares. 
O Radarange produzia 3.000 watts, aproximadamente três vezes a quantidade de radiação dos fornos de micro-ondas atuais. 
Somente em 1955 seria lançado o primeiro aparelho para uso doméstico, um pouco menor, porém ainda muito caro. E só em 1967, a empresa apresentaria o primeiro micro-ondas com baixa potência e preço acessível (cerca de 500 dólares). “Foi nesse momento que o aparelho, de fato, explodiu e passou a ser utensílio essencial nas cozinhas americanas”, conta Souza.

Agitando a água

Professor de Física da UFG, Márcio Adriano Rodrigues Souza explica que o funcionamento do micro-ondas é bem simples, baseado essencialmente na agitação das moléculas de água. “As micro-ondas interagem com as moléculas de água presentes na matéria. Elas começam a se agitar rapidamente. Essa movimentação cria energia, que gera o calor que aquece os alimentos”, teoriza.
Para que haja calor é preciso que exista água. Por isso algumas vasilhas são próprias para ir ao forno, pois não levaram água em sua confecção. A vasilha não se aquece, mas o alimento sim. 
Por outro lado, objetos metálicos tem o poder de refletir as ondas e podem causar acidentes. “O metal funciona como um espelho que, ao invés de absorver a energia, espalha  a radiação para todos os lados, podendo gerar faíscas”, alerta o professor. 
Uma pequena peça, chamada magnetron, é a responsável por criar essas ondas, que são espalhadas e refletidas em todo o interior do eletrodoméstico. Ao ligar o aparelho na tomada, o magnetron transforma a energia em cargas elétricas oscilantes, que irão criar as pequeninas ondas que atingem o alimento de fora para dentro.
De acordo com Rodrigues, as micro-ondas são bem parecidas com as ondas de luz, só que invisíveis. Por isso, o consumo de alimentos aquecidos no forno não oferece nenhum risco ao ser humano. 
Segundo ele, não fica nada no alimento. “As moléculas simplesmente se agitam. O único cuidado é com o vazamento de ondas, que, em contato com nosso corpo, também composto de água, seria perigoso. Por isso os aparelhos só funcionam se fechados.”

Fonte: Tribuna do Planalto