Cidade de Goiás como pólo universitário: a Ouro Preto dos Goianos

Entre os anos de 1983 e 1986, exerci o cargo de Diretor do Colégio Estadual Professor Alcide Jubé na Cidade de Goiás, ali entre becos, casarões coloniais e quintais, entre igrejas, procissões e santos barrocos, entre empadões e arroz com pequi e claro alfenins vivenciei a história dos personagens da minha terra natal. Neste período pude compreender a relação da comunidade local com desafio de construir uma sociedade onde a falta de empregos, de saúde, moradia, segurança e de  escolas influenciam no cotidiano das famílias.

Já residindo em Goiânia vi com satisfação e orgulho a Cidade de Goiás receber em dezembro de 2001, em Helsinque, na Finlândia, o título de Patrimônio Histórico da Humanidade, uma proposta visionária iniciada pelo ex prefeito  Dr. Valin,  o título faz jus a essa história e também à arquitetura, à cultura e à memória da cidade, o primeiro núcleo urbano fundado no território goiano, no início do século 18. Pensei que este título pudesse trazer na prática benefícios diretos a maioria carente da população, mas uma sucessão de administrações municipais não tiveram a percepção da grandeza deste título e das oportunidades que ele propicia na elaboração de convênios e projetos de captação de recursos junto aos órgãos públicos e privados.

E como bem disso o Articulista João Domingos , em artigo publicado no DM com o título: “Faculdade de Medicina na cidade de Goiás. Por que não?” : “Quase na metade do século passado, a cidade de Goiás sofreu uma estagnação seja no aspecto populacional, educacional, econômico, etc, chegando mesmo a uma retração, a se encolher, em face da mudança da capital para Goiânia, o que levou décadas para ser superado se é que já o foi. Não fosse a sua história, o seu peculiar estilo arquitetônico e suas proeminentes figuras ali nascidas que ajudaram e ainda ajudam a escrever os capítulos da história goiana, talvez fosse ela hoje uma cidade sem qualquer diferencial pois, não obstante esse terrível golpe de se ver privada de ser a sede administrativa e política de um Estado”. Neste mesmo artigo ele enaltece a figura da nossa querida, saudosa e inesquecível Brasilete Caiado, um baluarte incansável pela busca da criação de mais escolas, mais faculdades e até mesmo universidade para Vila Boa.

A Cidade de Goiás hoje aos poucos se solidifica como um pólo educacional, uma das suas vocações que reflete e ajuda na sua economia pelo grande afluxo de estudantes que para lá se mudam e passam a integrar o seu cotidiano de forma integral. A comunidade busca de maneira normal o fortalecimento dessa atividade educacional e hoje ali se acha instalado o Campus da UFG- Cidade de Goiás, a UFG mantém os cursos de bacharelado em Direito e em Serviço Social e de licenciatura e bacharelado em Filosofia, foi criado agora o curso de  Administração oferecido no mesmo campus que tem como principal  objetivo privilegiar a população do Vale do Rio Vermelho, já que não existe o curso na região. O enfoque será a gestão pública e sociocultural. Segundo o diretor do Campus Cidade de Goiás, Gonzalo Armijos, “nos mais de três anos que estou como diretor, tenho visto o impacto social e econômico que significou para a cidade e região a criação desse câmpus, com mais de uma centena de pessoas novas chegando todo ano à cidade para começar seus estudos”, afirma.

A UEG sefaz presente, através da unidade Cora Coralina, localizada na Cidade de Goiás , quetem como público-alvo estudantes da região noroeste do Estado. Atualmente recebe acadêmicos vindos de mais de 26 municípios, tais como: Araguapaz, Anicuns, Buruti de Goiás, Córrego do Ouro, Faina, Goiânia, Goiás, Goiatuba, Guaraíta, Inhumas, Itaberaí, Itaguari, Itapuranga, Itapirapuã, Itauçu, Matrinchâ, Mossâmedes, Mozarlândia, Taquaral e Sanclerlândia. Os cursos oferecidos são :  Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo,  Geografia, História, Letras (Português/Inglês)e Matemática.

Hoje podemos observar um importante movimento pela criação de uma Faculdade de Medicina da Universidade Federal, a vir se somar aos cursos ali já existentes. Uma reivindicação justa e merecida que espero, encontre eco junto às nossas autoridades federais e que redunde em mais esse reconhecimento da importância da nossa querida Cidade de Goiás. Entidades como a Maçonaria e a OAB se inseriram nesta Campanha Pró Criação da Faculdade de Medicina na Cidade de Goiás – GO, somando-se  a mobilização principal da sociedade Vilaboense e região do Vale do Araguaia. A conquista da escola de medicina para a Cidade de Goiás, depende, fundamentalmente, da sua participação no processo. A comunidade precisa comprar esta idéia e estar comprometida com ela. Vejam o exemplo do antes visionário título de Patrimônio da Humanidade.

Atualmente todos os três cursos de Medicina oferecidos no Estado estão localizados em Goiânia – na Universidade Federal de Goiás (UFG) e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) – e na Região Central – no Centro Universitário de Anápolis ( Uni Evangélica), em Rio Verde a FESURV consegui a autorização para o Curso de Medicina. 

Ao anunciar novas regras para cursos de medicina, o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, destacou que o estado de Goiás é um dos locais onde tem poucos cursos de formação para novos médicos. O estado de Goiás é citado como referencia de tratamento médico em várias áreas e tem pólos desenvolvidos como Ceres e Jataí, mesmo assim, existe uma falta muito grande de profissionais nas cidades de Goiânia e Aparecida de Goiânia para atender os usuários do SUS. O Ministério da Educação (MEC) anunciou um novo plano de expansão das universidades brasileiras para ampliar a formação de médicos no país. Serão criadas 2.415 vagas, algumas em cursos já existentes e outros em novos, tanto em universidades públicas como em particulares. Dentre as diversas instituições de ensino superior contempladas pelo programa, destaca-se o Câmpus Jataí da Universidade Federal de Goiás (UFG), que das 270 vagas a serem criadas na região Centro-Oeste, 60 serão alocadas no novo curso de Bacharelado em Medicina a ser criado no Câmpus até o final de 2013.

A abertura de cursos de Medicina encontra regulamentação na Portaria Normativa do MEC nº. 02 de 1º de fevereiro de 2013, que estabelece vários requisitos para a criação.Na Portaria, também consta a quantidade de cursos existentes e de médicos em atuação. O anexo I do documento preconiza que o Estado de Goiás possui 0,51 vagas em curso de Medicina para cada 10.000 habitantes, bem como atualmente, segundo dados da Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação em saúde do Ministério da Saúde há 1,45 médicos para cada 1.000 habitantes. Segundo o Governo Federal, que trabalha no Plano Nacional de Educação Médica, esse número é insuficiente para atender a demanda, principalmente, no interior do Brasil.

Vejo com satisfação o enganjamento da  classe política neste movimento, o  deputado Karlos Cabral (PT) participou de uma audiência na Cidade de Goiás para discutir as possibilidades de instalação do curso de Medicina no campus da Universidade Federal de Goiás –UFG, na antiga capital goiana. A audiência, promovida pelo Movimento Pró- Faculdade de Medicina em Goiás,  foi o primeiro momento de discussão sobre o assunto e reuniu estudantes, professores, pessoas da comunidade, o reitor da UFG , professor Edward Madureira, e a prefeita do município, professora Selma Bastos (PT). Já o deputado Joaquim de Castro (PSD) disse da tribuna  sobre audiência pública na Cidade de Goiás para defender a criação de uma faculdade de Medicina, de acordo com ele, há recursos para a criação de uma policlínica, que serviria como embrião de um futuro hospital-escola.

Volto aos meus tempos de Diretor do Colégio , e lembro do meu sonho de transformar a Cidade de Goiás e uma espécie de Ouro Preto dos Goianos , ela foi a primeira cidade brasileira a ser declarada, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, no ano de 1980. Ouro Preto  se destaca não só pelo valor Histórico, turístico e cultural mas por ser um importante pólo Universitário.

Não se trata da abertura indiscriminada de mais um curso superior, fato repudiado pela sociedade organizada, mas sim, algo que efetivamente se mostra necessário, visto que nessa região do Estado não há sequer uma faculdade que possua tal curso. A criação irá atender a milhares de novos e futuros doutores de uma ampla região de grande importância econômica para o nosso Estado, facilitando a vida de muitos estudantes dos municípios circunvizinhos, sendo que alguns deles, dadas a facilidade e distância, sequer teriam que se mudar de onde hoje vivem. Segundo o Miniastro da Educação: “ há estados com pouca oferta de vagas em cursos de Medicina e profissionais em número insuficiente, embora disponham de hospitais públicos e capacidade para formar médicos”. Mercadante citou Bahia e Goiás como exemplos.

Não será uma luta rápida e nem fácil, entretanto, a boa vontade e o idealismo dos que se dispuseram a essa empreitada com certeza fará a diferença e logo esse objetivo será alcançado.

(Garibaldi Rizzo, arquiteto e urbanista, presidente do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Estado de Goiás)

Fonte: Diário da Manhã